Capa da primeira edição do livro "Five Architects: Eisenman, Graves, Gwathmey, Hejduk, Meier" (1972).
Os "Five Architects" ilustrados no artigo "European Graffiti" (1976), de Manfredo Tafuri. Da esquerda para a direita: acima, John Hejduk, Richard Meier e Michael Graves; abaixo, Peter Eisenman, Robert Siegel e Charles Gwathmey.
Páginas de abertura do texto de Kenneth Frampton para a primeira edição do livro "Five Architects" (1972). No bloco de imagens, o autor compara projetos de John Hejduk com obras de Piet Mondrian e Frank Lloyd Wright.
Páginas da segunda edição do livro "Five Architects" (1975), na seção dedicada à obra de Peter Eisenman. Apresentação e perspectiva axonométrica da Casa I (1967).
Edição de maio de 1973 da revista The Architectural Forum, com o dossiê "Five on Five" organizado por Robert Stern, com textos de Jaquelin Robertson, Charles Moore, Allen Greenberg e Romaldo Giurgola, além do próprio Stern.
Página do jornal The New York Times, com artigo de Paul Goldberger sobre os "Five Architects", em 26 nov. 1973.
Registros do encontro "Four Days in May" também conhecido como "White and Gray Meet Silver", realizado em maio de 1974 na UCLA (University of Calfornia, Los Angeles).
Cartaz da exposição "Seven Chicago Architects", realizada em dezembro de 1976 na Richard Gray Gallery em Chicago, já em sua segunda edição, depois de ter sido inaugurada na The Cooper Union, em Nova Yok naquele mesmo ano.
Páginas da edição de julho de 1996 da revista Vanity Fair. Quatro dos "Five Architects" foram fotografados por Josef Astor, reproduzindo a foto "The Skyline of New York", realizada no Beaux-Arts Ball de 1931, onde construtores de arranha-céus em Nova York estavam fantasiados de suas obras. Da esquerda para a direita: Michael Graves com o Humana Building; Charles Gwathmey com uma casa projetada para seus pais; Richard Meier com o MACBA; e Peter Eisenman com a Max Reinhardt Tower.
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A primeira edição, publicada pela editora Wittenborn numa pequena tiragem de 500 exemplares, ajudou a dar status de celebridade aos arquitetos envolvidos, que passaram a ser conhecidos como "The Five", "The New York Five", ou como "Os Brancos" (The Whites). Em 1973 a revista The Architectural Forum publicou o dossiê "Five on Five", organizado por Robert Stern, em que o grupo conhecido como "Os Cinzentos" (The Grays) - Romaldo Giurgola, Allan Greenberg, Charles Moore, Jaquelin Robertson e o próprio Stern - comentavam o livro e as obras em questão. Consolidou-se o debate Whites vs. Grays, que teve forte repercussão no debate arquitetônico estadunidense ao longo dos anos 1970. Uma nova edição do livro foi publicada em 1975, pela Oxford University Press, contando com acréscimos nos textos de Colin Rowe, uma considerável revisão do texto de Frampton (que troca o título anterior, "Criticism", por "Frontality vs. Rotation") e um posfácio de Philip Johnson.
Somaram-se a estes outros esforços de agrupamento de arquitetos nos Estados Unidos que apontavam para diferentes abordagens para a arquitetura contemporânea, fosse por uma revisão das vanguardas do começo do século XX ou pela apreciação de referências históricas, da cultura popular ou da alta tecnologia. Em um evento realizado em 1974 na Escola de Arquitetura da UCLA deu-se destaque aos "Prateados" (The Silvers), composto por arquitetos atuantes na Califórnia. Já em 1976, o grupo autodenominado The Chicago Seven, liderado por Stanley Tigerman, realizou mostras em Nova York e em Chicago defendendo sua postura como "Os Individualistas", sem se preocupar em encontrar pontos em comum entre os membros. A edição inaugural da revista Harvard Architecture Review (Spring 1980), sob o título "Beyond the Modern Movement", dava uma síntese geral do debate. Antes dela, outras revistas preparam edições especiais sobre o tema, a exemplo de a+u - Architecture and Urbanism (n. 52, abr. 1975) e L'Architecture d'Aujourd'Hui (n. 186, ago./set. 1976). O livro "Five Architects" conta com edições espanhola (Barcelona: Gustavo Gili, 1975) e italiana (Roma: Officina, 1976; 1981; 1998) - para esta última, foi incluído o texto "Les Bijoux Indiscrets", de Manfredo Tafuri. Outras exposições coletivas reuniram a obra dos cinco arquitetos, todas posteriores à publicação do livro: em 1974 na Princeton University e na University of Texas at Austin; e em 1975 na Art Net de Londres (galeria de Peter Cook) e em Nápoles, na Itália.
DREXLER, Arthur et al. Five architects: Eisenman, Graves, Gwathmey, Hejduk, Meier. 2. ed. Nova York: Oxford University Press, 1975.
EMANUEL, Muriel (Ed.). Contemporary architects. Londres; Basingstoke: Macmillan Press, 1980.
MALLGRAVE, Harry Francis; GOODMAN, David. An introduction to architectural theory: 1968 to the present. Chichester: Wiley-Blackwell, 2011.
STERN, Robert (Ed.). Five on Five. The Architectural Forum, Nova York, v. 138, n. 4, p. 46-57, mai. 1973.
VARNELIS, Kazys. The spectacle of the innocent eye: vision, cynical reason, and the discipline of architecture in postwar America. 1994. PhD Dissertation (History of Architecture and Urban Development)-Cornell University, Ithaca, 1994.
Arthur Drexler, 1975 [1972]:
"As obras apresentadas têm muito mais diversidade do que se poderia esperar de uma escola. Em comum, no entanto, elas têm certas propriedades de forma; de escala (todas são casas); e no tratamento do material (todas são de madeira com estrutura interna de aço). Do ponto de vista histórico, elas dão continuidade ao que Gropius e Breuer (e, antes deles, Richard Neutra) começaram com suas primeiras casas nos Estados Unidos: o desenvolvimento, através de obras residenciais em pequena escala, de um vocabulário de formas didático, mas neste caso sem algumas das restrições doutrinárias da preocupação alemã com o 'funcionalismo'." [p. 1]
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"The buildings shown have rather more diversity than one might expect from a school. But in common they have certain properties of form; scale (all are houses); and treatment of material (all are of wood with concealed steel framing). Historically they are continuing what Gropius and Breuer (and before them Richard Neutra) began with their first houses In the United States: the development through small scale residential work of a teachable vocabulary of forms, but this time without some of the doctrinaire restrictions of the German preoccupation with 'functionalism.'"
DREXLER, Arthur. Preface. In: DREXLER, Arthur et al. Five architects: Eisenman, Graves, Gwathmey, Hejduk, Meier. 2. ed. Nova York: Oxford University Press, 1975. p. 1, tradução nossa.
"[...] A arquitetura moderna europeia, mesmo quando operou nas fissuras do sistema capitalista, subsistiu dentro de uma atmosfera fundamentalmente socialista, mas não foi este o caso da arquitetura moderna americana. Foi assim, intencionalmente ou não, que nos anos trinta a arquitetura moderna europeia foi introduzida nos Estados Unidos: apresentada simplesmente como uma nova abordagem frente à construção - e nada muito além disso. Ou seja, foi introduzida, basicamente, sem o seu conteúdo ideológico ou social; apresentou-se não como uma manifestação (ou causa) do socialismo, e sim como um decor de la vie para Greenwich e Connecticut, ou como o verniz adequado para as atividades corporativas do capitalismo 'ilustrado'." [p. 4]
"Isto reforça mais uma vez que o physique e a morale da arquitetura moderna, seu corpo e sua palavra, nunca foram (nem poderiam ter sido) coincidentes. Quando reconhecemos que nem a palavra nem o corpo jamais foram coincidentes consigo próprias - para não dizer entre si - podemos então enfrentar, sem muita parcialidade, a situação atual. O que fazer sob tais circunstâncias? Se acreditamos que a arquitetura moderna constituiu de fato uma das grandes esperanças do mundo - sempre meio ridícula quando vista em detalhe, mas que jamais deve ser rejeitada in toto - então devemos aderir à physique-corpo ou à morale-palavra?" [p. 7]
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"[...] European modern architecture, even when it operated within the cracks and crannies of the capitalist system, existed within an ultimately socialist ambiance: American modern architecture did not. And it was thus, and either by inadvertence or design, that when in the Nineteen-Thirties, European modern architecture came to infiltrate the United States, it was introduced as simply a new approach to building-and not much more. That is: it was introduced, largely purged of its ideological or societal content; and it became available, not as an evident manifestation (or cause) of socialism in some form or other, but rather as a decor de la vie for Greenwich, Connecticut or as a suitable veneer for the corporate activities of 'enlightened' capitalism."
"Which is again to establish that the physique and the morale of modern architecture, its flesh and its word, were (and could) never be coincident; and it is when we recognize that neither word nor flesh was ever coincident with itself, let alone with each other, that, without undue partiality, we can approach the present day. For under the circumstances what to do? If we believe that modern architecture did establish one of the great hopes of the world - always, in detail, ridiculous, but never, in toto, to be rejected - then do we adhere to physique-flesh or to morale-word?"
ROWE, Colin. Introduction. In: DREXLER, Arthur et al. Five architects: Eisenman, Graves, Gwathmey, Hejduk, Meier. 2. ed. Nova York: Oxford University Press, 1975. p. 3-8, grifos do autor, tradução nossa.
"Tentarei analisar estes cinco trabalhos, basicamente, a partir de um ponto de vista formal. Creio ser necessário mencionar, logo de início, que é notável como essas obras são projetadas por arquitetos que, na verdade, gostariam de trabalhar com encomendas muito maiores. A maior parte dos projetos aqui apresentados sofre de certo exagero de escala. [...]" [p. 9]
"Para concluir, paira sobre todas as obras - exceto talvez no caso de Hejduk, como já mencionei antes - a aura do chamado espaço 'pós-corbusiano'. No entanto, é estranho que nenhuma dessas estruturas manipule o espaço de modo que pudesse lembrar a Maison Cook de Le Corbusier, onde o espaço é tratado tipicamente por ele como se fosse uma massa límpida. A Maison Cook compreende um complexo entrelaçado de blocos de espaço, onde o usuário visualiza [...] relações de massa-volume cambiantes e fugazes, evocadas ao passar pelos acessos verticais e ao andar em torno deles. Penso que são poucas as obras aqui apresentadas que ao menos tentam realizar isto. Paradoxalmente, apenas a casa Gwathmey contém um elemento-surpresa que possa ser comparado ao estranhamento que decorre de tal transposição do espaço." [p. 13]
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"I will attempt to discuss these five works largely from a formal point of view. I think that it is necessary to mention at the outset that one senses that these works are designed by architects who would ultimately like to work on much larger commissions. Thus, most of the projects displayed here suffer from a certain inflation in scale. [...]"
"Finally about all of these works, except possibly Hejduk's, there hovers, as I have remarked before, the aura of so-called 'post-Corbusian' space. Yet, strangely enough none of these structures manipulate space in a way that at all resembles the work of Le Corbusier's Maison Cook where space is typically handled by him as though it were limpid mass. Maison Cook comprises a complex interlocking of blocks of space in which one sees [...] changing, fugal, mass-volume relationships to be evoked in passing through and around the means of vertical access. I think there are few buildings here that even attempt to do that. Paradoxically only the Gwathmey house contains an element of surprise that is at all comparable to the shock that accrues to such a transposition of space."
FRAMPTON, Kenneth. Criticism. In: DREXLER, Arthur et al. Five architects: Eisenman, Graves, Gwathmey, Hejduk, Meier. Nova York: Wittenborn, 1972. p. 9-13, tradução nossa.
"A publicação quase simultânea de Five Architects e o Aprendendo com Las Vegas dos Venturis, espera-se, assinala para uma oportunidade de parar e refletir sobre o que é que nossa arquitetura representa para o momento atual. Isto nos dá a oportunidade de avaliar pontos de vista opostos que vem sendo descritos como, de um lado, Europeu/idealista, e do outro, Americano/pragmático, como exclusivo e inclusivo, conceitual e sensorial, invulnerável e vulnerável. Embora os dois livros - e, com isso, as ideias que eles incorporam - sejam bem o oposto um do outro, é possível afirmar que eles não tenham a mesma importância" [p. 46]
"[...] [Sobre a Casa Saltzman, de Richard Meier] O problema fundamental está na concepção da arquitetura como algo incansavelmente novo, abstrato e divorciado do lugar em que é construída. Afastada da paisagem e das tradições arquitetônicas que são, afinal de contas, os registros da experiência acumulada em um longo período de tempo." [p. 48]
"Five Architects não acertou no afinamento. O que antes foi concebido, no começo de 1969, como uma apresentação informal sobre obras em andamento aparece agora, mais de três anos e meio depois, como uma publicação pretensiosa, de papel espesso, brilhante, e com imagens em excesso. [...] [T]anta presunção por tão pouco que pareça ser, de fato, crucial ou relevante." [p. 48]
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"The almost simultaneous publication of Five Architects and the Venturis' Learning from Las Vegas marks, one hopes, an opportunity to step back and consider what it is that our architecture stands for at this time; it gives us a chance to evaluate opposing points of view that have been described as European/idealist on the one hand, American/pragmatic on the other, exclusive and inclusive, conceptual and perceptual, invulnerable and vulnerable. Although the two books, and for that matter the positions they embody, are pretty much opposite to each other, they are not of equal importance."
"[...] [On Richard Meier's Saltzman House] The fundamental problem is with the conception of architecture as insistently new, abstract and divorced from the place in which it is built: from its landscape and from its architectural traditions which are, after all, the records of experience over a long period of time."
"Five Architects is a victim of bad timing. What was conceived in early 1969 as an informal report on works in progress has now become, more than three and one-half years later, a major publication with slick, thick paper and overworked graphics. [...] [S]o much inflation of so little that seems really vital or important."
STERN, Robert. Stompin' at the Savoye. The Architectural Forum, Nova York, v. 138, n. 4, p. 46-48, mai. 1973, grifos do autor, tradução nossa.
"Tudo bem, então temos um grupo talentoso com boa visão, que desenham bem, projetam com elegância e são inteligentes o suficiente para se manterem dentro de uma abordagem arquitetônica adequada. O que mais eles fazem que gera tanto 'interesse' formal, tal como o selo de aprovação recebido do MoMA, na forma do prefácio tipicamente refinado de Arthur Drexler? Penso que são, essencialmente, duas coisas: uma, eles tratam arquitetura como uma 'arte superior' semelhante e até mesmo derivada da pintura, o que os leva para um seleto e bem guardado mundo da arte - e isso é perigoso. Em segundo lugar, eles tentam - sobretudo Eisenman - resolver certos problemas epistemológicos da teoria e da concepção arquitetônicas, a exemplo das diferenças entre questões de substância (as leis da gravidade, forças, resistência dos materiais, função etc.) e de forma (as normas da ordem, modelo, informação, significado). Essa investigação pode gerar frutos e não é irrelevante. No entanto, isso é algo difícil, esforços sérios frente à questão são raros e, normalmente, confusos do ponto de vista lógico. Aquele que se esforça, no entanto, merece crédito." [p. 50]
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"All right, so we have a gifted group with good eyes, who draw well, design with elegance and are intelligent enough to stay within a suggested architectural mode. What else do they do that warrants so much formal ‘interest' such as the MOMA seal of approval in the form of the characteristically refined forward by Arthur Drexler? I think essentially two things: One, they treat architecture as ‘high art' similar to and indeed derived from painting which brings them into a select and protected art world - and this is dangerous. Secondly, they attempt, particularly Eisenman, to sort out some of epistemological problems of architectural theory and conception; for example, the differences between questions of substance (the laws of gravity, forces, strength of materials, function, etc.) from those of form (the laws of order, pattern, information, meaning). This investigation is fruitful and not unimportant. But it is difficult, and decent attempts at it are rare and usually logically confused. One scores points for trying, nonetheless."
ROBERTSON, Jaquelin. Machines in the garden. The Architectural Forum, Nova York, v. 138, n. 4, p. 49-53, mai. 1973, tradução nossa.
"Os cinco arquitetos do livro em questão são um grupo e tanto e são muito poderosos. Membros da comunidade do 'Corbu de Papel', eles têm forte influência (de modo geral, eu creio, benigna) em muitas escolas de arquitetura e alguns deles são, sem dúvida alguma, a grande novidade nas revistas de arquitetura e decoração desde a estética Shibui. Um livro feito por eles e dedicado à sua obra deveria ter sido um evento importante. Eu acho, no entanto, que não foi." [p. 53]
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"The five architects in the book at hand are such a group and potent one. As the 'Cardboard Corbu' people, they have strong (and I thing generally benign) influence in many architecture schools and some of them, by all odds, are the biggest news in the shelter magazines since Shibui. A whole book by and about them should have constituted an important event. But, I don't think it did."
MOORE, Charles. In similar states of undress. The Architectural Forum, Nova York, v. 138, n. 4, p. 53-54, mai. 1973, tradução nossa.
"Os Five, como são chamados, publicaram seu trabalho ano passado em 'Five Architects', um livro que marcou o início de um forte debate da classe sobre eles. Este ano eles foram convidados a Milão para expor seu trabalho na Triennale - a exposição internacional de design. Junto ao arquiteto Robert Venturi, da Filadélfia - que, em muitos aspectos, é o seu oposto filosófico - os Five foram os únicos arquitetos convidados a representar os Estados Unidos na Trienalle." [p. 33]
"O diálogo segue adiante com a publicação, nesta semana, do primeiro número de Oppositions, uma revista financiada pelo Institute of Architecture and Urban Studies. Oppositions vai contar com ensaios de ambos os lados de uma cerca filosófica que divide o que certo arquiteto chamou, não sem certa propriedade, de brancos e cinzentos." [p. 52]
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"The Five, as they have come to be called, published their work last year in 'Five Architects,' a book that clearly marked the start of the profession's serious debate about them. This year, they were invited to Milan to exhibit their work at the Triennale, the international design exposition. Along with the Philadelphia architect Robert Venturi, who is, in many ways, their philosophical opposite, the Five were the only architects invited to represent the United States at the Triennale."
"The dialogue [between the Five and the Venturi school] will continue with the publication this week of the first issue of Oppositions, a magazine the Institute for Architecture and Urban studies is sponsoring. Oppositons will contain essays from both sides of a philosophical fence that divides what one architect has called, not inappropriately, the whites and the grays."
GOLDBERGER, Paul. Architecture's '5' make their ideas felt. The New York Times, Nova York, 26 nov. 1973. p. 33; 52, tradução nossa. Disponível em: <www.nytimes.com>. Acesso em: 17 dez. 2016.
"Seria difícil imaginar conferências mais divergentes do que os dois eventos arquitetônicos que compartilharam a mesma semana de abertura de maio. Num extremo do país a Graduate School of Design de Harvard e o Boston Globe patrocinaram uma conferência sobre 'As Profissões e o Ambiente Construído', enquanto a UCLA recebia um tipo de encontro completamente distinto. Em seu discurso de abertura na UCLA, referindo-se às sessões em Harvard, o arquiteto Peter Eisenman disse: 'Aqueles que estão interessados em ideias estão aqui, aqueles que estão interessados no negócio de ideias estão lá'. Embora as coisas não tenham sido assim tão divididas, o teor geral das conferências confirma a afirmação de Eisenman." [p. 26]
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"It would be difficult to imagine two more divergent conferences than the two architectural events that shared the opening week of May. At one end of the country, the Harvard Graduate School of Design and the Boston Globe sponsored a conference on "The Professions and the Built Environment" while UCLA was host to another kind of session altogether. In his opening remarks at UCLA, architect Peter Eisenman, referring to the Harvard meetings, said, "Those who are interested in ideas are here, and those who are interested in the management of ideas are over there." While things may not have been all that cleanly divided, the overall tenor of the conferences bore out what Eisenman said."
MURPHY, James A. White, gray, silver, crimson. Progressive Architecture, Stamford, p. 26; 30; 32, jul. 1974, tradução nossa.
"A publicação mais importante de Scully nos anos 1970 sobre arquitetura contemporânea foi um pequeno livro ensaístico, com o título The Shingle Style Today, or, The Historian's Revenge (1974). [...] [A]o argumentar em favor de Venturi, Charles Moore e seus estudantes e seguidores - e não qualquer um dos membros do New York Five - como aqueles a serem creditados por seguir e desenvolver o legado de Le Corbusier, The Shingle Style Today inseriu-se em um debate sobre o uso da história e a crítica ao modernismo que o próprio Venturi foi responsável por trazer à tona, com seu livro Complexidade e Contradição. Nas revistas profissionais e mesmo na imprensa popular, os dois lados opostos na batalha foram apelidados de os 'Brancos' (por sua exclusividade purista) e os 'Cinzentos' (por seu inclusivismo eclético), geralmente admitindo-se Colin Rowe como porta-voz crítico do primeiro e Scully do segundo." [p. 26]
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"Scully's single most important publication of the 1970s relating to contemporary architecture was the short, essay-like book entitled The Shingle Style Today, or, The Historian's Revenge (1974). [...] Further making the case that it was Venturi, Charles Moore, and their students and followers - rather than any one of the New York Five - who should be credited with building upon and developing Le Corbusier's legacy, The Shingle Style Today inserted itself into a debate about the use of history and the critique of modernism that Venturi himself was responsible for bringing out into the open with his book Complexity and Contradiction. In the professional journals, and even the popular press, the two opposing sides in the battle were dubbed the 'Whites' (for their purist exclusiveness) and the 'Grays' (for their eclectic inclusiveness), with Colin Rowe generally accepted as the critical standard-bearer for the former and Scully for the latter."
LEVINE, Neil. Vincent Scully: a biographical sketch. In: SCULLY, Vincent. Modern architecture and other essays. Princeton: Princeton University Press, 2003. p. 12-33, grifos do autor, tradução nossa.
"[...] Na raiz da posição dos 'Cinzentos' encontra-se a rejeição da arquitetura antissimbólica, anti-histórica, hermética e altamente abstrata da ortodoxia moderna. Os 'Cinzentos' aceitam a diversidade, preferem as formas híbridas às formas puras, incentivam a diversificação e simultaneidade de leituras para aumentar o conteúdo expressivo. A configuração dos espaços que caracterizam grande parte da arquitetura 'Cinzenta' encontra seu complemento na aplicação de referências culturais e artístico-históricas sobre a fachada. Para a arquitetura 'Cinzenta', 'mais é mais'." [p. 83]
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"[...] A la racine de la position des « Grays », on trouve le rejet de l'architecture anti-symbolique, anti-historique, hermétique et hautement abstraite de l'orthodoxie moderne. Les « Grays » acceptent la diversité, ils préfèrent les formes hybrides aux formes pures, ils encouragent la diversification et la simultanéité des lectures pour magnifier le contenu expressif. La configuration des espaces qui caractérise une grande partie de l'architecture « Gray » trouve son complément dans l'application de références culturelles et artistico-historiques sur la façade. Pour l'architecture « Gray », « plus est plus »."
STERN, Robert. Gray architecture: quelques variations post-modernistes autour de l'orthodoxie = Gray architecture as Post-modernism or up and down from orthodoxy, L'Architecture d'Aujourd'Hui, Paris, n. 186, p. XL; 83, ago./set. 1976, tradução nossa.
"Em 1973 OS VENTURI, ou arquitetos pop, lançaram um ataque aos BRANCOS que, na fase de planejamento, pareceu uma grande brincadeira. Foi num artigo intitulado 'Five on Five' publicado na Architectural Forum. A idéia era que cinco arquitetos da ala Venturi - Moore, Stern, Jaquelin Robertson, Allan Greenberg e Romaldo Giurgola - fariam uma crítica de Five Architects. [...]" [p. 91]
"Os jovens arquitetos europeus não conseguiam crer no que estava acontecendo. Aqueles eternos colonizadores [*], aqueles nativos obedientíssimos, os americanos, tinham usurpado a vanguarda, imaginem só, da teoria da arquitetura. Estavam se divertindo a valer, mesmo em meio à depressão comercial que afetava a profissão. A mesma depressão atingira a arquitetura européia. Em alguns aspectos, fora até mais grave. Encomendas particulares quase já não existiam. Os arquitetos sentavam-se por ali mordiscando estudos governamentais de viabilidade, qualquer coisa que aparecesse. Por que não fazer como os americanos? Um teórico de arquitetura poderia construir uma reputação sem encomendas. Poderia no mínimo obter convites para palestras e seus desenhos poderiam valer dinheiro." [p. 92]
[*] N.C.: A expressão aparece como "those eternal colonial" no original em inglês. Poderia ser traduzida como "aqueles eternos colonos", para reforçar a noção de dependência cultural dos Estados Unidos frente à Europa, mantendo-se assim mais fiel ao restante do parágrafo.
WOLFE, Tom. Da Bauhaus ao nosso caos. Rio de Janeiro: Rocco, 1990, grifos do autor.
"Os grupos compartilham, antes de tudo, a disposição de usar o precedente histórico e a crença de que a arquitetura tem um significado simbólico. Ambos trabalham em pequena escala, realizando programas tradicionais como o da casa unifamiliar, edifício de apartamentos ou escolas. Compartilham de uma indiferença pelas megaestruturas, por projetos feitos no computador e outros exemplos de ultra tecnologia. Eles querem fazer arquitetura de modo bastante tradicional, numa condição em que o fator crucial é a forma. Ambos são elitistas." [p. 114]
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"The groups share, first, a willingness to use historical precedent, and a belief that architecture carries a symbolic meaning. They both work as small scale, carrying out traditional programs such as that of the single-family house, the apartment dwelling, or the school. They share an indifference to megastructures, computer design, and other examples of super technology. They want to make architecture in a fairly traditional way, and in a way in which form is crucial factor. They are both elitist."
GOLDBERGER, Paul. Should anyone care about the New York Five?... or about their critics, the Five on Five?. The Architectural Record, Nova York, v. 155, n. 2, p. 113-116, fev. 1974, tradução nossa.
"Ao abordar a obra arquitetônica dos chamados Five Architects, deixaremos de lado as questões que vêm preocupando tantos americanos. Não estamos interessados em averiguar se eles constituem de fato uma 'Escola de Nova York', nem se eles são um grupo autoproclamado criado deliberadamente para estabelecer uma cisão no mercado de arquitetura americana. Em vez disso, assumiremos que os Five estão ligados uns aos outros por laços mais ou menos fortes e que eles alcançaram, pelas vias mais distintas, uma 'poética da nostalgia' comum, o que é algo interessante por si mesmo, pelo simples fato de ser uma manifestação do comportamento das elites. [...] Tudo isso para concluir que falar de arquitetura, atualmente, é falar de eventos que, na melhor das hipóteses, devem ser um testemunho dos sonhos inquietos que perturbam a sonolenta consciência intelectual." [p. 37]
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"In approaching the architectural work of the so-called Five Architects, we shall lay aside those questions which have preoccupied many Americans. We are not interested in ascertaining whether they do in fact constitute a 'New York School,' or whether they are a self-proclaimed group deliberately created to drive a wedge into the American architectural marketplace. We will assume instead that the Five are bound to each other by more or less strong ties and that they have reached, by means of even disparate paths, a common 'poetics of nostalgia' that is interesting in itself, if only because it is a manifestation of upper-class behavior. [...] So much by way of stating that to speak of architecture today is to speak of events which, at best, are expected to be a testimony to the restless dreams which disturb the half-awakened intellectual conscience."
TAFURI, Manfredo. European Graffiti: Five x Five = Twenty-five. Oppositions, Nova York, n. 5, p. 35-73, Summer 1976, tradução nossa.
"Comecei meu livro New Directions in American Architecture, em 1969, propondo uma polêmica entre o grupo de arquitetos que chamei de 'exclusivistas' e um novo grupo de 'inclusivistas', um debate que continua a ser o foco principal deste pós-escrito. Em 1961 [sic] [*], considerei os 'inclusivistas' - que desde 1974 são conhecidos como os arquitetos 'pardos' - como formando uma terceira geração de modernistas. Hoje, no entanto, vejo de maneira muito diferente a posição desses arquitetos: eles são a primeira geração de arquitetos pós-modernos, os responsáveis por uma atitude que marca uma ruptura significativa com as três gerações do movimento moderno e com seu, assim chamado, Estilo Internacional, isto é, com a primeira geração, a de Le Corbusier e Mies, com a segunda geração, a de [Philip] Johnson, [Kevin] Roche e [Paul] Rudolph, e com a terceira, representada por Richard Meier, Charles Gwathmey e Peter Eisenman." [p. 116]
"De certa forma, pode-se dizer que a polêmica entre o exclusivismo 'branco' e o inclusivismo 'pardo' constitui uma batalha de estilos, não muito diferente da que se travou nos Estados Unidos durante a última grande depressão econômica, quando o modernismo do Estilo Internacional lutou por aceitação contra os costumes tradicional-progressistas prevalecentes. Mas a batalha dos anos 1970 não exclui certa ironia: o 'admirável mundo novo' modernista de cinqüenta anos atrás é visto pelos pós-modernistas de hoje como uma ortodoxia sufocante e nada irrelevante, ao passo que os modernistas da terceira geração buscam um retorno às formas e valores do modernismo pioneiro da década de 1920, ainda que sua obra construída muitas vezes esteja mais próxima do Estilo Internacional Americano da década de 1930, provinciano, pragmático e de segunda mão, do que dos protótipos europeus, mais puros e mais rigorosamente abstratos." [p. 117]
[*] N.C.: Como apontado logo no começo do parágrafo, Stern está se referindo ao ano de 1969, quando publica a primeira edição de "New Directions in American Architecture". A indicação do ano está correta no texto original, na segunda edição do livro (Nova York: George Braziller, 1977).
STERN, Robert A. M. Novos rumos da moderna arquitetura norte-americana: pós-escrito no limiar do modernismo. In: NESBITT, Kate (Org.). Uma nova agenda para a arquitetura: antologia teórica, 1965-1995. 2. ed. São Paulo: Cosac Naify, 2008. p. 116-126, grifo do autor.
"Os projetos apresentados na sessão [no MoMA] junto à crítica de Frampton tornar-se-iam o livro Five Architects, certamente o livro mais influente na disciplina durante os anos 1970. Five Architects serviu como um fantástico dispositivo publicitário para seus participantes. Conhecido como os New York Five, os Five, ou os Brancos - pela aparência branca que sua arquitetura ganhou na publicação, impressa predominantemente em preto e branco - Eisenman, Graves, Gwathmey, Hejduk e Meier figuraram entre as maiores celebridades arquitetônicas da arquitetura nos Estados Unidos entre os anos 1970-1980.
O lançamento do livro e do grupo (cuja maioria dos membros negou desde a época sequer ter existido) a partir de uma sessão fechada deu ao projeto um ar de conspiração, como explicou Kenneth Frampton em uma palestra retrospectiva sobre o surgimento do New York Five: 'Suponho que estou aqui porque eu sou visto como sendo parte da conspiração - a conspiração dos Five'." [p. 157]
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"The projects presented at the session together with Framptonʼs critique were to become the book Five Architects, arguably the most influential single book in the discipline during the 1970. Five Architects served as a fantastic promotional device for its participants. Known interchangeably as the New York Five, the Five, or the Whites - for the white appearance their architecture took on in the predominantly black and white publication - Eisenman, Graves, Gwathmey, Hejduk, and Meier went on to become some of the major architectural celebrities of architecture in the United States during the 1970s and 1980s.
The arrival of the book and the group (most of the members of which have since denied ever existed) out of a closed session gave the project an air of conspiracy, as Kenneth Frampton has explained in a retrospective talk on the emergence of the New York Five: 'I suppose I am here because I am perceived as being part of the conspiracy - the conspiracy of the Five.'"
VARNELIS, Kazys. The spectacle of the innocent eye: vision, cynical reason, and the discipline of architecture in postwar America. 1994. PhD Dissertation (History of Architecture and Urban Development)-Cornell University, Ithaca, 1994, grifos do autor, tradução nossa. Disponível em: <varnelis.net>. Acesso em: 20 dez. 2016.
"Apesar dos seguidores norte-americanos de Aldo Rossi, o Neo-racionalismo não exerceu muita influência sobre a evolução da arquitetura nos Estados Unidos. Em parte, isso pode ser atribuído a sua falta de relevância para a cidade norte-americana, que não tem em parte alguma a mesma complexidade tipológica e morfológica de seu equivalente europeu. A tese da Tendenza sobre a 'continuidade do movimento' [sic] [*] não poderia ter muita credibilidade numa sociedade em que o contexto urbano é tão instável. Por outro lado, na segunda metade dos anos 1960 fez-se uma tentativa de desenvolver uma produção teórica e artística tão rigorosa quanto a alcançada pela vanguarda européia do pré-guerra. Esse esforço cristalizou-se ao redor da obra dos Five Architects, uma associação um tanto indefinida de arquitetos de Nova York, liderados por Peter Eisenman. [...] O compromisso do New York Five com a idéia de uma arquitetura autônoma, distanciada daquilo que viam como o funcionalismo redutivo da Neue Sachlichkeit, foi mais enfaticamente expresso na Casa VI de Eisenman, a Casa Frank, construída em West Cornwall, Connecticut, em 1972, e em alguns projetos polêmicos de Hejduk - sua série Diamond Houses (1963-67) e, sobretudo, em sua Wall House (1970). [...]
Os membros do New York Five não foram os únicos arquitetos de fins dos anos 1960 a fundamentar sua obra nas premissas estéticas e ideológicas da vanguarda do século XX. O papel por eles assumido em Nova York repercutiu, em Londres, na obra do OMA (Office for Metropolitan Architecture), do qual faziam parte Rem Koolhaas, Elia e Zoe Zenghelis e Madelon Vriesendorp. Como Hejduk, cuja obra inicial foi ecleticamente inspirada, em igual medida, pelo Neoplasticismo e pela última fase de Mies, Koolhaas e Zenghelis basearam seus projetos urbanos na arquitetura suprematista de Ivan Leonidov, ao mesmo tempo que se voltavam para a prática surrealista em busca daquilo que Roland Barthes chamava de 'répétition différente'." [p. 377-378]
[*] N.C.: No texto original - a terceira edição de "Modern Architecture: A Critical History" (Londres: Thames and Hudson, 1992) - a expressão aparece como "continuity of the monument". Frampton está se referindo às teorias sobre a continuidade do monumento com relação à cidade, noção muito cara a Aldo Rossi e a outros teóricos da Tendenza, e não à continuidade do movimento moderno, como a tradução dá a entender.
FRAMPTON, Kenneth. Histórica crítica da arquitetura moderna. São Paulo: Martins Fontes, 2003.
"A associação da linguística à teoria da arquitetura e aos mecanismos de projeto foi um processo devedor da forte influência do pensamento estruturalista na disciplina. Porém, se por um lado o estruturalismo forneceu as credenciais para uma autonomia disciplinar em base formal, por outro, o uso e abuso de códigos semânticos derivaram num caminho sem saída para a arquitetura das décadas de 70 e 80.
A questão formal foi um aspecto que permeou as críticas ao Movimento Moderno. Ainda que não explicitada, é possível encontrar neste debate uma argumentação que ocultava sob o discurso da história, da memória e da tradição, um débito ao conceito de forma entendido como permanência e representação. Tanto a abordagem neorracionalista, que cristaliza o estudo da tipologia como instrumento de projeto, como a vertente em que situamos os Five Architects de Nova York [Pós-funcionalismo]: singularizam-se pelo uso, em variados graus, dos recursos da sintaxe e da experimentação formal. Outras posturas, também derivadas desta mesma crítica, priorizam interpretações de viés semiológico, semântico, no qual a questão figurativa se faz mais evidente." [p. 48-49]
BRONSTEIN, Laís. Sobre a crítica ao movimento moderno. In: LASSANCE, Guilherme et. al. (Org.). Leituras em teoria da arquitetura, 2: textos. Rio de Janeiro: Viana & Mosley: FAPERJ, 2010. p. 32-51, grifos da autora.
"Num momento de extrema lucidez, Rem Koolhaas escreveu que o que os arquitetos fazem normalmente é criar soluções racionais para problemas irracionais. Por mais contraditória que essa situação seja, ela reflete uma verdade: a arquitetura de uma sociedade irracional (ou assim percebida pelos seus críticos) não consegue se libertar da mesma, abraçando o paradoxo como parte de seu modus operandi, mesmo que o arquiteto chamado a atuar não compartilha dos mesmos valores que a sustentam. Isso é, uma arquitetura que se realiza e se torna obra construída, apesar da irracionalidade do programa que a gerou."
"Essa discussão no mínimo interessante representou um dos pilares teóricos da pós-modernidade, que explorou as contradições entre esse total design moralizador (baseado numa ideologia de socialização dos benefícios de uma sociedade de massa) e uma sociedade burguesa voltada ao consumo, frívola e gulosa, que atingiu essa socialização por outro caminho, deixando os capitalistas com grandes lucros e uma imensa classe média com um padrão de vida jamais visto na história da humanidade.
Coincidindo com as dificuldades econômicas e a ausência de liberdade encontradas no mundo socialista (quem pode ser a favor de um ‘admirável mundo novo'?), essa revisão tinha a clara intenção de buscar um novo caminho, dentro do capitalismo avançado, para a arquitetura, o que levaria, entre os anos 70 e 90, a fenômenos como os Five Architects (a racionalidade adaptada ao consumo da elite americana) e o New Urbanism (bairros tradicionais no lugar do sprawl suburbano). Dois exemplos da capacidade do capitalismo de consumir ideias até opostas e torná-las partes do big business."
PADOVANO, Bruno Roberto. A lógica na arquitetura. Arquitextos, São Paulo, ano 12, n. 141.01, fev. 2012, grifos do autor. Disponível em: <www.vitruvius.com.br>. Acesso em: 27 dez. 2016.
"Apelidados de 'Cinzentos' [Grays] pelos críticos, devido à tonalidade descorada que os exteriores de pinho Douglas adquiriam quando expostos aos elementos,Venturi, Moore e seus seguidores seriam considerados os criadores de um novo 'Shingle Style', alusão à arquitetura residencial da segunda metade do século XIX então sendo redescoberta por Scully. Todavia, não iria tardar que, às suas pesquisas, se opusessem aquelas dos 'Brancos' [Whites], jovens arquitetos nova-iorquinos ansiosos por reviver as teorias e formas do modernismo radical da década de 1920 e que vão constituir a facção elitista da oposição à arquitetura dos grandes escritórios. Como muitos outros, eles estavam fascinados pelas ideias do arquiteto e historiador britânico Colin Rowe, então lecionando na Universidade de Cornell, no norte do estado de Nova York, e cujas análises da transparência 'literal' e 'fenomenal' tinham sido formuladas em parceria com o pintor Robert Slutzky em meados da década de 1950, na Universidade do Texas em Austin. [...]" [p. 396-400]
"A oposição entre uma arquitetura erudita, altamente intelectualizada - como a do New York Five - e os estilos tidos como 'populares' foi também um dos fatores que levaram à revolta mundial dos estudantes de arquitetura. Retornando aos episódios iniciais do movimento moderno, agora com um espírito mais crítico do que de consagração, e reavaliando quais de seus edifícios e projetos mereciam um reexame cuidadoso, a geração mais jovem pretendia recuperar uma dimensão experimental perdida. A atenção aos usos e a suas transformações no tempo já estivera presente desde a década de 1950 no trabalho de Aldo van Eyck, umdos fundadores do Team X. [...]" [p. 402].
COHEN, Jean-Louis. O futuro da arquitetura desde 1889: uma história mundial. São Paulo: Cosac Naify, 2013.
"[...] Ao argumentar que certas obras de arquitetura dos anos 1970 e 1980 ajudaram a dar os contornos do pós-modernismo propriamente dito, Jameson, em particular, encontrou uma confirmação na angustiada dialética antes elaborada por Tafuri, ainda que em termos 'anti-pós-modernistas' decididamente negativos. Olhando retrospectivamente, numa perspectiva arquitetônica, essa negatividade parece justificada. Hoje em dia a citacionalidade multicodificada, geralmente entendida como um traço da arquitetura pós-moderna, com suas mensagens misturadas e sem compromisso que apontam para uma aceitação da 'inevitabilidade' histórica do desenvolvimento capitalista, foi eclipsada por uma combinação épica de neopragmatismo e tecno-triunfalismo que deixa ainda menos espaço para o dissenso. Esta celebração acrítica dos imperativos da 'prática' foi acompanhada por um rappel à l'ordre anti-intelectual que é a verdadeira herança do debate Cinzentos/Brancos, filtrado no final dos anos 1990 pela euforia da 'nova economia'." [p. 31]
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"[...] In arguing that certain works of architecture from the 1970s and 1980s helped draw the contours of postmodernism proper, Jameson in particular has found confirmation in the anguished dialectic charted by Tafuri, though in resolutely negative 'anti-postmodernist' terms. Seen retrospectively, and from an architectural perspective, this negativity seems justified. Today, the multicoded citationality generally understood to be characteristic of postmodern architecture, with its noncommittal mixed messages signaling an acceptance of the historical 'inevitability' of capitalist development, has been eclipsed by an epic combination of neopragmatism and techno-triumphalism that leaves even less room for dissent. This acritical celebration of the imperatives of 'practice' has been accompanied by an anti-intellectual rappel à l'ordre that is the true legacy of the Gray/White debate, filtered in the late 1990s through the euphoria of the 'new economy.'"
MARTIN, Reinhold. Utopia's ghost: architecture and postmodernism, again. Minneapolis; Londres: University of Minnesota Press, 2010, grifo do autor, tradução nossa.