1959
Paquistão
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Colaborador
Karine Souza
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Em 24 de fevereiro de 1960, Islamabad - a cidade do Islã - é nomeada oficialmente a Nova Capital do Paquistão.
A cidade é dividida em oito zonas básicas: administrativa, enclave diplomático, áreas residenciais, setores educacionais, setores industriais, áreas comerciais, áreas rurais e áreas verdes.
Doxiadis Associates
"Foram muitas as razões pelas quais o Paquistão precisava de uma nova cidade-capital. Durante os primeiros estágios de vida do novo Estado foi natural que Karachi devesse ser selecionado como a capital, desde que ela era uma grande cidade e um centro próximo ao mar e conveniente ao transporte aéreo. Esta não foi, no entanto, uma solução satisfatória do ponto de vista do clima, tradição e as construções existentes, as quais não foram adequadas em número ou para os padrões requeridos para uma capital. O layout e a estrutura da cidade-porto existente não permitia levá-la em função de uma capital moderna. Por outro lado, o influxo de refugiados intensificou os problemas existentes e criou novos problemas.
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Em setembro de 1959, o governo do Paquistão decidiu estabelecer a Comissão da Capital Federal (Federal Capital Comission) para a preparação do Masterplan e programa da nova capital. Simultaneamente, Doxiadis Associates foram apontados como os consultores da Comissão da Capital Federal, que emitiu um número de relatórios em conexão com as pesquisas da existência de condições área da capital.
Seguindo a decisão do governo do Paquistão de confiar a Doxiadis Associates o projeto da nova capital do Paquistão, a primeira equipe de especialistas do consultor chegou em Rawalpindi no início de novembro de 1959 e uma metódica coleção de dados foi iniciada, em colaboração com a Comissão da Capital Federal e especialistas Paquistãos. Outra equipe de especialistas também começou o trabalho em Atenas sob a liderança do Dr. C. A. Doxiadis no estudo e classificação de todos os dados coletados e disponíveis.
Um dos marcos mais importantes na história da capital foi a decisão tomada em 24 de fevereiro de 1960 pelo presidente e o seu Gabinete, de nomear a Nova Capital do Paquistão o nome de ISLAMABAD (a Cidade do Islã). Pode-se considerar que a Nova Capital do Islã nasceu naquele dia.
Muitos relatórios cobrindo todas as facetas dos problemas relatados para a criação da nova Capital de Islamabad foram preparados por Doxiadis Associates. Estes relatórios referiam-se ao tamanho da Capital, o custo de projeto, as instalações necessárias, estradas, transportes em geral, entre outros. Em 24 de maio de 1960, o master plan preliminar de Islamabad e os princípios de planejamento que fariam esta a capital modelo para "Uma Cidade do Futuro", foram apresentados para o Gabinete e aprovado pelo presidente do Paquistão.
Uma autoridade especial, a Autoridade de Desenvolvimento da Capital (Capital Development Authority), que assumiu a partir da Comissão da Capital Federal, foi lançada no Paquistão e mudou o desenvolvimento geral da nova capital. A maior área da capital, a área metropolitana, tem sido planejada para uma população futura de cerca de 2.500.000 de habitantes dentro um período de duas gerações.
Muitos fatores influenciaram a decisão em relação a localização de Islamabad, bem como transportes e comunicações, fatores de interesse nacional, defesa, fatores econômicos, fatores civis, instalações existentes, etc. Depois de um estudo cuidadoso destes fatores, a área atual - representada pelo modelo na primeira página¹ - foi selecionado. A cidade vizinha, Rawalpindi, poderia oferecer à Islamabad considerável ajuda em instalações e iniciais necessidades habitacionais. O aeroporto Chaklala de Rawalpindi ajudará em tranporte aéreo, a barragem Rawal assegurará fornecimento de água, a ferrovia existente as conexões de auto estradas servirão necessidades de comunicação. Todos estes vão contribuir para evitar altos investimentos durante a primeira fase do desenvolvimento de Islamabad.
Jorge E. Hardoy, 1964
Os objetivos visados pelo governo do Paquistão na criação de uma nova capital eram tanto de curto como de longo prazo. No longo prazo, Islamabad (a cidade do islã) tenciona se tornar um símbolo de toda a nação, aliviar o atual congestionamento de Karachi e facilitar o desenvolvimento desta cidade como o principal centro econômico para a renovação de várias cidades do país e para a criação de outras, conforme surgir a necessidade. Em curto prazo, Islamabad se tornará o centro para diversas atividades administrativas atualmente dispersas por todo o país, com consequente ganho na eficiência e na redução dos gastos; o Centro Cultural Nacional e a Universidade Nacional também serão estabelecidos no local. Em poucos anos, Islamabad passará a ser, sem dúvida, o principal centro industrial no norte do Paquistão, dividindo com Rawalpindi, sua cidade gêmea, os vários serviços necessários em uma grande área metropolitana, mas Islamabad terá várias funções de caráter nacional que darão a base para o seu desenvolvimento futuro. Ela acomodará a administração do país e seus membros e abrigará as sedes de organizações públicas e privadas de importância nacional, da própria administração da cidade, de associações profissionais, bancos e outras instituições financeiras, corporações etc., além de ter um centro turístico e o local de residência de representantes estrangeiros.
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Os planejadores de Islamabad consideram que o número de funcionários necessários para a construção civil no final do primeiro estágio de edificação da cidade, isto é, em cinco anos, será de 9 mil pessoas, enquanto a projeção de aumento da população é de 7200 famílias ou 36 mil pessoas. O autor admite que um número não especificado de trabalhadores da construção civil será acrescentado a essas estimativas. É óbvio, portanto, que uma quantidade extra de pessoas terá de vir da população atual de Rawalpindi. Em vinte anos, com a projeção de uma população de 400 mil pessoas, ou 80 mil famílias, haveria 27 mil funcionários públicos.
O plano diretor para a região metropolitana de Islamabad-Rawalpindi prevê uma zona militar com uma área residencial adjacente de cerca de 2 mil hectares; duas áreas industriais cobrindo um total de mil hectares; e duas zonas para armazenagem e outras atividades relacionadas ao mercado atacadista, ocupando 350 hectares; além disso, todas as áreas residenciais incluem extensas zonas reservadas para indústria leve e artesanal, somando provavelmente entre 1500 e 1800 hectares no total. Islamabad, excluindo Rawalpindi, o aeroporto e o grande parque nacional no leste da cidade, tem uma área de cerca de 25 mil hectares, mas se os três distintos planejados da área metropolitana - a própria Islamabad, Rawalpindi e o parque nacional - forem incluídos, somarão 64 mil hectares. Não há dúvida de que Islamabad, por sua situação no norte do Paquistão, está destinada a se tornar um importante centro regional tanto de serviços como de produtos industrializados. Também é natural, tendo em vista o caráter da economia paquistanesa, que haverá uma área significativa ocupada pelos artesãos. Finalmente, a importância estratégica da nova cidade é indicada pelo tamanho da zona militar.
Embora faltem dados ao autor, podemos admitir que os funcionários administrativos, junto com os professores e pesquisadores da Universidade Nacional que chegarem, também representarão proporção substancial da força de trabalho em Islamabad. Sem dúvida, esse grupo de Karachi, em particular, e de outras cidades grandes, mas a construção de uma capital dessas dimensões e com tal variedade de atividades inevitavelmente atrairá pessoas de todas as regiões, principalmente das mais próximas.
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Em Islamabad, a necessidade de uma base econômica mais diversificada foi avaliada com maior clareza. O desenvolvimento industrial nessa cidade foi um tema que recebeu a atenção de seus planejadores, que especificaram a forma com que os pedidos de instalação de indústrias deveriam ser apresentados (à Autoridade de Desenvolvimento da Capital), o tamanho da área construída (de 2 mil metros quadrados a quarenta hectares) e como seria o processo de industrialização da cidade. Os primeiros estabelecimentos são para servir a própria Islamabad e serão principalmente indústrias de material de construção e bens de consumo, com as indústrias artesanais. O desenvolvimento industrial deverá estar de acordo com o desenvolvimento da cidade, e não entregue aos caprichos das empresas privadas; de atrair as indústrias conforme elas forem consideradas necessárias.
As áreas industriais estão espalhadas por toda a cidade, embora as principais fiquem no sul, perto de Rawalpindi; a indústria leve está ligada às áreas ao norte da avenida muree. Outros prováveis ramos de atividade econômica têm sido mencionados em conexão com a força de trabalho. Em resumo, pode-se esperar que Islamabad se torne o principal centro administrativo e cultural da nação, mas ela foi planejada para se desenvolver de forma a gradualmente assumir o status de principal centro comercial do Paquistão, um centro militar, um centro de transportes e uma importante cidade industrial. O autor não encontrou nenhum dado sobre o peso que cada uma dessas atividades terá na economia de Islamabad.
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Que fontes alternativas de investimento tem o Paquistão para as altas somas que terão de ser canalizadas para a construção de Islamabad? Quais as garantias ou, em outras palavras, quais as condições que devem ser criadas em Islamabad e no Paquistão para induzir grupos privados a contribuir, na forma de investimentos diretos ou reaplicações, com quantias que, com esperam os planejadores da cidade, vão exceder dez anos de investimentos públicos e que serão quase cinco vezes maiores do que os investimentos públicos em vinte anos? Acima de tudo, se anteciparmos o que as nações recém-independentes podem querer e se considerarmos quais projetos seriam exequíveis, a criação de uma nova capital em um estágio tão inicial de seu desenvolvimento é a solução para seus problemas políticos e administrativos?
XAVIER, Alberto; KATINSKY, Julio Roberto (Orgs.). Brasília: Antologia Crítica. Face Norte, volume 14. São Paulo: Cosac Naify, 2012. P. p.113-121.