Capa da primeira edição de "Los Angeles: The Architecture of Four Ecologies" (1971). Na capa, o quadro A Bigger Splash (1967), de David Hockney.
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Com um tom otimista e uma narrativa pouco ortodoxa - que varia entre a pesquisa historiográfica, o humor fino e rápido do New Journalism, o tom de manifesto e análises que se assemelham às da geografia urbana -, Banham elabora um retrato de como se deu a urbanização de Los Angeles, intercalado com apreciações sobre arte, arquitetura e sistema de transportes. Os ciclos de desenvolvimento da cidade são apresentados a partir da chegada da ferrovia, da facilidade de transporte, da potência econômica alcançada com a extração de petróleo e do processo de migração em direção à faixa litorânea em busca de lazer até chegar, por fim, no estabelecimento da potência econômica e simbólica da indústria cinematográfica e a implantação e funcionamento do modelo rodoviarista. Além de questões urbanísticas e econômicas, o livro também ficou conhecido por apresentar obras arquitetônicas reconhecidas de arquitetos estrangeiros que fixaram residência nos Estados Unidos.
A admiração de Banham pelos Estados Unidos não era inteiramente nova. Sua primeira visita aconteceu em 1961, a convite de Philip Johnson, para participar de um debate público em Nova York sobre o Estilo Internacional. Seguiram-se então outras viagens regulares para participar de seminários e debates até que, a partir de 1965, após receber uma bolsa da Graham Foundation, o autor passa temporadas mais longas - inclusive em Los Angeles - que resultaram no livro "The Architecture of the Well-Tempered Environment" (1969), publicado dois anos antes de "Los Angeles: A Arquitetura de Quatro Ecologias".
O livro de Banham é frequentemente comparado a "Aprendendo com Las Vegas" (1972). Junto à obra de Venturi, Scott Brown e Izenour, destaca-se pelo interesse no fenômeno urbano das cidades de beira de estrada, pela aproximação com o universo da arte pop e, num sentido mais amplo, pela redefinição da própria noção mais tradicional de forma urbana. Semelhante ao que se deu com o estudo sobre Las Vegas, foi criticado por seu elogio da cidade contemporânea e pela falta de posicionamento crítico. A "Los Angeles" de Banham também costuma ser associada a "Nova York Delirante" (1978), de Rem Koolhaas, e estas três obras formam, assim, um conjunto relevante de manifestos arquitetônicos e urbanísticos da segunda metade do século XX que elegem uma cidade-personagem como tema principal.
Ao longo dos anos, estabeleceu-se como importante obra teórica, passando por novas edições e sendo traduzida para outros idiomas. A primeira edição italiana (Gênova: Costa & Nolan, 1983) conta com um prefácio de Vitorio Gregotti e uma segunda edição foi publicada em 2009, pela Einaudi. Anthony Vidler elabora um prefácio para a segunda edição americana de 2000, republicado em 2009 e incorporado tanto à segunda edição italiana quanto à primeira brasileira. A primeira edição francesa, de 2008, foi elaborada a partir de uma versão atualizada pelo próprio Banham em 1973, na qual, segundo Luc Baboulet (responsável pela tradução), o autor fez pequenas alterações com relação ao original. Em língua portuguesa conta-se com a edição brasileira de 2013, publicada pela Martins Fontes como o primeiro volume da Coleção Cidades, para a qual foi elaborado um prefácio de Ana Luiza Nobre.
BANHAM, Reyner. Los Angeles: the architecture of four ecologies. Londres: Allen Lane The Penguin Press, 1971.
BANHAM, Reyner. Los Angeles: a arquitetura de quatro ecologias. São Paulo: Martins Fontes, 2013. (Coleção Cidades, 1).
ESPERDY, Gabrielle. Banham's America. Places Journal, mar. 2012. Disponível em <placesjournal.org>. Acesso em: 27 set. 2015.
FLORENCE, Luis Ricardo Araujo. Mecanismo e paisagem: Reyner Banham e a América. 2014. Dissertação (Mestrado em Arquitetura e Urbanismo)-Programa de Pós-Graduação em Arquitetura e Urbanismo da FAU-USP, São Paulo, 2014.
WHITELY, Nigel. Reyner Banham: historian of the immediate future. Cambridge; Londres: The MIT Press, 2002.
Reyner Banham, 2013 [1971]:
"Uma cidade de 180 quilômetros quadrados, mas sem profundidade, onde raras áreas têm mais de setenta anos, à exceção de um pequeno centro que ainda não completou dois séculos e outros poucos bolsões de antiguidade: Los Angeles é arquitetura instantânea em uma paisagem urbana instantânea. A maioria dos seus edifícios são as primeiras e únicas estruturas construídas nos lotes; expressa-se uma dúzia de estilos diferentes, em sua maioria importados, explorados e arruinados no prazo de uma geração. Mesmo assim, a forma construída da cidade tem uma qualidade abrangente, coerente e unificada o suficiente para tornar-se objeto de uma monografia histórica." [p. 1]
"Los Angeles volta-se naturalmente para o pôr do sol, que às vezes é deslumbrantemente belo, e deu a um de seus grandes bulevares o nome desse espetáculo vespertino favorito de todos. Mas, embora o olho acompanhe o sol, a migração para o ocidente não pode fazê-lo. É nas praias do Pacífico que o movimento dos jovens rumo a oeste se detém, foi ali que as grandes ondas de migração agrária vindas da Europa e do Meio-Oeste se quebraram em uma espuma de esperanças cumpridas e frustradas. É preciso compreender a força e a natureza desse fluxo para o oeste; é ele que está por trás das diferenças de mentalidade entre Los Angeles e suas metrópoles irmãs, ao norte." [p. 4-5]
"A era do automóvel, a partir de meados da década de 1920, também tendeu a confirmar o padrão estabelecido: a rede de vias expressas que hoje cruza a cidade (que, de lá para cá, acrescentou grandes indústrias aeroespaciais a seu arsenal econômico) segue claramente as primeiras cinco ferrovias que saíam do pueblo. Com efeito, as vias expressas parecem ter fixado a forma canônica e monumental de Los Angeles, como as grandes vias de Sisto V fixaram a Roma barroca ou os Grands Travaux do barão de Haussmann fixaram a Paris da belle époque. Quer sejam encaradas como uma coroa de espinhos ou uma coroa de louros, são as vias expressas que a divindade tutelar da Cidade dos Anjos deve usar na cabeça, e não as coroas de muralhas ostentadas pelas deusas cívicas de antigamente." [p. 16]
"Mais que qualquer outro aspecto da cidade, são as praias que as outras metrópoles devem invejar em Los Angeles. [...] Apesar dessas preocupações, Los Angeles é a maior cidade praiana do mundo; sua rival digna de nota, na verdade, é o Rio de Janeiro (embora as praias oceânicas de Los Angeles sejam preferíveis sob diversos aspectos), e sua única rival potencial talvez seja Perth, na Austrália." [p. 17]
"Este edifício tão insólito e adoravelmente ridículo [o Restaurante Tahitian Village] representa bem o modo pelo qual Los Angeles resume um fenômeno generalizado da vida norte-americana: as convulsões estilísticas que acontecem quando as tradicionais restrições culturais e sociais são derrubadas e substituídas pelas preferências de uma sociedade móvel, afluente e consumista, em que os 'valores culturais' e os símbolos antigos são manipulados antes de tudo como meios de reivindicação e conquista de posição social. Talvez esse processo tenha ido ainda mais longe, digamos, em Las Vegas, mas é no contexto de Los Angeles que todos parecem sentir a mais forte compulsão de discutir essa tendência ao fantástico.
[...] Assim como o Pavilhão de Brighton foi uma paráfrase de Londres da Regência, Las Vegas tem sido uma paráfrase de Los Angeles. E o mais importante: Los Angeles assistiu, neste século, à maior produção de fantasias (como indústria e como instituição) da história da humanidade ocidental. Com Hollywood, Los Angeles nos deu o cinema tal como o conhecemos, e imprimiu sua imagem sobre a nascente indústria televisiva, [...]" [p. 104-105]
BANHAM, Reyner. Los Angeles: a arquitetura de quatro ecologias. São Paulo: Martins Fontes, 2013, grifos do autor. (Coleção Cidades, 1).
"As novas tecnologias da comunicação, declarava [Melvin Webber], de Berkeley, puseram por terra a ultrapassada conexão entre comunidade de propinqüidade: o lugar urbano estava sendo substituído pelo domínio do não-lugar urbano. No início da década seguinte, Reyner Banham escrevia seu ensaio apreciativo sobre Los Angeles; um ano depois, Robert Venturi e Denise Scott Brown publicavam seu célebre exercício sobre iconoclasmo arquitetônico, proclamando corajosamente na sobrecapa: ‘Um significado para a A&P Lotes de Estacionamento, ou Aprendendo com Las Vegas... Tudo Quase Certo com os Cartazes'. As linhas de batalha não podiam estar traçadas com maior clareza: finalmente a costa oeste se posicionara contra as tradições na Europa." [p. 353-354]
HALL, Peter. Cidades do amanhã: uma história intelectual do planejamento e do projeto urbanos no século XX. 1. ed. amp. São Paulo: Perspectiva, 2009, grifo do autor.
"Nesse período de Kulturkampf [luta cultural] na cidade, enquanto Joan Didion destilava seu imaginário mais dispéptico, um visitante, o historiador britânico de design, Reyner Banham, escrevia a primeira celebração séria da cidade desde os tempos dos impulsionadores dos anos 1920. Principal ideólogo do 'Grupo Independente' britânico dos anos 1950 - que deu luz à explosão da Arte Pop dos anos 1960 -, Banham certa vez definiu o pop como um 'pelotão de fuzilamento sem misericórdia ou perdão' contra as tradições das artes hieráticas. Dessa perspectiva, a Califórnia meridional, com sua agressiva vocação para o presente, era uma terra purificada pelo terror exemplar de sua arquitetura. Los Angeles: the Architecture of the Four Ecologies, de 1971, via virtude em quase tudo aquilo que era desdenhado pelos críticos tradicionais, inclusive o automóvel, as pranchas de surfe, as casas de encosta, e algo chamado de 'arquitetura de Los Angeles'. [...] Para garantir que a diretriz básica de seu livro não fosse mal interpretada, Banham fez também um documentário associado para a rede de televisão BBC, Reyner Banham Loves Los Angeles, de 1972.
O efeito causado pela intervenção de Banham foi deveras extraordinário. Apoiado em sua prosa brilhante, assim como pelo novo clima estético disposto a reverter os julgamentos históricos em favor de sensibilidades 'pop' de todos os matizes, Los Angeles: the Architecture of the Four Ecologies tornou-se um marco de transformação na valorização da cidade pela intelligentsia internacional. Adotado internacionalmente como o livro de referência sobre Los Angeles, estabeleceu critérios - vernacular, descentralista e promíscua - que continuam a estruturar as visões do mundo das artes sobre o que está acontecendo na Califórnia ao sul dos Tehachapis. [...]
Embora o alerta amargo de [Peter] Plagens quanto à vinculação ideológica de Banham tenha sido ignorado, os admiradores desse último foram forçados a reconhecer que ele estava enganado em relação a pelo menos um ponto importante. Numa nota sobre o Centro - 'porque isso é tudo que o Centro de Los Angeles merece' - Banham descartou a estratégia de 'recentralização' e depreciou a necessidade de a cidade ter um centro convencional. Dado o imobilismo do Centro no começo dos anos 1970, foi impossível para ele ter uma visão antecipada da corrida imobiliária dos capitais japoneses e canadense nos anos 1980, no contexto das transformações geopolíticas que marcaram época, que fizeram do Centro em 1990 um pólo financeiro que só é menos importante do que Tóquio no anel do Pacífico. [...]" [p. 108-110]
DAVIS, Mike. Cidade de quartzo: escavando o futuro em Los Angeles. [ed. rev.] São Paulo: Boitempo, 2009, grifos do autor.
"[...] Escrito para integrar uma série intitulada 'O arquiteto e a sociedade', organizada pelos historiadores britânicos John Fleming e Hugh Honor (série que incluía o elegante ensaio monográfico de James Ackerman sobre Palladio, entre outros textos), o livro foi pensado, antes de tudo, como um novo tipo de estudo urbano - uma obra que, em vez de identificar um por um os principais monumentos e edifícios históricos de uma cidade, tratava do tecido e da estrutura de uma região urbana como um todo. Nesse esforço, Banham buscou desenvolver uma visão totalmente radical ar arquitetura urbana, visão esta que exerceu grande influência sobre a disciplina da história da arquitetura." [p. XXVII-XXVIII]
"[...] [O] que os críticos haviam encarado como uma abordagem despreocupada de um 'motorista casual' se revela como um todo bem construído, em parte manifesto, em parte neogeografia urbana, em uma junção que constitui um tipo de 'história' completamente particular. Atendendo ao apelo do próprio Banham por um discurso pós-tecnológico, pós-acadêmico e até pós-arquitetônico, o livro se propõe a encarar a cidade tal como ela é, recusando-se resolutamente a ignorar o espraiamento urbano, o caos estético ou a exibição consumista. Em vez de fazer coro com Le Corbusier por uma 'nova arquitetura', o manifesto de Banham prefere sugerir uma visão nova e intransigente, que talvez não veja de imediato o que gostaria de ver, mas que, não obstante, pode ser recompensada por vislumbres de outros temas igualmente satisfatórios e interessantes. Em vez de clamar, com Anton Wagner, por um geourbanismo totalizante, a 'ecologia' criada por Banham lhe proporciona uma estrutura aberta à heterogeneidade no que diz respeito aos temas e pontos de observação." [p. XLI]
VIDLER, Anthony. Prefácio à edição de 2000. Los Angeles: cidade do futuro imediato. In: BANHAM, Reyner. Los Angeles: a arquitetura de quatro ecologias. São Paulo: Martins Fontes, 2013. p. XXV-XLII. (Coleção Cidades, 1).
"Os angelenos tinham bons motivos para proteger seu ambiente. Nos anos 1960, a cidade estava ficando conhecida como uma grande bagunça sem esperança, produto de um século de implantação de infraestrutura como único objetivo, de um desenvolvimento imobiliário que não deu certo e do mau gosto nouveau riche.
Frente a tais críticas, o historiador britânico Reyner Banham sugeriu que arquitetos e planejadores poderiam aprender algo com essa paisagem antiestética. Cansado do plano modernista, Banham defendia o urbanismo espontâneo. Em seu livro de 1971, Los Angeles: A Arquitetura de Quatro Ecologias, ele fez uma homenagem à cidade que passou por muitas tentativas de planejamento que não deram certo [...]"
"Em vez de uma visão urbana inclusiva, a Los Angeles de Banham foi conduzida por interesses competitivos, agências governamentais, grupos influentes e, acima de tudo, indivíduos. Em Los Angeles, Banham viu surgir uma nova sociedade e, junto com ela, uma nova forma de construção. Ele se sentia atraído pelas ‘convulsões estilísticas que emergem quando as tradicionais restrições culturais e sociais são derrubadas e substituídas pelas preferências de uma sociedade móvel, afluente e consumista, na qual ‘valores culturais' e símbolos antigos são manipulados acima de tudo como meios de reivindicar ou estabelecer status'. Banham valorizava esta ação de-baixo-para-cima, que ele chamava de ‘Não-Planejamento', como uma oposição crítica ao modernismo." [p. 12]
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"Angelenos had good reason for protecting their environment. By the 1960s, the city was becoming known as a hopeless mess, the product of a century of infrastructure employed for the bottom-line, of real estate development gone awry, of nouveau riche lack of taste.
In the face of such criticism, British historian Reyner Banham suggested that this antiaesthetic landscape was something that architects and planners could learn from. Fed up with the modernist plan, Banham advocated spontaneous urbanism. In his 1971 Los Angeles: The Architecture of Four Ecologies, he produced an homage to the city after attempts to plan it had failed [...]"
"Instead of a comprehensive urban vision, Banham's Los Angeles was driven by competitive interests, government agencies, pressure groups, and above all, individuals. In Los Angeles, Banham saw a new society emerging and, along with it a new way of making buildings. He was attracted to ‘the convulsions in building style that follow when traditional cultural and social restraints have been overthrown and replaced by the preferences of a mobile, affluent, consumer-oriented society, in which ‘cultural values' and ancient symbols are handled primarily as methods of claiming or establishing status.' Banham valorized this bottom-up action, which he called ‘Non-Plan,' as a critical counter to modernism."
VARNELIS, Kazys. Introduction: networked ecologies. In: VARNELIS, Kazys (Ed.). The infrastructural city: networked ecologies in Los Angeles. Barcelona: Actar, 2008. p. 6-16, grifos do autor, tradução nossa.
"SM: Aprendendo com Las Vegas é um dos livros mais importantes do século passado. Ele foi publicado um ano depois de Los Angeles: A Arquitetura de Quatro Ecologias de Reyner Banham. Em várias ocasiões você falou sobre seu interesse em Los Angeles. Que relação havia entre os dois livros? Ou entre os autores dos dois livros? No final dos anos 1960, você conhecia a obra de Banham?
DSB: Eu o conheci na Inglaterra, mas não muito bem. Ainda que eu fosse uma das poucas pessoas que ele permitia que o chamassem de ‘Peter', e não ‘Reyner' - não sei por quê. Eu mal tinha folheado o livro dele. E ... Estou tentando me lembrar, mas estou velha e minha memória está fraca...
Lembro-me de uma conversa que tivemos em Londres, eu acho. Ele disse: ‘O problema de Peter Smithson é que ele insiste em escrever'. Quando perguntei o que ele queria dizer, ele respondeu: ‘Peter deveria projetar e deixar a escrita para pessoas como eu'.
Depois disto perdemos contato e nos falamos poucas vezes nos Estados Unidos. Mas em 1965, quando eu estava em Los Angeles, escrevi para ele em Londres, dizendo: ‘Vi Las Vegas e quero escrever sobre ela'. Eu perguntei a ele sobre o britânico ‘RIBA Journal'. Eu precisava de cor para ilustrar meus slides dos letreiros de Las Vegas. Eu sabia que o ‘Journal' publicava em cores, então perguntei se ele achava que eles aceitariam um artigo sobre Las Vegas. Ele retrucou: ‘Depois de Tom Wolfe, que tem mais alguma coisa a dizer sobre Las Vegas?'. E o engraçado foi que, poucos meses depois, o texto do próprio Peter sobre Las Vegas foi publicado! E a visão dele sobre a relevância da cidade foi contestada quando Bob e eu visitamos a cidade, em 1966, trabalhamos juntos em dois artigos e num ateliê de pesquisa sobre ela e depois produzimos um livro que vem sendo impresso há quase 40 anos.
SM: De fato, é difícil identificar as aproximações entre você e Banham. Sendo assim, suas pesquisas são semelhantes, mas não interligadas?
DSB: Nem tanto, mas nós compartilhamos a mesma época e, por um tempo, o mesmo lugar - Londres. Ambos estávamos interessados nos Novos Brutalistas e no Independent Group do qual eles faziam parte, no Team 10 e, naquela época, no zeitgeist que gerou esse tipo de pensamento."
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"SM: Learning from Las Vegas is one of the most important books of the past century. It was published one year later than Los Angeles: [the] architecture of four ecologies by Reyner Banham. In many occasions you spoke about your interest in Los Angeles. What relationship was there between the two books? Between the authors of the two books? At the end of the 1960s, did you know Banham's work?
DSB: I knew him in England, but not very well. Yet I was one of the few people he allowed to call him ‘Peter', not ‘Reyner' - I don't know why. I've no more than skimmed his book. And... I'm trying to remember, I'm old and my memories are dim...
I remember a conversation we had in London, I think. He said: «The trouble with Peter Smithson is that he insists on writing». When I asked what he meant, he said: «Peter should do the design and leave the writing to people like me».
Than [sic] we lost touch and I had little contact with him in America. But in 1965, from Los Angeles, I wrote to him in London saying, «I've seen Las Vegas and want to write about it». I questioned him on the British «RIBA Journal». I needed colour to illustrate my slides of the signs of Las Vegas. I knew the «Journal» published in colour, so I asked if he thought they would accept an article on Las Vegas. He replied, «After Tom Wolfe, who has anything more to say about Las Vegas?» That was amusing because a few months later, Peter's own writing on Las Vegas appeared! And his views on the city's relevance were disproved when, in 1966, Bob and I visited it, collaborated on two articles and a Studio on it, and produced a book that has been in print nearly 40 years.
SM: In fact it is hard to verify the contacts between you and Banham. So, your researches are similar but not interconnected?
DSB: Not strongly, but we shared the same era and, for a while, the same place, London. We were both interested in the New Brutalists and the Independent Group that they were part of, in Team 10, and in the times, the zeitgeist, that spawned such thinking."
SCOTT BROWN, Denise; MICHELI, Silva. Interview to Denise Scott Brown. In: GIZMO WEB. Learning from Denise Scott Brown. 13 dez. 2010, grifo das autoras, tradução nossa. Disponível em <http://www.gizmoweb.org/>. Acesso em 25 jun. 2013.
"Como se verá aqui, a visada de Banham se distingue da perspectiva de outros críticos britânicos também emigrados para a América nos anos 1960-70, como Colin Rowe, Kenneth Frampton e Alan Colquhoun. Sensível como poucos ao Oeste americano, Banham introduz aqui abordagem que se mostra ampla o suficiente para integrar à trama histórica e urbanística da cidade a arquitetura dos Eames, de Richard Neutra, Rudolph Schindler, Craig Ellwood, John Lautner, Victor Gruen, Greene & Greene, a fotografia de Ed Ruscha e o Estilo Missões, as vias expressas e os píeres sobre o mar, a carrocinha de cachorro-quente, as Torres de Watts, os carros customizados e as pranchas de surfe. Nesse cruzamento, que se abre simultaneamente em várias direções, Banham se põe como desafio a construção de uma narrativa discursiva capaz de dar conta da paisagem cultural de uma cidade que, sendo em tudo estranha, e até certo ponto refratária para um britânico, se revela altamente estimulante aos seus olhos (e lentes) de historiador-observador, como ele mesmo se define. Impressões pessoais alternam-se, assim, com mapas de infraestrutura urbana (com a indicação de reservatórios de água, ferrovias, ranchos, aeroportos), análises históricas dos padrões de ocupação do solo com descrições de hambúrgueres, considerações sobre a topografia e o clima com trechos das crônicas marcianas de Ray Bradbury, imagens da Disney com definições de tipologias arquitetônicas tipicamente californianas, como o Dingbat." [p. XX]
NOBRE, Ana Luiza. Prefácio à edição brasileira. Cidade diabólica. In: BANHAM, Reyner. Los Angeles: a arquitetura de quatro ecologias. São Paulo: Martins Fontes, 2013, p. XVII-XXIII, grifo da autora. (Coleção Cidades, 1).
"Malgrado a análise de Vidler sobre o livro de Banham ser precisa, falta acrescentar o papel da mudança de postura de Banham como historiador a partir de seu contato na América. Enquanto inglês em seu próprio país, Banham era insider, um narrador de questões da arquitetura no olho do furacão. Praticou o revisionismo crítico do moderno. Enquanto expatriado nos EUA, Banham tornou-se outsider, tomando distância dos objetos e relacionando-os com sua memória do velho continente. Como indica [Nigel] Whiteley, Banham gostava de se considerar um historiador-observador. Sua crítica à bibliografia anterior sobre o movimento moderno, como expõe em seus textos sobre a leitura da Fagus Werk de Gropius, o fez distanciar-se do meio acadêmico paulatinamente. Se Frampton, Vidler e Colquhoun estavam publicando em periódicos acadêmicos como a Oppositions, Assemblage e Perspecta, Banham publicaria em revistas populares como a New Statesman em solo Britânico, e na Scientific American e New Society, nos EUA. Seria um exagero dizer que Banham viraria suas costas para a academia, todavia é fácil perceber quais debates ele queria manter e como isso o afastou do centro do debate da Costa Leste Americana - Princeton, Harvard, Yale e Columbia - e dos demais acadêmicos dessas instituições." [p. 59]
FLORENCE, Luis Ricardo Araujo. Mecanismo e paisagem: Reyner Banham e a América. 2014. Dissertação (Mestrado em Arquitetura e Urbanismo)-Programa de Pós-Graduação em Arquitetura e Urbanismo da FAU-USP, São Paulo, 2014.
"Da multidão de profetas que percorreram o século XX anunciando a cidade do amanhã, destaca-se um grupo que trouxe uma mensagem curiosa: a cidade do futuro já está aí - ela se chama Las Vegas, Nova York ou Los Angeles. Esses profetas do real trabalharam de modo a reduzir o espaço que separa a utopia da realidade, ao ponto de torná-las indiscerníveis. Eles se chamam Venturi, Banham ou Koolhaas e sentem-se em casa neste espaço paradoxal. Mas de qual realidade eles estão falando? Como eles distinguem, no devir do mundo, os supostos lugares que prefiguram nosso próximo estágio e em nome de quê? Por que elevar tal fenômeno à condição de modelo? Enfim, depois de distinguir, no presente, aquilo que está por vir, como apreciá-lo, avaliá-lo, saber se é para melhor ou para pior? Porque a utopia também tem suas Cassandras, ou simplesmente seus céticos. Nossos profetas do real não são nem uma coisa nem outra. Uma forma de pragmatismo seria o melhor modo de descrevê-los, repousados em uma extrema prontidão para detectar aquilo que não tem valor e, em seguida, dar-lhe sentido - direção e significado. Eles reclamam e praticam uma história operativa: sua escrita contribui para transformar o significado da palavra ‘arquitetura' e a extensão de suas prerrogativas disciplinares. [...]" [231-232]
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"De la multitude des prophètes qui parcourent le xxe siècle en annonçant la ville de demain, un groupe se détache qui porte une curieuse nouvelle : la ville future est déja là - elle s'appelle Las Vegas, New York ou Los Angeles. Ces propèetes du réel travaillent à réduire l'espace qui sépare l'utopie de la réalité, jusqu'à les rendre indiscernables. Ils s'appellent Venturi, Banham ou Koolhaas, et ils se sentent chez eux dans cet espace paradoxal. Mais de quelle réalité parlent‑ils ? Comment isole‑t‑on, dans le devenir du monde, les lieux censés préfigurer notre condition prochaine, et au nom de quoi ? Pourquoi élever tel phénomène a l'état de modèle ? Enfin, une fois qu'on a distingué dans le présent la part de l'à‑venir, comment l'apprécier, l'évaluer, savoir si c'est pour le meilleur ou pour le pire ? Car l'utopie a aussi ses Cassandre, ou simplement ses sceptiques. Nos prophètes du réel ne sont ni l'un, ni l'autre. Une forme de pragmatisme serait plus à même de les décrire, qui repose sur une extrême promptitude à repérer ce qui n'existe qu'à peine, et à lui donner sens - direction et signification. Ils réclament et pratiquent donc une histoire opératoire : l'écrire, c'est contribuer à transformer le sens du mot ≪ architecture ≫ et l'étendue de ses prérogatives disciplinaires. [...]"
BABOULET, Luc. Posface par Luc Baboulet. La gloire du banal. In: BANHAM, Reyner. Los Angeles: l'architecture des quatre écologies. Marselha: Parenthèses, 2008. p. 231-240, grifo do autor, tradução nossa.