1982
Brasil, Minas Gerais
PublicaçãoIdiomas disponíveis
English
Português
Colaborador
Leandro Cruz (2017)

Apresentação da proposta para concurso Valorização de Pontos Focais em Belo Horizonte e a Participação da População como Elemento Indispensável no Processo de Criação Arquitetônica (1981).

Capa elaborada por Sylvio de Podestá para o catálogo da exposição "Mostra da Arquitetura de Minas". A exposição foi realizada em Belo Horizonte entre 17 e 24 de novembro de 1983, organizada pelo IAB-MG e pela revista Pampulha. Na sequência de imagens: Igreja de São Francisco de Assis (final do séc. XVIII) atribuída a Antônio Francisco Lisboa (o Aleijadinho), Igreja de São Francisco de Assis na Lagoa da Pampulha, em croquis de Oscar Niemeyer, e projeto da Residência Hélio/Joana (1981-82), de Éolo Maia e Sylvio de Podestá.
Citado por: 1
A publicação se deu num momento de consolidação da parceria entre os "três" autores, não apenas na prática projetual (fundindo-se os escritórios MA & A Arquitetos Associados e Sylvio E. de Podestá Arquitetos Associados) como também no trabalho editorial dos periódicos Vão Livre (22 números, entre 1979-1982) e Pampulha (12 números, entre 1979-1984). Coincide, ainda, com um momento de grande divulgação da obra de Éolo Maia e de outros arquitetos mineiros - no mesmo ano da publicação do livro, circula pelo país a Exposição Itinerante Arquitetura Mineira, organizada pelo IAB-MG e pela revista Pampulha, derivada de uma mostra realizada no ano anterior na Escola de Arquitetura da Universidade Federal de Minas Gerais.
Em 1985 os autores publicam uma revisão do livro, com o título "3 Arquitetos: 1980-1985", onde muitos dos projetos da versão anterior já estavam construídos ou com suas obras em andamento, além de apresentar a produção mais recente do grupo. Para esta nova edição foram elaborados textos de apresentação dos autores, precedidos por um ensaio crítico de Ruth Verde Zein. O grupo manteve a atividade editorial com o Jornal 3 Arquitetos, que contou apenas com três edições. Maia e Vasconcellos ainda publicaram o livro "Éolo Maia e Jô Vasconcellos - Arquitetos" em 1995 e, após separar-se do grupo, Sylvio de Podestá mantém escritório e a atividade editorial com o selo AP Cultural.
MAIA, Eolo; VASCONCELLOS, Maria Josefina de; PODESTÁ, Sylvio E. de. 3 arquitetos. Belo Horizonte: Pampulha, 1982.
MAIA, Éolo; VASCONCELLOS, Maria Josefina de; PODESTÁ, Sylvio Emrich de. 3 arquitetos: 1980-1985. Belo Horizonte: Cultura, 1985.
SANTA CECÍLIA, Bruno. Éolo Maia: complexidade e contradição na arquitetura brasileira. Belo Horizonte: Editora UFMG, 2006.
SEGAWA, Hugo. Pós-mineiridade revisitada: Éolo Maia. mdc - mínimo denominador comum, Belo Horizonte, v. 4, p. 18-27, 2007. Disponível em <revistamdc.files.wordpress.com>. Acesso em: 22 out. 2015.
Eolo Maia, Maria Josefina de Vasconcellos e Sylvio E. de Podestá, 1982:
"A publicação deste livro veio da necessidade de registrarmos alguns projetos executados nestes últimos anos. Estes trabalhos, individuais ou em equipe, foram, em sua maioria, feitos no mesmo atelier de trabalho através de um esforço comum.
A nossa intenção básica é que este registro gere uma leitura do trabalho de um grupo de arquitetos que se propõe a abrir uma discussão num momento em que a produção de arquitetura no Brasil e no mundo é questionada.
Existem muitas teses mas poucos projetos práticos. Daí esta amostragem baseada em experiências e soluções peculiares a cada situação, mas que coloca a produção do desenho e da arquitetura em discussão na expectativa de gerar novos caminhos e novas publicações, enriquecendo nossa reflexão crítica." [p. 19]
[Sobre o projeto SEDE DA FAZENDA DO SALTO]
"Ao sermos contratados para a execução do projeto da sede da Fazenda do Salto, tivemos conhecimento, através do proprietário, que ele gostaria de aproveitar todas as pelas de aroeira que havia cortado para executar um outro projeto que agora iríamos substituir. [...]" [p. 53]
"A simplicidade da planta e suas características lembram a distribuição interna da arquitetura bandeirista do início do século XVIII. Pequenas torres evocam capelas do interior e das propostas racionalistas de Aldo Rossi. A informação e o ecletismo consciente de uma arquitetura pós-modernista." [p. 54]
[Sobre a proposta para concurso VALORIZAÇÃO DE PONTOS FOCAIS EM BELO HORIZONTE E A PARTICIPAÇÃO DA POPULAÇÃO COMO ELEMENTO INDISPENSÁVEL NO PROCESO DE CRIAÇÃO ARQUITETÔNICA]
"A finalidade do presente trabalho é a de propor uma política de planejamento com ideais democráticos evitando-se a perigosa e autoritária tendência do atual planejamento urbano do país." [p. 61]
"Uma das características principais da geografia urbana em Belo Horizonte é a sua topografia acidentada. O sítio geográfico apresenta alguns pontos focais fortes que são naturalmente marcos de referência dentro da paisagem da cidade.
Destes pontos se descortinam vistas muito amplas da cidade, o que vem se tornando um valor disputado e geralmente apropriado pelas populações de maior renda e maior poder de competição. Há portanto um processo de privatização destas vistas, que são um patrimônio cênico e paisagístico que deveria ser usufruído por toda a cidade." [p. 61]
"Os projetos e obras para o aproveitamento destes pontos poderiam ser mínimos, exigindo pequenos investimentos, com grande retorno em termos de benefícios à população de bairros densamente povoados e com baixo índice de áreas verdes e de lazer." [p. 62]
[Sobre o projeto SEIS CASAS A BAIXO CUSTO]
"O problema habitacional no país é um dos principais obstáculos de se dar maior dignidade ao ser humano. A política oficial de habitação ou o Banco Nacional de Habitação, órgão encarregado de executar o programa para suprir o déficit anual de habitações, é duramente criticado pelos arquitetos brasileiros.
Este programa é combatido pela não participação dos arquitetos, pela falta de criatividade e objetividade das propostas e soluções oficiais, considerando o ser humano como um mero algarismo sem sentimentos." [p. 141]
"Este trabalho apresentado é uma proposta pequena, um grupo habitacional de 6 (seis) residências, para operários de uma firma de prospecção geológica (o salário mensal de cada família é de 180 dólares)." [p. 141]
"A proposta numa escala maior, obteria maiores resultados sociais. Os moradores vizinhos, entusiasmados com as cores alegres do pequeno conjunto, pintaram suas casas ampliando, pelo menos do ponto de vista cromático, a proposta do arquiteto." [p. 142]
Juan Carlos di Filippo, 1982:
"A edição deste livro e a ocasião de comentar em caráter introdutório, os aspectos mais significativos da obra dos arquitetos Éolo Maia, Maria Josefina de Vasconcellos e Sylvio Emrich de Podestá, constituem uma excelente oportunidade para contribuir com o conhecimento e debate de uma significativa parcela de idéias e projetos desenvolvidos ao longo dos últimos 15 anos.
O interesse constante na divulgação do próprio fazer dos colegas, constitui rasgo marcante do grupo e, principalmente do Éolo, que ao longo de sua carreira profissional não poupou esforços no sentido de ampliar os estreitos limites que entre nós caracterizam a discurssão [sic] e a crítica de arquitetura." [p. 9]
"Este trabalho, produzido integralmente após a consolidação da experiência em Brasília, sintetiza algumas características típicas da produção deste período, durante o qual, o sentido unitário da arquitetura moderna brasileira, vigente nas décadas de 40 e 50 cede terreno à descoberta de outros caminhos e de outras tendências na arquitetura." [p. 9]
Éolo Maia, Maria Josefina de Vasconcellos e Sylvio Emrich de Podestá, 1985:
"Editar arquitetura no Brasil (ainda) é uma necessidade louca. E para sofrimento nosso, heróica. Mas as experiências vividas na revista Pampulha, no primeiro 3 Arquitetos, nos levaram a acreditar que vivemos longos e emocionantes anos no fazer editorial." [p. 13]
"O observar da arquitetura dentro de uma visão crítica, na tentativa de se obter a síntese desses fragmentos temporais.
Obter esses fragmentos, recriá-los e projetá-los para o futuro sugere conceituações contextualistas, pluralistas, pós-modernistas. Sugere que o desenho de um edifício ou a feitura de um planejamento deve levar em consideração o seu contexto físico e cultural, contraria a estética moderna orientada por parâmetros pre-estabelecidos onde o objeto arquitetônico adquire, como expressão principal, a unção interna, seus processos estruturais e a glória do autor.
O contextualismo reencontra o edifício com a rua, o planejamento com a cidade." [p. 13]
"A arquitetura moderna nos ensinou a deixar a tradição e grande parte da produção arquitetômica dos anos 50 e 60 foi triste e individualista.
Isto nos ensina a romper com a arte moderna. Adotar posturas bastante amplas e complexas, novos rumos com novas expressões arquitetônicas, uma contínua recolocação de valores, em detrimento dos da sociedade moderna deste fim de século." [p. 14]
Ruth Verde Zein, 1985:
"Seguindo um raciocínio de Merleau-Ponty, é necessário modificar a habitual classificação dos homens e das sociedades segundo se aproximem ou não de uma determinada utopia, porque tais entidades negativas não poderão servir para pensar a sociedade e o homem existentes, e principalmente compreender bem o funcionamento de suas contradições. Para ele, ‘o homem sadio não é tanto aquele que eliminou de si mesmo as contradições mas sim aquele que as utiliza arrastando-as em seu trabalho vital.'
Talvez se possa dizer o mesmo da arquitetura: em vez de medi-la segundo sua conformidade ou não com o ideal de uma sociedade sem conflitos - geralmente concebida segundo parâmetros exclusivamente econômicos -, ou entende-la como manifestação artística histórica, há que se trabalhar um sentido que não esteja nem totalmente fora nem meramente dentro dela. E isso é possivelmente mais simples na arquitetura do que em outras manifestações criativas, como a pintura, por exemplo, por seu caráter iniludivelmente utilitário." [p. 12]
"[...] Apenas, usando a terminologia acima, penso que produzem uma arquitetura extremamente sadia, inclusive porque se dão ao direito de acertar e errar, mas não se permitem cristalizar no mesmo, ou deitar sobre os louros vãos desta ou daquela solução mais feliz; e porque neles o mistério não está camuflado por pretensas explicações objetivistas, mas assume a dimensão subjetiva que lhe é própria." [p. 12]
Bruno Santa Cecília, 2006:
"No ano de 1981, Éolo Maia, Jô Vasconcellos e Sylvio de Podestá efetivaram uma profícua parceria, iniciada na publicação das revistas Vão Livre e Pampulha, no final da década anterior. Essa parceria ficou conhecida como Três Arquitetos, nome dado ao escritório.
As obras de Éolo nesse período procuravam combater diretamente as formas e os princípios estruturais da arquitetura moderna em favor da liberdade de criação, inaugurando as manifestações arquitetônicas pós-modernas em Minas Gerais e no Brasil.
Desde a Residência Marcos Bicalho (1980), já se podia perceber uma mudança de atitude do arquiteto ao privilegiar a autonomia da composição plástica do edifício em relação às demandas técnicas e funcionais. Nessa residência, a complexidade formal provinha da variação do perímetro do pavimento sob o prisma triangular elevado e do regime de aberturas e não mais corresponderem diretamente às necessidades do programa.
A partir daí, observa-se que as referências a Kahn e aos demais mestres modernos dão lugar ao trabalho que privilegia as formas puras e geométricas, às composições simétricas, à utilização de materiais e elementos regionais e às citações e colagens tomadas de outras arquiteturas. Os projetos seguintes passam a espelhar as idéias e formas presentes nas obras de Robert Venturi, Aldo Rossi e James Stirling, entre outros arquitetos em evidência naquela época." [p. 40]
"A experiência editorial de Vão Livre e Pampulha foi, sem dúvida, a grande catalisadora da crítica de vanguarda e, posteriormente, da arquitetura pós-moderna em Minas Gerais e no Brasil. Constituiu o campo ideal para um profícuo debate arquitetônico, que se fazia necessário em uma época de cerceamento da liberdade de expressão. Sua relevância ainda pode ser atentada pela presença ativa dos arquitetos mineiros de maior destaque, nos anos 1990, no expediente da revista, então jovens profissionais.
Para Éolo Maia, essa experiência também motivou a publicação de outros trabalhos, como os livros 3 Arquitetos e 3 Arquitetos (1980-1985), além do jornal homônimo que veiculou em três edições, como um informativo do escritório que o arquiteto mantinha com Jô Vasconcellos e Sylvio de Podestá. Em meados dos anos 1990, após o fim da parceria com Podestá, Éolo ainda publicou o volume Éolo Maia & Jô Vasconcellos - Arquitetos, onde apresentava alguns dos projetos de maior destaque de sua produção recente." [p. 53-54]
Hugo Segawa, 2007:
"A aglutinação em torno da revista permitiu a organização de uma exposição itinerante de Arquitetura Mineira da Revista Pampulha em 1982. Ano de intensa atividade de divulgação, em especial, para Éolo Maia, cuja obra se viu na Exposição de Arquitetura Latino-americana que circulou por Berlim, Sevilha e Roma e em uma exposição individual com direito a palestra no Instituto de Arquitetos do Brasil em Niterói. Por fim, a publicação do livro 3 Arquitetos - Éolo Maia, Maria Josefina de Vasconcellos e Sylvio E. de Podestá, coroava o esforço de diálogo da nova arquitetura mineira com o resto do Brasil." [p. 19]
"Tenho como o primeiro ensaio sobre a emergente arquitetura mineira o escrito de Mauro Neves Nogueira publicado num subproduto da revista Projeto, o Anuário de Materiais e Serviços de 1984. Em 'A nova arquitetura de Minas Gerais', Nogueira acusava o recebimento das várias iniciativas mineiras que alcançaram o Rio de Janeiro em 1982/83. Pode-se dizer que a simpatia de Nogueira pelos mineiros derivava de um proselitismo comum por mudanças no panorama vigente da arquitetura brasileira, mas por outra vertente - a promovida por Luiz Paulo Conde. Bem como o compartilhamento das pranchetas do escritório de Conde com o arquiteto argentino Juan Carlos Di Filippo, cuja cumplicidade com os mineiros o fez assinar a apresentação de 3 Arquitetos. [...]" [p. 19-20]
Sylvia Ficher, 2007:
"E pra nós o Pós-Modernismo poderia ter trazido este gênero de liberação, que é uma das questões que coloco no meu texto e que é central, sem dúvida, na década de setenta. A opção pós-modernista foi um "Ufa! Que bom, chega dessa chatice de Modernismo!", o que é mais ou menos a mesma coisa que o "Less is a bore", do Venturi. Saiu-se daquelas cadeias, daquelas amarras do Modernismo, e se deu espaço para, por exemplo, uma brincadeira como a Praça Itália, do [Charles] Moore. E deu lugar para uma coisa horrorosa como o prédio da AT&T, do Philip Johnson - era horroroso no desenho e ao vivo e a cores é pior; é um desastre, Nova York não merece aquilo, Nova York tem arranha-céus belíssimos. Então um espaço para um historicismo criativo, no Brasil isto definitivamente não aconteceu. Tem um exemplo aqui e acolá, como o Elvin Dubugras em Brasília, o Éolo Maia, o Podestá, o Gustavo [Penna] em Belô, mas não seriam os únicos, tem outros." [p. 12]
Sylvio de Podestá:
"Com o fim da Revista Pampulha ficamos desamparados. O vírus do papel impresso se alastrava causando desconforto ao escritório dos 3A. 3A? Sim, no início da década de 80 lançamos um pequeno livro [...] chamado 3 Arquitetos. Quadradinho, capa branca, P&B e com um pequeno caderno no final, à cores (forma de baratear, na época, as publicações). Este livrinho registrava o início da parceria entre Éolo Maia, Maria Josefina Vasconcellos (Jô Vasconcellos) e eu - 3Arquitetos era como nome fantasia do grupo.
Já nesta época diziam ser uma cópia do livro branco dos Five Architects, mas isto conto depois. Para saciar o tal vírus resolvemos lançar um informativo do escritório que pretendia dizer sobre todos os acontecimentos ligados às nossas atividades, inclusive extras. [...]"