1953
Índia
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Português
Marcadores
Grandes Equipamentos, Megaestruturas, Desenvolvimentismo
Colaborador
Lucas Vicente Alves da Silva; Tatiana Sant'Anna; Karine Souza
Citado por: 1
Departamento de Tecnologia da Informação de Chandigarh, 2013
"A semente de Chandigarh é bem semeada. É para os cidadãos verem que a árvore floresce " - Mon Le Corbusier
"Le Corbusier concebeu o plano diretor de Chandigarh como análogo ao corpo humano, com uma cabeça bem definida (o Complexo do Capitólio, Setor 1), coração (o Centro da Cidade, Setor-17), pulmões (o vale de lazer, inúmeros espaços abertos e verdes do setor ), o intelecto (instituições culturais e educacionais), o sistema circulatório (a rede de estradas, as 7Vs) e as vísceras (Área Industrial)."
Le Corbusier na Índia: O simbolismo de Chandigarh
Em Julho de 1947, se firmou a ata de independência e a dominação britânica sobre a Índia chegou ao seu término. Quando no ano seguinte se formou o Paquistão; o estado de Punjab se dividiu em dois, e milhões de refugiados se dispersaram em ambas as direções, derramando-se grande quantidade de sangue, e a antiga capital do estado, Lahore, ficou do lado do Paquistão. A adminsitração foi dirigida temporariamente desde Simla, a estação britânica da colina, mas era inadequado tanto do ponto de vista prático como simbólico. Era óbvio que devia fundar-se uma nova cidade que consolidasse a situação e que desse lugar aos refugiados (muito dos quais eram hindús, os sijis.).
P.L.Varma, engenheiro chefe de Punjab, e P.N.Thaphar, administrador estatal de obras públicas, examinaram alguns sítios. Antes de decidirem-se por um lugar situado entre os vales de dois rios, justamente ao lado da linha principal de Delhia Simla, a uma distância segura do Paquistão e em um ponto onde as enormes planícies começam a dobrar-se nas bordas do Himalaya. O transporte, a água, as matérias primas e a posição central dentro do estado eram, todas elas, considerações práticas, mas Varma insiste todavia que também foi decisiva a posição do genis loci. O lugar resultou-se propício: elegeram seu nome em memória de << Chandi>>, a deusa hindu do poder.
Desde o princípio ficou claro que Chandigarh não seria uma simples aventura local. Pandit Nehru e o governo central sentiram profundamente o desastre de Punjab e perceberam a importância de estabelecer em um lugar novas instituições e novos alojamentos. Nova Delhi aceitou arcar com um terço dos custos iniciais e o próprio Nehru recomendou a Albert Mayer, um urbanista americano com quem havia tido conhecimento durante a guerra, para que traçasse uma nova cidade. Matthew Nowicki, um arquiteto jovem e competente, que uma vez havia trabalhado com Le Corbusier, foi eleito para centrar-se nos temas arquitetônicos, incluindo o desenhos das principais instituições democráticas do Capitólio. O governo imaginava uma cidade moderna e eficiente, com os serviços mais modernos de esgoto e transportes.
Nerhu falava de espaços limpos e abertos que liberaram os indianos da tirania das cidades aborrotadas e imundas, assim como das limitações da vida agrícola e interiorana. Chandigarh devia ser, pois um instrumento visível e persuasivo do desenvolvimento econômico e social da nação, em consonância com a convicção de Nehru de que o país devia industrializar-se se não quisesse perecer. Devia ser uma mestra do patronato liberal e ilustrado, e mais tarde ele mesmo exaltaria Chandigarh como um << templo da Nova Índia>>.
O Plano de Mayer de 1950, organizava em setores em torno de uma hierarquia de pradarias verdes e estradas curvas. A zona comercial estava no centro, a área industrial ao Sudeste, e o Capitólio no Alto Extremo Nordeste, separado da parte residencial na borda do campo aberto.
Os poucos croquis de Nowicki que se conservam mostram que imaginava o Capitólio com uma série de objetos separados por espaços amplos e abertos. Começou a experimentar com um vocabulário de colunas e painéis para alguns dos edifícios. O Parlamento se apresentava como um zigurate espiral, sem dúvida habilmente inspirado no Projeto de Le Corbusier para o Mundaneum (1929). Mayer era um defensor das idéias da Cidade Jardim na América, e as estradas pitorescas e os espaços verdes combinados com edifícios de pouca altura encaixavam com esse ponto de vista, (además) de seguir a tradição britânica das zonas residenciais periféricas, situadas fora das numerosas cidades indianas. Mas a configuração global do Plano de Mayer assim como a situação da cidade de negócios como um ponto a parte, também lembram vagamente a Ville Radieusse de Le Corbusier.
O destino intercedeu na primavera de 1950, quando Nowicki morreu num acidente aéreo no Egito. Novamente Thapar e Varma se dispuseram a buscar outro arquiteto chefe. Seguiam pensando que na Índia não havia ninguém remotamente capaz de fazer algo assim (algo surpreendente dado aos hábitos da formação profissional durante o a dominação colonial). Foram a Londres e falaram com Jane Drew e Maxwell Fry, que tinham experiências com desenhos para os trópicos, mas que vacilaram em aceitar o trabalho e lhes recomendaram Le Corbusier.
Na primavera de 1951, Le Corbusier partiu para a Índia e conheceu o resto da equipe em um albergue da estrada de Simla, onde trabalharam durante umas quatro semanas. Mas os princípios gerais do novo Plano de Chandigarh ficaram estabelecidos em quatro dias. A princípio seguiam o de Mayer, como o contrato indicava que devia ser. Mas tanto Fry como Le Corbusier haviam encontrado flácidas as estradas curvas, de modo que Le Corbusier deixou retícula ortogonal enquanto Fry introduzia às escondidas estradas laterais curvas para dar uma certa variedade. O diagrama antropomórfico - cabeça, corpo, braços, espinha dorsal, estômago, etc - do novo plano estava acentuado mediante rotas axiais que se cruzavam na direção do centro, virava com mais exatidão à forma da Vila Radieuse.
Tradução: Tatiana Sant'Anna
Françoise Choay, 1959
[...] "O único exemplo a que se pode de fato comparar Brasília é o de Chandigarh, a cidade inteiramente construída por Le Corbusier com Maxwell Fry, Jane Drew e Pierre Jeanneret. Ora, nesse caso, uma liberdade quase ilimitada em matéria de criação urbanística foi refreada tanto por contigências econômicas bastante severas como por ideias pré-concebidas do "cliente", o governo indiano."
CHOAY, Françoise. Brasília - Uma Capital Pré-Fabricada. Tradução de Dorothée de Bruchardd. L'Oeil, n. 59, Paris, pp.76-83, Nov. 1959.
XAVIER, Alberto; KATINSKY, Julio Roberto (Orgs.). Brasília: Antologia Crítica. Face Norte, volume 14. São Paulo: Cosac Naify. pp. 60, 2012.
Sigfried Giedion, 1960
"Comparamos as dimensões das superquadras residenciais de Brasília com as das quadras residenciais de Le Corbusier, em Chandigarh. Estas medindo 800 x 1200m, têm espaço suficiente para que desenvolvam vida própria. Estão envoltas por vias de hierarquias distintas, mas permaneem em contato umas com as outras". (fig.1)
"[...] A satisfação dessas exigências futuras está contemplada nos elementos urbanos de Chandigarh, com duas dimentões de 800 x 1200m, pois, dentro de um perímetro fixo, ela combina com outros elementos construtivos urbanos uma implementação livre e relaxada."
GIEDION, Sigfried. Forma urbana e a fundação de Brasília. Bauen + Wohnen, n.8, Suiça, Ago. 1960, pp. 291-96.
XAVIER, Alberto; KATINSKY, Julio Roberto (Orgs.). Brasília: Antologia Crítica. Face Norte, volume 14. São Paulo: Cosac Naify, 2012. pp. 89-90.
Reyner Banham, 1962
"[...] Nada poderia ser mais diferenciado do que os edifícios governamentais em Chandigarh. Lá, a impressão é que Corbu estava convencido de que a obra tardia de um mestre é direta, áspera, inescrutável e ilusoriamente simples, e decidiu seguir nessa direção."
BANHAM, Reyner. Brasília. In Guide to Modern Archtecture. Tradução de Claudio Alvez Marcones. Londres: Architectural Press, 1962, p. 136-42.
XAVIER, Alberto; KATINSKY, Julio Roberto (Orgs.). Brasília: Antologia Crítica. Face Norte, volume 14. São Paulo: Cosac Naify, 2012. pp.110.