1960
Brasil, Distrito Federal
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Planejamento Urbano
Colaborador
Diego Mauro; Karine Souza
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Proposta já em 1823 por José Bonifácio de Andrada e Silva, a criação de uma nova capital do Brasil no interior do país começa a se realizar em setembro de 1956, com a publicação do edital para o "Concurso Nacional do Plano Piloto da Nova Capital do Brasil" no Diário Oficial da União, por determinação do presidente Juscelino Kubitschek. O projeto apresentado pelo arquiteto e urbanista Lúcio Costa venceu o concurso.
A cidade foi inaugurada em 1960, e tombada pelo Institudo do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional em 1990. Em 1987, foi inscrita pela UNESCO da lista do Patrimônio Mundial.
Juscelino Kubitschek, 1960:
"Não me é possível traduzir em palavras o que sinto e o que penso nesta hora, a mais importante de minha vida de homem público. A magnitude desta solenidade há de contrastar por certo com o tom simples de que se reveste a minha oração.
Dirigindo-me a todos os meus concidadãos, de todas as condições sociais, de todos os graus de cultura, que, dos mais longínquos rincões da Pátria, voltais os olhos para a mais nova das cidades que o Governo vos entrega, quero deixar que apenas fale o coração do Vosso Presidente.
Não vos preciso recordar, nem quero fazê-lo agora, o mundo de obstáculos que se afiguravam insuportáveis para que o meu Governo concretizasse a vontade do povo, expressa através de sucessivas constituições, de transferir a Capital para este planalto interior, centro geográfico do País, deserto ainda há poucas dezenas de meses.
Não nos voltemos para o passado, que se ofusca ante esta profusa radiação de luz que outra aurora derrama sobre a nossa Pátria.
Quando aqui chegamos, havia na grande extensão deserta apenas o silêncio e o mistério da natureza inviolada. No sertão bruto iam-se multiplicando os momentos felizes em que percebíamos tomar formas e erguer-se por fim a jovem Cidade. Vós todos, aqui presentes, a estais vendo, agora, estais pisando as suas ruas, contemplando os seus belos edifícios, respirando o seu ar, sentindo o sangue da vida em suas artérias.
Somente me abalancei a construí-la quando de mim se apoderou a convicção de sua exeqüibilidade por um povo amadurecido para ocupar e valorizar plenamente no território que a Providência Divina lhe reservara. Nosso parque industrial e nossos quadros técnicos apresentavam condições e para traduzir no betume, no cimento e no aço as concepções arrojadas da arquitetura e do planejamento urbanístico modernos.
Surgira uma geração excepcional, capaz de conceber e executar aquela "arquitetura em escala maior, a que cria cidades e, não, edifícios", como observou um visitante ilustre. Por maior que fosse, no entanto, a tentação de oferecer oportunidade única a esse grupo magnífico, em que se destacam Lúcio Costa e Oscar Niemeyer, não teria ela bastado para decidir-me a levar adiante, com determinação inflexível, obra de tamanha envergadura. Pesou, sobretudo, em meu ânimo, a certeza de que era chegado o momento de estabelecer o equilíbrio do País, promover o seu progresso harmônico, prevenir o perigo de uma excessiva desigualdade no desenvolvimento das diversas regiões brasileiras, forçando o ritmo de nossa interiorização.
No programa de metas do meu Governo, a construção da nova Capital representou o estabelecimento de um núcleo, em torno do qual se vão processar inúmeras realizações outras, que ninguém negará fecundas em conseqüências benéficas para a unidade e a prosperidade do País.
Viramos no dia de hoje uma página da História do Brasil. Prestigiado, desde o primeiro instante, pelas duas Câmaras do Congresso Nacional e amparado pela opinião pública, através de incontável número de manifestações de apoio, sinceras e autenticamente patrióticas, dos brasileiros de todas as camadas sociais que me acolhiam nos pontos mais diversos do território nacional, damos por cumprido o nosso dever mais ousado; o mais dramático dever.
Só nos que não conheciam diretamente os problemas do nosso Hinterland percebemos, a princípio, dúvida, indecisão. Mas no País inteiro sentimos raiar a grande esperança, a companheira constante em toda esta viagem que hoje concluímos; ela amparou-nos a todos, a mim e a essa esplêndida legião que vai desde Israel Pinheiro, cujo nome estará perenemente ligado a este cometimento, até ao mais obscuro, ao mais ignorado desses trabalhadores infatigáveis que tornaram possível o milagre de Brasília.
Em todos os instantes nas decepções e nos entusiasmos, levantando o nosso ânimo e multiplicando as nossas forças, mais de que qualquer outro amparo ou guia, foi a Esperança valimento nosso. Um homem, cujos olhos morreram e ressuscitaram muitas vezes na contemplação da grandeza - aludo, novamente, a André Malraux - viu em Brasília a Capital da Esperança.
Seu dom de perceber o sentido das coisas e de encontrar a expressão justa fê-lo sintetizar o que nos trouxe até aqui, o que nos deu coragem para a dura travessia, que foi a substância, a matéria-prima espiritual desta jornada. Olhai agora para a Capital da Esperança do Brasil. Ela foi fundada, esta cidade, porque sabíamos estar forjada em nós a resolução de não mais conter o Brasil civilizado numa fímbria ao longo do oceano, de não mais vivermos esquecidos da existência de todo um mundo deserto, a reclamar posse e conquista.
Esta cidade, recém-nascida, já se enraizou na alma dos brasileiros; já elevou o prestígio nacional em todos os continentes; já vem sendo apontada como demonstração pujante da nossa vontade de progresso, como índice do alto grau de nossa civilização; já a envolve a certeza de uma época de maior dinamismo, de maior dedicação ao trabalho e à Pátria, despertada, enfim, para o seu irresistível destino de criação e de força construtiva.
Deste Planalto Central, Brasília estende aos quatro ventos as estradas da definitiva integração nacional: Belém, Fortaleza, Porto Alegre, dentro em breve o Acre. E por onde passam as rodovias vão nascendo os povoados, vão ressuscitando as cidades mortas, vai circulando, vigorosa, a seiva do crescimento nacional.
Brasileiros! Daqui, do centro da Pátria, levo o meu pensamento a vossos lares e vos dirijo a minha saudação. Explicai a vossos filhos o que está sendo feito agora. É sobretudo para eles que se ergue esta cidade síntese, prenúncio de uma revolução fecunda em prosperidade. Eles é que nos hão de julgar amanhã.
Neste dia - 21 de abril - consagrado ao Alferes Joaquim José da Silva Xavier, o Tiradentes, ao centésimo trigésimo oitavo ano da Independência e septuagésimo primeiro da República, declaro, sob a proteção de Deus, inaugurada a cidade de Brasília, Capital dos Estados Unidos do Brasil."
Este discurso foi proferido por Juscelino Kubitschek na sessão solene de instalação do governo no Palácio do Planalto, no dia 21 de abril de 1960.
Gilberto Freyre, 1960:
"O palácio presidencial da nova capital do Brasil é certamente uma desss obras-primas. Paree uma joia sob o sol tropical, único em suas formas. Tão leve que dá a impressão de estar flutuando em ar tropical, embora subimamente indiferente ao solo tropical, à vegetação tropical e até mesmo ao clima tropical. Sua falta de funcionalidade para os trópicos é evidente: nao só absorve demasiado calor durante o dia - isto poderia er superado por meio de dispositivos técnicos - como se torna extremamente desconfortável por causa da excessiva invasão de luz.
[...]
Os edifícios de apartamentos que estão sendo construídos para os funcionários têm defeitos ainda mais óbvios. Não proporcionam a necesária intimidade e isolamento para os seus moradores; além do mais, diz-se que as acomodações para os empregados domésticos nesses edifícios de apartamentos são pouco melhores do que celas de prisão.
A obra dos arquitetos de Brasília é, indubitavelmente, de grande beleza. No entanto, preocupados como estavam a estética pura, descuidaram às vezes dos objetivos funcionais - de início, por exemplo, haviam esquecido de deixar espaço para escolas!
[...]
Ao construir uma nova capital no interior de um país tropical, alguns dos enganos poderiam perfeitamente ter sido evitados se as autoridades federais ou os arquitetos tivessem solicitado a colaboração de especialistas em ciências sociais.
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Por que deveria Brasília - cuja construção tanto está custando ao povo brasileiro e cujos arquitetos se consideram tão modernos - menosprezar as alterações revolucionárias da organização social que a tecnologia está provocando? Por que deveriam ester arquitetos de inclinações socialistas construir uma cidade nova para uma ordem burguesa antiquada? Em cidades mais antigas, em toda parte, o problema de preparar o povo para o lazer o oferecer-lhe oportunidades para diversões criativa diversificadas está sendo cuidadosamente estudado por sociólogos, higienistas e urbanistas. Entretanto, na cidade inteiramente nova de Brasília, que se supõe esteja sendo construída para durar séculos, o problema foi completamente esquecido.
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Essa poderia ser uma das missões de Brasília: ser uma cidade ultramoderna, onde o lazer seria a nota dominante na atmosfera social. Seu povo teria espaço suficiente para se expressar criativamente nas artes, na religião, nos esportes e até na arte de cozinhar e comer. Em lugar disso, a abundância aparentemente extravagante de espaço em Brasília foi utilizada de maneira convencional, limitada e antiquada."
Fonte(s): THE REPORTER, N.7, V.22. Nova York, 31/03/1960, pp. 31-32 / "Gilberto Freyre fala de Brasília". Visão, São Paulo, 08/04/1960, pp 32-35.
Françoise Choay, 1959:
"Mas esse projeto de cidade cruciforme, herdado da Antiguidade em sua satisfatória simplicidade, estará realmente adaptado à vida moderna? Não seria o caso de apontar um problema de escala? As distâncias tradicionais são aqui multiplicadas, não em função das pernas do homem, mas da velocidade da máquina que a técnica pôs à sua disposição. Ora, por maiores que sejam as facilidades automobilísticas disponíveis, as distâncias quilométricas dentro de uma cidade se mostram, em relação à dimensão humana, não apenas dispersivas, mas desintegradoras. Além disso, haverá lógica em ordenar com tanto rigor o espaço urbano e separar completamente os locais de moradia dos de trabalho?
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Definido o plano piloto da cidade, Niemeyer procurou basicamente lhe conferir uma unidade plástica. Logrou um resultado magistral jogando com a platicidade do concreto, o qual se presta ao arabesco e lhe permitiu criar uma espécie de leitmotiv que identificamos, invertido ou transposto, em casa prédio.
O ponto alto do setor administrativo é a famosa e triangular Praça dos Três Poderes (Legislativo, Executivo e Judiciário). O visitante fica, de saída, impressionado pela maestria revelada na organização dos volumes: o arquiteto concebeu o Palácio do Executivo, a Câmara e o Senado e o Supremo Tribunal Federal em forma de construções baixas de três pavimentos, que deixam desimpedido um horizonte especialmente amplo. Mas o contraponto da horizontalidade dominante é oferecido por uma torre dupla de estrutura metálica com 45 metros de altura, destinada ao serviços administrativos do Congresso. Além disso, a leveza do conjunto dos edifícios assume sua plenitude graças ao contraste criado por uma robusta laje de concreto situada no centro da praça: maciça, sobre um suporte também maciço, lembra uma estela primitiva, e conterá um pequeno museu dedicado ao histórico da cidade.
[...]
Tais composições, cujo espírito está presente no palácio presidencial e na maquete da futura Catedral, têm sido violentamente ataacadas. Critica-se, em suma, sua falta de funcionalidade e certa gratuidade. Mas a história nos ensina que a arquitetura não foi, ao longo dos séculos, sempre funcional ou regida pelo princípio da economia (como atesta a oposição entre o românico e o gótico). Em Brasília, Niemeyer contou com a colaboração de um intérprete admiravelmente fiel, o engenheiro Joaquim Cardozo, cujos cálculos deram toda a liberdade a elementos que não são parte integrante e necessária da dinâmica dos edifícios em questão, mas constituem a expressão necessária da vontade do arquiteto.
Esquecem os críticos, com demasiada facilidade, que a arquitetura é um meio de expressão equivalente às demais artes plásticas. O setor oficial de Brasília é também, de certa forma, a visão de mundo de Niemeyer, a mesma que, há quase 20 anos, se expressava na Pampulha, em Belo Horizonte. É bem mais resolvida aqui, porém, graças ao revestimento de mármore que, ao impedir a alteração dos materiais, também impedirá que se altere o espírito dessas formas."
Fonte(s): L'OEIL. N. 59, Nov. 1959. pp 76-83. Tradução de Dorothée de Bruchrard.
Bruno Zevi, 1960:
"O que talvez mais preocupe no plano piloto de Lucio Costa é o anonimato dos núcleos residenciais, uniformizados pela maré dos superblock. A composição das superquadras é bem estudada, porque prevê, próximos aos edifícios residenciais, uma escola elementar, um liceu ou colégio, uma capela, um mercadinho e um supermercado. O efeito do conjunto é, no entanto, devastador. Ao vê-los construídos, esses blocos de apartamentos também funcionamente muito discutíveis, experimenta-se uma sensação de desorientação. No deserto, num empreendimento de tamanha grandiosidade, era legítimo esperar a criação de uma unidae comunitária figurativamente reconhecível. Aqui, em vez disso, somos obrigaos a contar as quadras para saber quando encontraremos uma capela ou um supermercado. Enquanto o projeto for controlado "de cima", enquanto estiverem sendo construída as habitações na cidade desabitada, o plano será respeitado. Se os cidadãos tornarem-se donos de sua cidade fatalmente o plano será subvertido, porque ele não nasce e não se conclui de acordo com um necessidade real, expressa plasticamente. Não se pode simplesmente dizer: uma comunidade é formada por quatro superquadras se elas não tiverem uma fisionomia própria, distinguível, por razões internas, na sua articulação, valeria mais a pena construir as altas lâminas dos prédios projetados por Rino Levi."
Fonte(s): L'Architettura - Cronache E Storia, N.51, Milão, Jan. 1960, pp. 608-19. Tradução Eugênio Vinci de Moraes.
Sigfried Giedion, 1960:
"Surpreendem as dimensões extraordinariamente grandes dessa cidade que contará com cerca de 500 mil habitantes. O eixo norte-sul, onde ficarão as superquadras residenciais, estende-se por aproximadamente 10km; O Eixo Monumental, mais curto, tem mais de 6km. Essas dimensões são quase assustadoras [...]."
[...]
Porém a maior ameaça ao desenvolvimento de Brasília é a dimensão demasiado pequena de cada superquadra residencial [Wohnsektoren] - cujas laterais medem 240 x 240m -, insuficiente para a formação cada vez mais diferenciada da cidade contemporânea.
Mesmo que os blocos residenciais sejam dispostos de maneira distinta no interior de cada superquadra, não há como evitar a monotonia."
Fonte(s): BAUEN + WOHNEN, N.8, Suiça, Ago. 1960, pp. 291-96.
Milton Santos, 1965:
[...]"Brasília é, ao mesmo tempo, uma capital política e um canteiro de construção. Surgiu com um canteiro de construção e continuou sendo, após a instalação, ali, dos três poderes do Governo Brasileiro. Brasília é, também, uma cidade "artificial" e uma grande cidade, uma capital de um país subdesenvolvido.
Cidade "artificial" surgiu de uma vontade criadora que haveria de se manifestar na prévia definição de diversos aspectos materiais e formais. A intenção que presidiu à sua criação é que orientaria aquela vontade criadora. Brasília já nascia com um destino predeterminado: ser "a cabeça do Brasil", o cérebro das mais altas decisões nacionais.
Capital administrativa e canteiro de obras, essas duas realidades - a realidade planejada e a realidade condição para a primeira - vão contribuir para lhe dar uma fisionomia, um ritmo de vida, um conteúdo.
Da maneira ideal - e era a pretensão dos planejadores - a realidade planejada iria substituindo a realidade condição. Brasília seria cada vez mais Capital voluntariamente construída e cada vez menos um canteiro de obras. Essa evolução complementar, em sentidos contrários, poderia continuar marcando a vida da cidade, se ao longo dos dois não permanecesse um fator de complexidade mais forte: o subdesenvolvimento do país e tudo que o acompanha.
O subdesenvolvimento comparece como um elemento de oposição, diante daquela "vontade criadora", modificando os resultados esperados. Reduz as possibilidades de um rápida construção da cidade; refletindo-se sobre as atividades principais, explica as demais funções, o quadro, a fisionomia atual, a estrutura e os problemas; e é o responsável pela "dualidade" de Brasília, que tanto a aproxima das demais capitais latino-americanas.
Vontade criadora e subdesenvolvimento do país são, pois, os termos que se afrontam na realidade efetiva de Brasília. É da sua confrontação que a cidade retira os elementos de sua definição atual.
[...]
Os "candangos" vindos de partes diversas do país, mas, sobretudo ds regiões mais deserdadas, a princípio quase os unicos habitantes do canteiro de construção, que era Brasília, incorporaram-se, definitivamente, à vida da cidade, porque, inclusive, passaram a residir nela mesmo quando o mercado de trabalho não era favorável, pois não devemos esquecer de que o ritmo de construção da cidade não foi e não é sempre o mesmo. A essa população de trabalhadores deve Brasília muitas ds suas condições atuais: e as próprias características dessa população estão estreitamente ligadas ao subdesenvolvimento nacional.
[...]
"A unidade de vizinhança é formada por quatro superquadras. Cada superquadra mede 240 metros de cada lado, estando limitada por uma faixa de vegetação de 20 metros de largura, disposta ao longo de uma estrada parque, na extensão de um quilômetro. Contruídos os prédios sobre pilotis, a área livre fica, assim, aumentada.
Cada superquadra comporta 11 blocos de 6 pavimentos, havendo, também as superquadras duplas, com 33 edifícios de 3 pavimentos.
Cada superquadra deve abrigar, em média, 3000 moradores. Estes são defendidos do automóvel, uma vez que o tráfego de acesso é concentrado no centro". Por outro lado, dentro das superquadras há uma Escola Primária e um Jardim de Infância. A Igreja fica na confluência e a Escola Secundária atrás das superquadras.
O comércio é contíguo. Volta-se paa as vias de grande circulação, estando, porém, separado da área de residência pela mencionada faixa verde. É nessa área comercial que fica o cinema. Quanto ao comércio de varejo, fica a menos de 10 minutos de qualquer superquadra."
[...]
"O plano da cidade dispõe-se sobre dois eixos, sendo um arqueado, chamado Eixo Rodoviário, enquanto o outro é o Eixo Monumental.
Ao Eixo arqueado foi atribuída a função circulatória. Mede 13 quilômetros e dispõe de 5 pistas, sendo que a central é reservada à alta velocidade. O tráfego é sem cruzamentos, dispensando sinalização, isso favorecendo a rapidez e o baixo custo. "O tráfego urbano" é, assim, separado do tráfego "local" ou "de passagem". Esse eixo dispõe de faixas arborizadas, que protegem contra o ruído. Essa providência se mostra bem funcional, uma vez que ao longo do eixo rodoviário se localizam as áreas residenciais.
O eixo monumental foi previsto para abrigar os edifícios destinados a administração, a começar pelos ministérios, a maioria do quais já construídos. É no cruzamento dos dois eixos, rodoviário e monumental, que se situa o setor comercial, localizado de modo a favorecer e facilitar a vida de relações.
Brasília já nascera Capital. E pretendiam os seus fundadores que fosse, exclusivamente, uma capital administrativa, de modo que as demais funções surgissem em função do papel administrativo. Assim, não deveria tornar-se uma cidade industrial, a exemplo do que está ocorrendo com outras capitais regionais, nem um grande empório comercial. A própria população seria limitada a 500 mil habitantes, no máximo.
A definição de uma função indicou a arquitetura de um grande número de edifícios - entre os primeiros a serem construídos - bem assim a população que neles viria a trabalhar. Igualmente o interesse de atrair os funcionários residentes, na maioria, no Rio de Janeiro, aconselhou a adoção de uma política criando facilidades para a transferência, desde o pagamento de um salário em dobro, "a dobradinha", até o aluguel, a preço módico, de apartamentos de prédios construídos pelo próprio Governo.
Fonte(s): SANTOS, Milton. A cidade nos países subdesenvolvidos, Ed. Civilização Brasileira, Rio de Janeiro, 1965.
Franklin Martins: conexão política. Disponível em: [http://www.franklinmartins.com.br/estacao_historia_artigo.php?titulo=discurso-de-jk-na-inauguracao-de-brasilia-1960]. Acesso em: 11/02/2009.
SANTOS, Milton. A cidade nos países subdesenvolvidos, Ed. Civilização Brasileira, Rio de Janeiro, 1965.
XAVIER, Alberto; KATINSKY, Julio Roberto (Orgs.). Brasília: Antologia Crítica. Face Norte, volume 14. São Paulo: Cosac Naify, 2012.
Elizabeth Bishop
"Brasília fica numa planalto vazio, estéril, levemente ondulado, 1200 metros acima do nível do mar. Já haviam descrito o lugar para mim, mas eu não estava preparada para um ambiente tão inóspito e desolador: em comparação com quase qualquer outra região habitável deste país de beleza fantástica, é um lugar extraordinariamente despido de atrativos e nada promissor. Não há montanhas, nem sequer morros, nem rios que chamem a atenção (há um rio pequeno a certa distância, e dois riachos pequenos), nem árvores de porte razoável, nenhuma sensação de altitute, nem de grandiosidade, nem de segurança, nem de fertilidade; não há nem mesmo nada de pitoresco, nenhuma das qualidades inimagináveis que emprestam encanto ou personalidade a uma cidade."