1964
Reino Unido
PublicaçãoIdiomas disponíveis
Português
Colaborador
Gabriela Gaia
Título: Editorial da Magazine Archigram n° 5
A Metrópole
Fora da arquitetura, a intensidade da vida nas metrópoles tem sido vista e apreciada como sendo de certa forma positivamente mais propícia: a criatividade, a emancipação, a participação, a educação e todo o resto. A arquitetura metropolitana tem nuances para além da satisfação de uma curta adaptação de estilo. Um gesto livre pode se inscrever dentro de em um contexto de quatro paredes, que se inscreve ele mesmo numa configuração urbana de todo modo banal. Situações aleatórias também têm gerado engenhosidade que, com o passar do tempo, têm alimentado diretamente o desenvolvimento da arquitetura. A vertente intelectual foi sempre afeiçoada a forma de resolver os problemas da cidade como um veículo de conexão entre o estilo e a sociologia. Definir um contexto urbano global permite ao intelectual justificar de uma só vez todas as suas idéias pré-concebidas.
De repente, tudo isso tem sido questionado. As cidades ainda são necessárias? Nós ainda precisamos da parafernália de uma metrópole para abrigar a função executiva de uma capital? Será que precisamos da aglomeração de cinco, dez ou vinte milhões de pessoas, a fim de aprender, ser entretido, gozar de boa comida ou ter uma produtividade mais elevada? A idéia de separar e depois de agrupar setores e funções totalmente diferentes tão próximos uns dos outros que os elementos deixem de estar bem definidos é uma sofisticação suplementar da organização metropolitana. Isto nos leva à proposição de que toda a cidade poderia estar contida num único edifício. O conceito de segregação veículos/ pedestres é agora aceito assim como a idéia de edifícios únicos com múltiplos-níveis é lógica ao conceber uma cidade de múltiplos-níveis. A organização de uma metrópole como Nova Iorque, por exemplo, que tolera componentes de múltiplos níveis, conectou-se por apenas dois níveis horizontais (rua e metrô), sendo ambos baseados em modelos arcaicos. No entanto, uma cidade verdadeiramente organizada a partir de múltiplos níveis vai exigir um sistema de comunicações e uma inserção no ambiente que não seja apenas vertical ou horizontal, mas que também tire partido das diagonais.
A crosta da cidade
No dicionário, a definição de crosta é uma "dura camada exterior". Esta camada exterior é, na nossa definição, a zona onde a atividade colide com o ar. Nas cidades de hoje isto consiste em uma relativa falta de sofisticação de uma série de grandes enigmáticas construções pelas estradas. A relação com o ar solar, o céu e a distância raramente tiram partido das potencialidades dos diferentes e dispersos elementos congelados juntos de forma aleatória.
O Molehill
Com a secção Molehill (ou 'empilhados’) a superfície da crosta pode tirar máxima vantagem do ar contra seus balanços, bem como contra a superfície de sua cobertura. Trata-se de um ambiente natural "empilhado", talvez com conotações biológicas e fisiológicas também.
Estrutura, diagonal e conexões
Qualquer discussão sobre a correspondência entre a cidade de significante diagonal e a de multiplos-níveis termina por distinguir três categorias de diagonais: aquelas que provém de uma necessidade (o filtro da estrada do Plano para a Baía de Tokyo de Tange), aquelas que emergem das implicações de uma idéia básica (ou heróica), e aquelas que são precedidas pela invenção pura e simples.
As implicações do uso do espaço em uma complexa organização foram acontecendo aos poucos ao longo dos anos. Piranesi obviamente previu a situação da cidade de hoje. Mais tarde, no início dos anos 20, Neutra planejou um primeiro estágio de conexão em multiplos-níveis, envolvendo apenas, no momento, dois níveis de conexão acima da terra. Cité Industrielle de Tony Garnier usou certamente dedos conectores nos níveis mais altos, mas a derivação foi fortemente associada com a real situação industrial, onde existia a necessidade de comunicar-se com qualquer parte da máquina para manutenções e outras necessidades, como a circulação de líquidos e sólidos que são processados e transportados de uma zona a outra.
O maior problema da organização (e controle do imaginário) de extensas áreas da cidade é a realização de um consistente controle de suas partes com funções e tamanhos extremamente diferentes: adicione a isto os problemas de absorver o crescimento e evitar a gradual separação da relação entre as quadras. A resposta pode ser encontrada em uma idéia estrutural de larga escala, que é, de qualquer modo, uma necessidade de um produto atual e consistente da engenharia experimental.
A emergência da diagonal não é apenas um produto da atual preferência experimental da engenharia. Ela também implica na finalidade da estrutura que é nova aos edifícios por fornecer um espécie de “guarda-chuva” dentro do qual o crescimento e a mudança (das menores, partes funcionais) podem ocorrer. E mesmo apesar da proeminência da estrutura de controle em todos estes esquemas esses tipos de estruturas nunca se tornaram monótonos.
Fonte(s): COOK, Peter & ARCHIGRAM (group). Archigram. New York: Princeton Architectural Press, 1999.
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