1956
Brasil, Distrito Federal
ProjetoIdiomas disponíveis
Português
Colaborador
Jiovana Santana, Dilton Lopes
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Proposta já em 1823 por José Bonifácio de Andrada e Silva, a criação de uma nova capital do Brasil no interior do país começa a se realizar em setembro de 1956, com a publicação do edital para o "Concurso Nacional do Plano Piloto da Nova Capital do Brasil" no Diário Oficial da União, por determinação do presidente Juscelino Kubitschek.
O objetivo do edital era promover o desenvolvimento do projeto a ser utilizado na implantação da nova capital. Foram inscritos 26 projetos, tendo sido classificado em primeiro lugar o projeto apresentado pelo arquiteto e urbanista Lúcio Costa, fortemente embasado pelos princípios da Carta de Atenas de 1933.
Empatados em Terceiro lugar estavam as propostas de Rino Levi e a dos M.M.M. Roberto.
Mário Pedrosa, 1957:
[...]"Eis por que o programa de Brasília, no seu imediatismo, tem algo de imaturo e, ao mesmo tempo de anacrônico. Esse caráter obscuro e híbrido de Brasília se refletiu na vaguidão por assim dizer filosófica e também na indistinção programática dos planos pilotos apresentados.[...] O de M.M.M. Roberto, no seu detalhismo excessivo, revelava, no fundo, certa consciência dessa decalagem de imediatismo e anacronismo inerente ao próprio programa estabelecido. E, por isso, procurou solucionar a incongruência com certa lógica, embora, infelizmente, ao nosso ver, de modo eclético, isto é, dando ênfase aos elementos que negam o isolamento e o oásis. Daí, o minucioso tratamento que deu à etapa regional, em detrimento do âmago urbanístico, das funções espirituais da metropóle política, cercados por um rígido contorno poligônico fechado, que acentua, num simbolismo significativo, a sua irremediável insaluridade."
"[...]Eis por que o plano de Lucio Costa - uma ideia - atingiu, sem ênfase, o monumental, enquanto o de M.M.M. Roberto, não, apesar do fervilhar de boas ideias. A "metrópole polinuclear" é uma dessas, mas, para transformá-la em realidade, não é necessário que os núcleos celulares sejam círculos ou polígonos regulares fechados. E, por isso, a solução formal que lhes deram os projetistas as faz parecer com canteiros geométricos num jardim suburbano. Para atender à escala humana, dividiram eles a metrópole em unidades urbanas autônomas de 72 mil habitantes. Muito bem; esqueceram, todavia, que enquadrá-las, para viver em autonomia, numa rigorosa simetria ortogônica, é fugir ao humano, é violentar a natureza, sobrepondo a geometria ao orgânico."
"[...]No projeto de M.M.M. Roberto, porém a articulação espacial é descontínua, enquanto o sistema circulatório exige, para tornar-se fácil, a compartimentação. E assim as comunicações entre as unidades, as ligações de conjunto metropolitano, do núcleo central aos dos perímetros mais afastados, se fariam por adições e não por integração."
Luiz Felipe Machado Coelho de Souza, 2014
A proposta dos Robertos para a capital não foi o resultado de um traço inspirado em um ideal representativo cristalizado, no qual a noção dominante de hierarquia deva prevalecer. Ao contrário, tratou-se de um plano baseado em questões regionais e sociais que objetivava a melhoria de qualidade de vida dos cidadãos. [...]
[...] O plano piloto para Brasília baseou-se nos princípios anteriormente adotados no projeto de Cabo Frio-Búzios. Aprofundou certos aspectos por exigências do edital [...]. O novo plano negava aglomeração de uma megalópole, uma cidade pensada para 500.000 habitantes, como determinava o programa. Propunha 7 agrupamentos de 72.000 habitantes. Também negava o imperialismo civil e militar resultante da ênfase dada ao poder econômico e declarava uma profissão de fé democrática e socializante; negava a construção de um símbolo tangível da democracia pela representação hierárquica dos 3 poderes, paradoxalmente, ausentando-se; negava o caráter monumental que se pretendia, constituindo, espacialmente, Brasília em forma democrática de uma federação de comunidades felizes.
[...] Na Brasília dos Robertos, as unidades urbanas distintas assumiram em suas cores e funções técnicas e administrativas essenciais da administração federal, substituindo a antiga ideia de ministérios ligados diretamente ao centro cívico. Em espaço à parte dos 7 núcleos, o Centro Cívico – o Parque Federal -, seria imutável e refletiria a organização democrática permanente dos 3 poderes; deveria ser discreto e representativo.
Em oposição ao plano de Lúcio Costa, o projeto dos Robertos partia do planejamento regional para chegar à definição do espaço urbano. A proposta de sustentava na organização de uma forma de vida em atenção aos habitantes e à região. Ele previa ademais dos núcleos urbanos, sítios e núcleos rurais, diferentemente do projeto de Lúcio Costa que pressupunha, a partir da cidade implantada, o planejamento regional imediato. [...]
[...] Willian Holford, professor da Universidade de Londres, um dos 7 membros do concurso, havia antecipado seus comentários acerca do projeto dos Roberto: “(...) o mais completo e minucioso projeto de urbanismo que lhe fora dado estudar em toda sua vida profissional e de professor”.
[...] O projeto dos Robertos acabou derrotado pelo de Costa, desenhado na véspera sobre uma folha de pão. Talvez residisse no ato revolucionário um dos motivos para a derrota no concurso. O júri escolheu o projeto que melhor refletia as estruturas sociais arcaicas.
[..] Embora o plano piloto apresentado pelos Robertos deva ser considerado como mais aprofundado e completo em matéria de interesse social do que o de Costa, a opção final do júri por este, ressalvando-se os aspectos ainda obscuros relativos e possíveis interferências irregulares até a divulgação do resultado final, traduziu de forma mais verdadeira os desejos da sociedade representada. Foi à opção politica brasileira por um modelo econômico liberal, posto em prática por Kubitschek, que reduziu os pequenos avanços sociais experimentados nas décadas anteriores e que aparece ter contribuído para a escolha do projeto de Costa devido à sua representatividade monumental.