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O livro pode ser entendido como o resultado da experiência de Venturi na Itália no começo dos anos 1950, ainda recém-formado, associado à sua experiência na atividade projetual em escritório ao longo dos anos 1950-60. Somado a "Aprendendo com Las Vegas" (1972), escrito em parceria com Denise Scott Brown e Steven Izenour, constitui-se como referência importante para se entender o pós-modernismo em arquitetura e urbanismo, além dos debates sobre o contextualismo e a influência da semiótica na teoria arquitetônica e nos estudos urbanos na segunda metade do século XX.
Venturi apresenta o livro como uma "tentativa de crítica de arquitetura" e ao mesmo uma explicação dos seus trabalhos. De forma irônica, o texto se inicia com um "suave manifesto" e ao longo da obra são apresentadas categorias de análise para a arquitetura e para o espaço urbano, sempre empregando a análise comparativa como método, com um conjunto amplo de referências - indo da Antiguidade até a produção contemporânea. Na última seção do livro são apresentados obras e projetos realizados por Venturi e seus parceiros, notadamente John Rauch, com quem dividia escritório no começo da carreira.
A obra teve grande repercussão, sendo editado novamente em 1977, quando Venturi faz um breve resumo das críticas e apoios recebidos desde a publicação original. Entre os maiores entusiastas da obra, destaca-se a figura de Vincent Scully Jr. (que assina a Introdução em 1966 e uma Nota à segunda edição em 1977), o primeiro a declarar que "Complexidade e Contradição em Arquitetura" teria o mesmo alcance de "Por uma Arquitetura" (1923), de Le Corbusier. Tanto este livro em específico, assim como o debate mais amplo sobre a arquitetura pós-moderna, não foram assimilados de modo sistemático na produção brasileira. No entanto, destaca-se sua relevância para obra de arquitetos mineiros como Éolo Maia, Jô Vasconcellos e Sylvio de Podestá, assim como para os debates levantados na revista Pampulha.
Um ano antes de sua publicação, um trecho do livro foi incluído na edição n. 9-10 da revista Perspecta (1965), que foi editada pelo ainda estudante Robert A. M. Stern. Conta-se com a tradução para o português deste artigo, na coletânea "Uma nova agenda para a arquitetura" organizada originalmente por Kate Nesbitt em 1996. A edição brasileira de "Complexidade e contradição em arquitetura" é de 1995, traduzida a partir da segunda edição americana.
FICHER, Sylvia. Anotações sobre o Pós-Modernismo. Projeto, São Paulo, n. 74, p. 35-42, abr. 1985.
SANTA CECÍLIA, Bruno. Éolo Maia: complexidade e contradição na arquitetura brasileira. Belo Horizonte: Editora da UFMG, 2006.
VENTURI, Robert. Complexity and contradiction in architecture: selections from a forthcoming book. Perspecta, New Haven, n. 9/10, p. 17-56, 1965.
VENTURI, Robert. Complexity and contradiction in architecture. Nova York; Chicago: MoMA; Graham Foundation, 1966. Col. The Museum of Modern Art Papers on Architecture. v. 1.
VENTURI, Robert. Complexidade e contradição em arquitetura. São Paulo: Martins Fontes, 1995.
Robert Venturi, 1995 [1966]:
"Os exemplos escolhidos refletem minha parcialidade em relação a certas eras: maneirista, barroca e rococó, em especial. [...] Como artista, francamente escrevo acerca do que gosto em arquitetura: complexidade e contradição. Daquilo de que julgamos gostar - daquilo para que somos facilmente atraídos - podemos aprender muita coisa sobre o que realmente somos. Louis Khan referiu-se a ‘o que uma coisa quer ser', mas nessa afirmação está implícito seu oposto: o que o arquiteto quer que uma coisa seja. Na tensão e no equilíbrio entre as duas situam-se muitas das decisões do arquiteto."
"Este livro trata do presente, e do passado em relação ao presente. Não tenta ser visionário, exceto na medida em que o futuro esteja inerente à realidade do presente. Só indiretamente é polêmico. Tudo é dito no contexto da arquitetura atual, e, por conseguinte, certos alvos são atacados - em geral, as limitações da arquitetura e do urbanismo modernos ortodoxos e em particular os arquitetos triviais, que trocam integridade, tecnologia ou programação eletrônica como fins em arquitetura, os popularizantes, que pintam ‘contos de fadas sobre nossa caótica realidade' e suprimem aquelas complexidades e contradições inerentes à arte e à experiência. Não obstante, o presente livro é uma análise do que me parece ser verdadeiro para a arquitetura agora, mais do que uma diatribe contra o que parece falso."
"A convenção irônica é relevante para o edifício individual e para a paisagem urbana. Reconhece a condição real de nossa arquitetura e seu status em nossa cultura. A indústria promove dispendiosas pesquisas industriais e eletrônicas mas nenhum experimento arquitetônico, e o governo federal direciona os subsídios para transporte aéreo, comunicações e gigantescos empreendimentos ligados à indústria bélica ou, como eles dizem, à segurança nacional, em vez de destinar recursos para aquelas forças que promovem diretamente o bem-estar e a valorização da vida. O arquiteto deve admitir isso. Em termos simples, os orçamentos, as técnicas e os programas para seus edifícios devem aparentar-se mais com 1866 do que com 1966. Os arquitetos devem aceitar seu modesto papel em vez de disfarçá-lo e correrem o risco do que poderíamos chamar um expressionismo eletrônico, o qual se equipararia ao expressionismo industrial do começo da arquitetura moderna. O arquiteto que aceitar seu papel como combinador de velhos clichês significativo - banalidades válidas - em novos contextos como sua condição numa sociedade que dirige seus melhores esforços, suas gigantescas verbas e suas elegantes tecnologias para outros fins pode ironicamente expressar desse modo indireto uma verdadeira preocupação com a escala invertida de valores da sociedade."
"Em God's Own Junkyard, Peter Blake comparou o caos da Main Street comercial com a boa ordem e o equilíbrio sereno da Universidade da Virgínia [...]. Além da irrelevância da comparação, a Main Street não é quase satisfatória? Na verdade, a faixa comercial de uma Route 66 não é quase satisfatória? Como disse, nossa indagação é a seguinte: que leve alteração de contexto pode torná-las plenamente satisfatórias? Talvez mais letreiros mais moderados. Em God's Own Junkyard, ilustrações da Times Square (praça de Nova York) e de pequenas cidades à margem de rodovias são comparadas com ilustrações de aldeias e campos bucólicos da Nova Inglaterra. Mas as imagens nesse livro que se presume serem ruins são freqüentemente boas. As justaposições aparentemente caóticas de elementos vulgares expressam uma intrigante espécie de vitalidade e validade e produzem também uma inesperada abordagem de unidade."
VENTURI, Robert. Complexidade e contradição em arquitetura. São Paulo: Martins Fontes, 1995, grifos do autor.
"É um livro muito americano, rigorosamente pluralista e fenomenológico em seu método; faz lembrar [Theodore] Dreiser, avançando laboriosamente em seu caminho. Entretanto, é provavelmente o mais importante livro escrito sobre criação e produção de arquitetura desde Vers une Architecture, de Le Corbusier, de 1923. Na verdade, a posição de Venturi parece ser, à primeira vista, exatamente o oposto da de Le Corbusier, seu primeiro e natural complemento através do tempo. Isso não quer dizer que Venturi se iguale a Le Corbusier em capacidade de persuasão ou realização - ou que isso tenha algum dia que acontecer necessariamente. Poucos atingirão de novo esse nível. A experiência dos próprios edifícios de Le Corbusier certamente não teve pouco a ver com a formação das idéias de Venturi. Entretanto, suas opiniões contrapõem-se, de fato, às de Le Corbusier, tal como foram expressas em seus primeiros escritos, opiniões que afetaram, de modo geral, duas gerações de arquitetos desde essa época. [...]"
SCULLY, Vincent. Introdução. In: VENTURI, Robert. Complexidade e contradição em arquitetura. São Paulo: Martins Fontes, 1995. p. XIII-XIX, grifo do autor.
"A exaltação, por Venturi, da categoria da ambiguidade pode, efectivamente, parecer estimulante à primeira vista. Só depois de se ter constatado que tais tensões, contradições e complexidades se tornam, nas suas análises históricas, parâmetros críticos bons à tout faire, susceptíveis de explicar quer o Blenheim Palace, quer a igreja dupla de Fuga em Calvi, quer ainda as obras de Furness, Lutyens, Francesco di Giogio, Sullivan ou Alvar Aalto, ele descobre que a adopção do conceito de ‘ambiguidade' na obra de arte, tomado de empréstimo dos textos analíticos de Empson e de Eliot, se destina a justificar escolhas pessoais de projectação muito mais equívocas do que ambíguas.
Naturalmente Venturim [sic] no decurso de sua abordagem, tem oportunidade de fazer muitas observações pontuais sobre as estruturas de organismos arquitectónicos complexos, revelando as suas matrizes culturais menos evidentes. O que criticamos é, por um lado, a historicização falhada da ambiguidade arquitectónica, que se torna assim categoria a priori desprovida de significados que não sejam genéricos; por outro, os objectos de sua investigação, que chega, através do escamoteamento historiográfico e da confusão entre análises e métodos de projectação, a justificar escolhas figurativas pessoais. (À parte, naturalmente, a grande modéstia dos projetos e das realizações de Venturi.)
Posto isto, é absolutamente inexplicável que um historiador sério e rigoroso como Vincent Scully tenha podido escrever, na sua introdução, que o livro de Robert Venturi é o acontecimento cultural mais notável no seio do debate arquitectónico, após o Vers une architecture de Le Corbusier.
A obra de Venturi é um texto que adopta métodos analíticos ‘em nota' transformando-os, sem qualquer mediação, em métodos ‘compositivos'. Deste modo, os valores da ambiguidade e da contradição perdem a sua consistência histórica e são recolocados como ‘princípios' de uma poética. Assim, não se compreende como é possível ler nesta recuperação intelectualista um significado novo relativamente aos ‘cinco pontos' de Le Corbusier, se o próprio Venturi demonstra que mesmo as obras puristas daquele são dominadas pela pluri-significância, pelo dualismo e pela complexidade."
TAFURI, Manfredo. Teorias e história da arquitectura. 2. ed. Lisboa: Presença, 1988, grifos do autor.
"Venturi desenvolveu as suas ideias de ‘Complexidade e Contradição em Arquitetura' num manifesto com esse título em 1966. Este livro, em certos aspectos, é uma inversão de Vers une architecture (1923) de Le Corbusier, excepto que evita todos os argumentos numa base técnica e conduz a discussão aos níveis da história da arquitectura e do gesto [sic] pessoal [...]"
"O manifesto moderado de Venturi teve um impacte extraordinário nos círculos arquitecturais, talvez porque ele é virtualmente o único arquitecto com um discurso polémico vasto e consistente. De qualquer forma, os seus argumentos a favor de uma ‘arquitectura inclusiva' que pode usar quaisquer elementos (desde cartazes de Las Vegas [...] a arcos clássicos), desafiavam efectivamente os argumentos exclusivistas prevalescentes, favoráveis à pureza e à restrição. [...] Num certo sentido, a sua polémica é dirigida contra a ideia de uma sensibilidade historicista, que pretende restringir as metáforas disponíveis àquelas que são apenas correntes ou tecnologicamente de vanguarda. A ideia é que, na idade das viagens e do turismo, na idade do ‘museu sem paredes', esta restrição já não é relevante e que, em qualquer grande cidade com a sua pluralidade de subculturas, uma tal limitação é extremamente paternalística."
JENCKS, Charles. Movimentos modernos em arquitectura. Lisboa: Presença, 1987, grifo do autor.
"Em certo sentido, [Louis] Kahn tornou-se o arquiteto-herói do começo da década de 1960, talvez o último formador-criador de que teremos conhecimento. Com a morte dos heróis, a Era do Romantismo também se encerra, assim como o classicismo romântico e o naturalismo romântico. A nova era (digamos, o novo momento) ainda não pode ser denominada, mas todas as artes de seus primeiros anos sugerem que a designação "Era da Ironia" a descreveria bem, pelo menos até agora. [...] Foi um dos seus muitos alunos e colaboradores, Robert Venturi, quem deu o primeiro passo na nova era, e em direção à revitalização das concepções, programas e formas arquitetônicas. Foi um passo gigantesco, pois, finalmente, desautorizou o idealismo e as atitudes heróicas da arquitetura em prol de uma aceitação renovada, mais exatamente irônica, da realidade e de um simbolismo realista, e na direção do que só pode ser chamado de intenção ‘semiológica' no projeto. [...] ‘A Main Street não é quase satisfatória?', escreveu Venturi em seu importante livro, Complexidade e contradição em arquitetura, de 1966. Ao dizer isso, não só o presente, mas também o passado mudou. É sempre assim na história. Um novo conceito abre os nossos olhos a aspectos da experiência passada que haviam saído de foco temporariamente. [...]"
SCULLY JR., Vincent. Doze anos depois: a era da ironia. In: SCULLY JR., Vincent. Arquitetura moderna: a arquitetura da democracia. São Paulo: Cosac & Naify, 2002, p. 107-139, grifo do autor.
"[...] [N]ada poderia estar mais distante da essência política da cidade-estado do que as categorias exclusivamente econômicas da teoria do planejamento racionalista; ou a teoria defendida por planejadores como Melvin Webber, cujas concepções ideológicas de comunidade sem proximidade e domínio urbano do não-lugar não passam de slogans concebidos para racionalizar a ausência de um adequado domínio da visibilidade pública no subúrbio moderno. O viés manipulador e ‘apolítico' de tais ideologias nunca esteve mais claramente expresso do que em Complexidade e Contradição em Arquitetura de Robert Venturi, onde o autor afirma que os americanos não precisam de praças, já que devem estar em casa assistindo televisão. Estes e outros modos reacionários da contemplação parecem enfatizar a impotência de uma população urbanizada que, paradoxalmente, perdeu o objeto de sua urbanização. [...]"
FRAMPTON, Kenneth. The status of man and the status of his objects: a reading of The Human Condition [1979]. In: HAYS, Michael (Ed.). Architecture theory since 1968. Nova York; Cambridge: Columbia Books; The MIT Press, 1998, p. 362-377, grifos do autor. Trad. livre: Leandro Cruz.
"À declaração de [Louis] Kahn - a comunicação é possível dando voz às instituições - Robert Venturi respondeu com a seguinte objeção: a única instituição é o real, e apenas o real se pronuncia. Este que vos escreve tem sido um dos poucos a considerar infantil o entusiasmo de Vincent Scully por um texto como Complexidade e Contradição em Arquitetura, que não fez nada além de revelar fatos já estabelecidos. No entanto, apesar desse elemento esnobe da operação de Venturi, a aliança entre a Arte Pop decadente e o novo Realismo Arquitetônico contém um núcleo que, ao se pretender como o exato inverso do rigorismo de Kahn, consegue compreender várias das suas mais profundas motivações. Se Kahn poderia ter gerado uma escola de místicos sem religiões para defender, Venturi criou de fato uma escola de desencantados, sem quaisquer valores a serem transgredidos. [...]"
TAFURI, Manfredo. The sphere and the labyrinth: avant-gardes and architecture from Piranesi to the 1970s. Cambridge; Londres: The MIT Press, 1987, grifos do autor. Trad. livre: Leandro Cruz.
"Venturi publicou um livro intitulado Complexity and Contradiction in Architecture que fazia parte de uma série do Museu de Arte Moderna sobre ‘os alicerces teóricos da arquitetura moderna'. O ensaio de Venturi parecia, num exame superficial, pura apostasia. Ele pegou o famoso ditado de Mies ‘Menos é mais', e o virou de pernas para o ar. ‘Menos é chato', disse. [...]. Em A Significance for A & P Parking Lots ou Learning from Las Vegas e ‘Learning from Levittown' ele e seus colaboradores, Denise Scott Brown e Steven Izenour, diziam onde se poderia encontrar a necessária ‘vitalidade desordenada'. As deixas vinham da arquitetura ‘vernácula' dos Estados Unidos na segunda metade do século XX. ‘A Rua Central é quase aceitável', segundo um dos seus ditados. E também o eram os projetos habitacionais (Levittown) e as faixas comerciais (Las Vegas)."
"Nem por um instante Venturi questionou as premissas fundamentais da arquitetura moderna; ou seja, que se destinava ao povo; que deveria ser não-burguesa e despojada de ornatos; que havia uma inexorabilidade histórica nas formas a serem usadas; e que o arquiteto, de seu posto de observação no interior do reduto, decidira o que era melhor para o povo e o que ele inevitavelmente deveria receber."
"Na cosmologia de Venturi, já não se podia pensar o povo em termos de proletariado industrial, trabalhadores com os punhos erguidos, artérias branquiais congestionadas e pescoços mais grossos que as cabeças, as massas espezinhadas do marxismo vivendo em guetos urbanos. O povo agora era ‘a classe média-média', como Venturi a chamava. Vivia em loteamentos suburbanos como Levittown, fazia compras na A& P do shopping-center, e passava as férias em Las Vegas da mesma maneira que antes costumava ir a Coney Island. A classe média-média não era a burguesia. Era a massa ‘em expansão', em oposição à massa ‘compacta'. Agir de forma esnobe com relação a ela era ser elitista. [...]"
WOLFE, Tom. Da Bauhaus ao nosso caos. Rio de Janeiro: Rocco, 1990, grifos do autor.
"Se fosse possível individualizar os eventos que balizaram o surgimento do pós-modernismo como resposta a esse impasse da forma arquitetônica, escolheria o lançamento em 1966 do livro Complexity and Contradiction in Architecture, de Robert Venturi, e a realização em 1975 da exposição ‘The Architecture of The École des Beaux-Arts', no Museu de Arte Moderna de Nova York. A meu ver, entre esses dois momentos ficou visível - não só em textos de crítica, mas também em projetos e obras construídas - a gradual substituição da ‘engenharia social' pelo esteticismo como fonte de inspiração dos códigos formais da vanguarda arquitetônica.
Venturi apela para a arquitetura erudita do passado para exemplificar, no mais completo vácuo social e histórico, os atributos da ‘boa arquitetura': ‘complexidade', ‘contradição', ‘ambos' ao invés de ‘ou', ‘controle e espontaneidade' (sic), ‘ambigüidade' etc.. Basta examinar os arquitetos que admira, como Michelangelo, Vanbrugh, Lutyens, Hawksmoor e Soane (aqui citados na ordem da freqüência com que aparecem no texto) para se perceber a preferência de Venturi pelo maneirismo. Ou seja, aquele gênero particular do classicismo caracterizado justamente pela perversão da lógica e transparência do código clássico."
FICHER, Sylvia. Anotações sobre o Pós-Modernismo. Projeto, São Paulo, n. 74, p. 35-42, abr. 1985, grifo da autora.
"Mesmo entre os primeiros críticos do modernismo, no entanto, o posicionamento com relação ao público geral não era coeso. Embora Aprendendo com Las Vegas (1972) incorporasse uma clara inclinação populista, o trabalho anterior e mais influente de Venturi, Complexidade e Contradição em Arquitetura (1966), ilustrava claramente as tensões entre a apreciação elitista da arte erudita e a adoção populista da Main Street, que seria tão característico do movimento pós-moderno mais adiante. E de fato, o equilíbrio ente o texto escrito e o número de ilustrações no livro (346, de um total de 350) favorece claramente a arte erudita. [...]"
McLEOD, Mary. Architecture and politics in the Reagan Era: from Postmodernism to Deconstructivism. Assemblage, Cambridge, n. 8, fev. 1989, grifos da autora. Trad. livre: Leandro Cruz.
"A posição de Venturi em Complexidade e contradição é influenciada pela semiótica, pela psicologia da Gestalt e pela teoria literária que afirma o valor poético da ambiguidade. Buscou também apoio na teoria e na psicologia evolucionistas, além da comunicação, onde descobre o lócus do significado arquitetônico em associações formadas pelo conhecimento histórico da disciplina. [...] Um aspecto de sua contribuição teórica é a renovação da consciência da história, senão uma adesão total a ela, o que aliás permeia toda a arquitetura pós-moderna e a distingue da arquitetura moderna. Mas nem todos os usos que os arquitetos historicistas pós-modernos menores fizeram dessa tradição recuperada foram bem-sucedidos. Assim, o surgimento da teoria de Venturi, que estimula uma apropriação eclética da história, centrada nas imagens, pode ser comparado à abertura de uma caixa de Pandora de estilos."
NESBITT, Kate (Org.). Uma nova agenda para a arquitetura: antologia teórica 1965-1995. 2. ed. São Paulo: Cosac Naify, 2008, grifo da autora.
"É possível, e [Otília] Arantes tem todo direito de preferir a delicada sutileza de Rossi ao espalhafatoso Venturi, sobretudo em sua segunda fase, também aplaudir os esforços de crítica de Tafuri e outros. O problema é que, por mais que revele maior bom gosto aplaudir os italianos do que os americanos, as démarches - tanto no que diz respeito a uma atitude projetual, quanto no que se refere a uma sensibilidade, ao partilhar de uma mesma mentalidade - são idênticas. Ou seja, para ser clara: os escritos críticos da Escola de Veneza não apontam, a meu ver, para uma teoria de arquitetura. Se utilizássemos as análises de Françoise Choay (tal como esta autora propõe em A Regra e o Modelo) seríamos certamente obrigados a constatar que eles não passam do gênero ‘comentário crítico culto e ensaístico' muito comum na cultura arquitetônica, como evidenciam as publicações do gênero e como são, da mesma maneira, os escritos de Venturi ou outros. Quanto a aplaudir a atitude de contextualização adotada por Rossi, vejo-me forçada a aprontar a seguinte boutade: mas que culpa tem Venturi se ele tinha que contextualizar em Las Vegas e Rossi em Veneza? Cada um tem o contexto que merece, mas a atitude projetual é a mesma. Além disso, a distinção, a rigor, entre boa e má arquitetura pode ser feita ao longo de toda a história da arquitetura e para todos os períodos."
"Formando-se em 1967 na Escola de Arquitetura e Urbanismo de Minas Gerais, Éolo [Maia], 12 anos depois, época em que é publicada a revista, é um arquiteto com vários projetos de residência e bancos, entre outros premiados, e estava participando de um projeto urbanístico e de arquitetura para a cidade de Ouro Branco, para a Açominas.
Sobre as características de sua obra neste período, o que podemos destacar são os projetos de 1976 (Hotel Verdes Mares e Hotel Concórdia), nos quais se nota a influência clara do arquiteto Louis Kahn, o mesmo mestre de Robert Venturi e de Mario Botta. Porém, numa residência posterior de 1979, observa-se uma modernidade mais tradicional. De qualquer forma, embora acompanhando o que fazem Kahn e Venturi, o que denota uma extrema contemporaneidade de informação, desfrutava também de uma liberdade que talvez só fosse permitida na região mineira pela ausência de ‘mitos' mais sólidos."
MARQUES, Sônia. Arquitetura brasileira, uma pós-modernidade mais do que contraditória. RUA, Salvador, n. 7, p. 82-95, 1999, grifos da autora. Disponível em <http://www.portalseer.ufba.br/>. Acesso em 25 out. 2014.
"[...] Neste livro, Venturi analisa mais de duzentos exemplos extraídos da história da arquitetura, para mostrar o caráter híbrido e por vezes equívoco das grandes obras do passado, ao contrário do programa de clareza e nítida homogeneidade adotado pelos arquitetos modernos, num despojamento que esconde o preconceito, resumido na famosa fórmula de Mies van der Rohe: Less is more. Nessa primeira fase, Venturi está atento aos procedimentos, materiais e soluções construtivas da tradição. Como se vê, a redução um tanto unidimensional do contexto ao cenário pop dos mídia ainda não se impusera. [...]"
ARANTES, Otília. O lugar da arquitetura depois dos modernos. 3. ed. São Paulo: EDUSP, 200, grifos da autora.
"Em 1966, Robert Venturi publica seu texto crucial, Complexidade e contradição na [sic] arquitetura, editado pelo Museum of Modern Art de Nova Iorque. Observem como o museu está na dianteira das propostas arquitetônicas. Venturi propõe neste texto uma visão contrária à da arquitetura moderna, fazendo uma defesa em favor de uma via híbrida, contraditória, complexa e ambígua. Trata-se de transgredir alguns dos princípios sobre os quais fundou-se o racionalismo do Movimento Moderno, em especial o princípio da coerência."
"[...] Trata-se do primeiro tratado arquitetônico dos anos sessenta, que de maneira explícita enfrenta-se à ortodoxia do Movimento Moderno. [...] Definitivamente, Venturi se revela contra uma vanguarda que se converteu em academia e contra uma arquitetura que serviu para o período entre as guerras, mas não é adequada para um período de mudança como o dos anos sessenta.
Se no livro de Aldo Rossi esta crítica ao Movimento Moderno estava mais implícita que explícita - com o projeto de construir uma nova teoria sobre a cidade, e as críticas explícitas ao funcionalismo ingênuo e à cidade racionalista -, no caso de Venturi esta vontade de superação do Movimento Moderno é programática. [...]"
MONTANER, Josep Maria. Depois do movimento moderno: arquitetura da segunda metade do século XX. Barcelona: Gustavo Gili, 2001, grifo do autor.
"É possível afirmarmos que se o leitor quer entender as duas rupturas simbólicas que a arquitetura empreendeu no breve e interessante século XX, há pelo menos dois autores obrigatórios: Le Corbusier com Por uma arquitetura e Urbanismo, e Robert Venturi com Complexidade e contradição em arquitetura e Aprendendo com Las Vegas. Pouco mais de cinqüenta anos separa os dois blocos, e os textos são tão distintos como uma singela e exata casa branca corbuseana, de um lado, e um colorido e iluminado shopping-center suburbano. Um tempo um pouco menor do que aquele entre a Revolução de 1917 e a queda do muro de Berlim."
"[...] [A]o contrário do que muitos crêem, a crítica ao chamado movimento moderno começou em seu interior, ganhou novos adeptos após a dissolução dos CIAM (em 1959) e adquiriu força no início da década de 1960. Venturi, com seu Complexidade e contradição em arquitetura, chegou como representante de uma nova geração, para somar em um debate que vinha amadurecendo. O livro, de 1966, argumentava que a complexidade da vida contemporânea não admitia projetos simplificados e que os arquitetos precisavam voltar-se para projetos multifuncionais. O centro de seu argumento, contudo, era que a arquitetura deveria transmitir significado. Quanto a esse aspecto, seus exemplos de arquitetura expressiva vinham em sua maioria da Itália entre 1400 e 1750, estendidos à França e Inglaterra do século xviii, ladeados pelos primeiros projetos de Le Corbusier, outros do nórdico Alvar Aalto, além do mestre Kahn. Resgatou também a importância de Sir Edwin Lutyens, o arquiteto da Nova Deli imperial, do até então condenado movimento City Beautiful."
RUBINO, Silvana Barbosa. Quando o pós-modernismo era uma provocação. Resenhas Online, São Paulo, n. 02.020, ano 2, ago 2003, grifos da autora. Portal Vitruvius. Disponível em <http://www.vitruvius.com.br/>. Acesso em 23 jan. 2012.
"A insatisfação com a maneira como o Movimento Moderno lidou com a questão do ornamento está na base do pós-modernismo arquitetônico que emergiu nos anos 60 e que tem no próprio Venturi o principal mentor nos Estados Unidos. Sua incômoda e polêmica obra, Complexity and contradiction, foi um dos livros mais influentes nesta segunda metade do século XX (e também um dos mais incompreendidos). Seu argumento essencial baseia-se na constatação de que a arquitetura moderna perdeu sua capacidade de transmitir significados e valores. Venturi critica o puritanismo e o reducionismo da arquitetura moderna e acredita que as complexidades, contradições, ambigüidades, tensões e incertezas também estão presentes em grandes obras de arquitetura. Venturi defende o uso de convencões arquitetônicas de claro apelo popular, elementos convencionais estandardizados, anônimos, vulgares mesmo, como forma de facilitar a comunicação com o usuário. O arquiteto deveria voltar-se para essas convenções, conhecê-las e torná-las ainda mais vivas. Em Venturi, o ornamento é retomado, mas seu conteúdo parece ficar refém da comunicação. O ornamento parece ser reduzido a uma pura questão de comunicação."
MOREIRA, Fernando Diniz. As Caixas decoradas: ornamento e representação em Venturi & Scott Brown e Herzog & De Meuron. Arquitextos, São Paulo, n. 05.056, ano 5, jan 2005, grifo do autor. Portal Vitruvius. Disponível em <http://www.vitruvius.com.br/>. Acesso em: 23 jan. 2012.
"No ano de 1981, Éolo Maia, Jô Vasconcellos e Sylvio de Podestá efetivaram uma profícua parceria, iniciada na publicação das revistas Vão Livre e Pampulha, no final da década anterior. Essa parceria ficou conhecida como Três Arquitetos, nome dado ao escritório.
As obras de Éolo nesse período procuravam combater diretamente as formas e os princípios estruturais da arquitetura moderna em favor da liberdade de criação, inaugurando as manifestações arquitetônicas pós-modernas em Minas Gerais e no Brasil.
Desde a Residência Marcos Bicalho (1980), já se podia perceber uma mudança de atitude do arquiteto ao privilegiar a autonomia da composição plástica do edifício em relação às demandas técnicas e funcionais. Nessa residência, a complexidade formal provinha da variação do perímetro do pavimento sob o prisma triangular elevado e do regime de aberturas e não mais corresponderem diretamente às necessidades do programa.
A partir daí, observa-se que as referências a Kahn e aos demais mestres modernos dão lugar ao trabalho que privilegia as formas puras e geométricas, às composições simétricas, à utilização de materiais e elementos regionais e às citações e colagens tomadas de outras arquiteturas. Os projetos seguintes passam a espelhar as idéias e formas presentes nas obras de Robert Venturi, Aldo Rossi e James Stirling, entre outros arquitetos em evidência naquela época."
SANTA CECÍLIA, Bruno Luiz Coutinho. Éolo Maia: complexidade e contradição na arquitetura brasileira. Belo Horizonte: Editora UFMG, 2006, grifos do autor.