Guy Debord
Guy Debord nasceu em Paris em 29 de dezembro de 1931. Em 1950 Debord iniciou sua associação com a Internacional Letrista, sendo conduzido por Isidore Isou neste período. Os letristas estavam tratando de fundir poesia e música, e estavam interessados em transformar a paisagem urbana. Em 1953 traçaram o que fora chamado de mapa "psicogeográfico" de Paris andando pela cidade numa livre-associação. Textos sobre esta atividade foram primeiro publicados em Potlatch* em 1955 e 1956, em ensaios intitulados "Detournement" e "Teoria da Deriva".
Em 1957 a Internacional Letrista se juntou a outro movimento artístico de vanguarda, chamado Movimento por uma Bauhaus Imaginista, para formar a Internacional Situacionista (IS), e fundaram uma revista de mesmo nome. Debord se auto proclamava líder da IS, e via-se como o responsável para manter os ideais do grupo. Teve um maior comprometimento em unificar a prática Situacionista, mas também impediu sua expansão em áreas que considerava equivocadas onde esta expansão minaria seus próprios objetivos.
Os membros originais da IS eram intelectuais parisienses e artistas que haviam sido influenciados pelo Dada e pelo Surrealismo, o grupo nunca teve mais que uma dúzia de membros. Os componentes eram rapidamente admitidos e expulsos, e por volta de 1963 todos os membros originais já haviam deixado ou sido expulsos do grupo, incluindo Asger Jorn, um dos mais ativos. No início o movimento a IS tinha como objetivo transgredir o limite que separa a arte e a cultura do cotidiano e fazer com que elas fizessem parte da vida comum. Defendiam a idéia de que o capitalismo tem efeito de desvio e é faculdade criadora sufocante, dividindo o corpo social em produtores e consumidores, ou atores e espectadores.
A IS acreditava que a arte e a poesia devessem ser vistas como uma produção de todos as pessoas, esse era o modo de fazer a arte ser generalizada e não restrita a um pequeno grupo de homens ligados ao poder dominante.
Lutavam a favor do divertimento geral e eram contra o trabalho. Em 1962 eles chegaram a criticar todos os aspectos da sociedade capitalista, já não se limitando mais à arte e acultura.
Foram inspirados pela história do movimento anarquista, e se voltavam a Primeira Internacional, Espanha, Kronstadt e Makhonovistas em suas pesquisas. Acusavam a União Soviética de iniciar um "capitalismo burocrático", e advogavam pelos conselhos de trabalhadores. Retiveram, entretanto, elementos marxistas e nunca se identificaram como inteiramente anárquicos.
Em 1967 Debord publicou a Sociedade do Espetáculo, seu maior trabalho. No livro ele toma a posição de que o espetáculo, ou a dominação da vida por imagens, se tornara mais forte que todas as outras formas de dominação. Ele ataca o trabalho assalariado e a produção de produtos, tal como todas as formas de hierarquização na elaboração da Teoria Situacionista.
Escreveu que o espetáculo é acumulação de capital a tal grau que se transforma em uma imagem e que as imagens são a moeda da sociedade contemporânea. A Sociedade do Espetáculo teve forte influência na rebelião dos estudantes em 1968. Muitas citações foram tomadas do texto para transformar-se em grafites nos muros parisienses. Em 1973, Debord realizou uma versão em película da Sociedade do Espetáculo e em 1989 ele atualizou seu texto nos Comentários da Sociedade do Espetáculo.
A análise de que a vida estaria reduzida a um espetáculo, como resultado de todas as relações que se tornam transacionais na sociedade capitalista, pode ser considerada como reedição do trabalho antecipado por Marx na alienação. A adição Situacionista a esta teoria é o reconhecimento de uma "pseudo-necessidade", criada pelo capitalismo para assegurar continuamente o consumo aumentado. Comutaram a consciência de sua determinação no ponto da produção ao ponto do consumo, vendo o capitalismo moderno como uma sociedade de consumidores. O indivíduo, ou o trabalhador, é reconhecido já não como um produtor, mas cortejado como um consumidor.
Os Situacionistas acreditavam que era necessário pensar o momento imediato como o mais apropriado e de maior potencial para mudanças, e que para liberar a si mesmos devia-se transformar a sociedade pelas relações do poder. Acreditavam que para transformar a estrutura da sociedade nós precisamos modificar nossa percepção do mundo. Sua praxis foi baseada na construção de situações, distintas das normas sociais. Neste espírito foi criada a idéia de "deriva", como um fluxo dos atos e encontros, e o "detournement," como uma reorientação das imagens e dos eventos. Como métodos para minar a sociedade de consumo e o espetáculo construído, eles incentivaram o vandalismo, batidas desorganizadas e sabotagem, vendo estes como atos criativos. A IS tomou como responsabilidade fazer aparente às massas o sistema em que estavam sendo implicados. Esperavam ser catalisados por um processo revolucionário que eventualmente fizesse a IS redundante e causasse sua dissolução. De fato, isso não chegou exatamente a acontecer, porém, com o grupo diluído por disputas táticas em 1972. Suas idéias continuam a ter uma influência durável na arte, na política e na filosofia.
Em 1971 Debord conheceu Gerard Lebovici, que se tornou seu amigo, editor e produtor. Em 1984 Lebovici foi assassinado, e Debord foi visto com principal suspeito. Foi sujeitado à interrogação da polícia, e à difamação sofrida na imprensa. Debord enfureceu-se pelas acusações e proibiu a exibição de seus filmes na França durante sua vida. Publicou considerações no homicídio de Gerard Lebovici em 1985.
Em 1987 Debord escreveu O Jogo da Guerra com sua segunda esposa, Alice Becker-Ho. Em 1989 publicou seus Comentários na Sociedade do Espetáculo, expandindo e atualizando seu texto anterior pela inserção de novas formas de espetáculo.
Em 1994, Debord cometeu o suicídio em Champot, Upper Loire. Não sendo sua primeira tentativa, asfixiar-se uma vez em 1955. Suas cinzas foram dispersas no ponto de Ile de la Cité em Paris. A imprensa francesa prontamente tornou-o uma celebridade, sem nunca antes haver reconhecendo o significado do trabalho da Internacional Situacionista ou do próprio Debord.
Notas:
*Revista da Internacional Letrista
Fonte(s) The European Graduate School. Disponível em: . Acesso em: 05/04/2009.