1960
Japão
Fato RelevanteIdiomas disponíveis
Português
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Megaestruturas, Verticalização
Colaborador
Leonardo Vieira e Diego Mauro
Kenzo Tange. Plano para Tóquio, 1960. As habitações à direita e, ao fundo, o eixo da zona coletiva com a via expressa.
Arata Isozaki. City in the Air, 1960. Silkscreen de 1990. "Outra imagem famosa, quase um totem do metabolimo, com as pontes habitáveis da nova cidade passando desdenhosamente por cima das ruínas de culturas urbanas anteriores e do contaminado presente, procedimento também proposto por outros autores não-japoneses, especialmente Yona Friedman" (BANHAM, 1976:56)
Kisho Kurokawa. Projeto de Cidade em Hélice para Tóquio, 1961. "Este projeto, talvez o mais reconhecível dos metabolistas japoneses, foi pensado inicialmente como proposta para reconstrução do bairro de Ginza, em Tóquio, mas posteriormente assumiu uma vida independente nas páginas das revistas, como símbolo definitivo do metabolismo. (BANHAM,1976:56)
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O movimento metabolista japonês insere-se no contexto das megaestruturas, muito difundidas nas décadas de 50, 60 e 70 em várias partes do mundo, que são grandes estruturas que tentam abarcar a complexidade de uma cidade ou parte dela. Os projetos megaestruturais frequentemente estão associadas a noções como adaptabilidade, flexibilidade, multifuncionalidade, imprecisão e possuem muitas vezes um caráter utópico.
Kenzo Tange, 1959
"Tóquio cresce, mas não há mais terra, por isso tendemos a crescer em direção ao mar... As pessoas se deslocam diariamente ao centro da cidade e devem regressar logo, pela tarde, a suas casas, situadas fora da cidade. O tempo que o homem médio necessita para esta viagem é de uma hora. (...) Neste projeto, o arquiteto pensa no futuro da cidade. Dividiu-a em dois elementos, um permanente e o outro transitório. (...) O elemento estrutural é concebido como uma árvore - elemento permanente - com as unidades de habitação como folhas - elemento temporários - que caem e voltam a brotar segundo as necessidades do momento. Dentro dessa estrutura, os edifícios podem crescer, desaparecer e voltarem a crescer, mas a estrutura permanece."
(Discurso de Tange no CIAM de Otterloo)
Adriana Mattos de Caúla e Silva, 2008
"Os metabolistas protestavam continuamente e ativamente contra o planejamento urbano gerado pelo CIAM, contra academias e instituições, contra ‘estático formalismo moderno de caixas quadradas'. Eles diziam estar suplantando a analogia feita pelo movimento moderno da cidade como máquina e implantando outra analogia, a da cidade como organismo vivo. A tomada da cidade como organismo vivo se associava a idéia de produção do espaço urbano expressando características da civilização de seu tempo (idéia comum à Renascença). A dinâmica da cidade era um dos pontos centrais na composição de suas macroestruturas." p. 46-47
"(...) Para eles a megaestrutura aceitaria naturalmente a dinâmica espacial das cidades, era a resposta para o expressivo crescimento e desenvolvimento das cidades japonesas (...)." p. 47
"As megaestruturas foram criadas como padrões capazes de abrigar um grande volume de redes de comunicação, suportar alta densidade de ocupação, a multiplicação de meios de transporte, acolher fluxos migratórios e ao mesmo tempo permitir a liberdade de ocupação e localização dos elementos urbanos como de sua estrutura principal." p. 47-48
"As utopias metabolistas expressam o sentido de movimento através do desenvolvimento do processo de metabolismo, apresentado como único capaz de suportar mudanças, transformações e trocas urbanas. Estas utopias urbanas seriam capazes de se modificar através de três processos: regeneração, crescimento e transformação. São outras cidades criadas dentro das cidades existentes, que surgem nos interstícios, no vácuo do espaço urbano consolidado opondo-se à prática da tábula rasa." p. 48
Fumihiko Maki, Masato Otaka, Kiyonori Kikutake, Kisho Kurokawa e Noboru Wakazoe, 1960
"Consideramos a sociedade humana como um processo vivo (...) Não pensamos que o metabolismo significa uma simples aceitação de processos naturais e históricos, procuramos sim favorecer o desenvolvimento metabólico ativo da nossa sociedade por meio das nossas propostas."
Reyner Banham, 1976
"(...) A obra do grupo metabolista não apenas prometia estimulantes avanços nos problemas estagnados de planejamento urbano, como também uma estética detalhada que monumentalmente era atrativa. O que os metabolistas faziam era respaldar as ambições megaestruturalistas de seus colegas ocidentais, e eles sabiam disso. (...)
A primeira exposição representativa do projeto metabolista fora do Japão ocorreu no CIAM/Team X em Otterloo, de 1959. Kenzo Tange, como participante convidado, apresentou não apenas um de seus projetos pré-metabolistas, como também dois de Kiyonoru Kikutake, sendo um deles a 'Cidade do mar: terra para a vida do homem, mar para o funcionamento das máquinas'. (...) Ao apresentar em 1959 os projetos de Kikutake, Tange fundamentou os pontos-chave do metabolismo, ainda que sem usar esta palavra. (...)
Desde a apresentação inicial de Tóquio como crise urbana até a analogia conclusória do metabolismo da estrutura urbana, Tange expressa, [no congresso do CIAM de 59] de forma comprimida, toda a ideologia metabolista. Muito pouco se acrescentou, no avolumado corpo de textos posteriores do movimento, a estas posições básicas: que nas cidades superpovoadas devem criar-se terrenos artificiais, e que os distintos elementos construtivos da cidade têm distintas proporções naturais de câmbio metabólico. A simplicidade intelectualmente paralisante deste 'programa teórico' pode ter influenciado tanto no impacto internacional do metabolismo como o sedutor monumentalismo de suas formas visionárias descomunais. Nem a Europa nem os Estados Unidos tinham nada comparável a oferecer, ainda que tivesse sido nos Estados Unidos onde o próprio Tange chegou a realizar o projeto tão frequentemete aclamado como a primeira megaestrutura real [O projeto de urbanização do Porto de Boston, de 1959]. (...)
O projeto [da Baía de Tóquio] possui um ar de autoridade que não seria alcançado por nenhuma das obras posteriores de Tange (...) nem seria igualado por seus colegas mais jovens que propriamente constituíam o grupo metabolista. Falando com franqueza, os croquis visionários destes parecem, em comparação, descuidados e incompletos, mesmo se forem tomados como modelos formais, como nos casos da Cidade do mar, de Kikutake, dos Helicóides, de Kurokawa ou da Cidade do espaço, de Isozaki. (...)A baía de Tóquio concebida por Tange elevou a escala do raciocínio megaestrutural a um nível de imensidade monumental do qual já não se podia decair. Os demais arquitetos, escolas e movimentos que já se moviam na mesma direção apenas puderam pagar-lhe a sincera adulação da imitação, e com o tempo demonstraram que, assim como os metabolistas menores, careciam de uma visão formal e da constante capacidade inventiva requerida. O movimento megaestrutural japonês não teve mais que uma vida de criatividade muito curta - seu ‘academicismo de utopias' já era visível em 1966 para Manfredo Tafuri -, mas a repercussão que produziu nos dois movimentos europeus contemporâneos, na França e Itália, parece ter sido absolutamente destrutiva. O declínio destes parece datar do momento em que tomaram consciência da enormidade daquilo que os japoneses já haviam realizado."
Kenneth Frampton, 1980
"A obra do Archigram tinha afinidades surpreendentes com a dos metabolistas japoneses, que, reagindo às pressões da superpopulação de seu país, começaram, no final dos anos 1950, a propor o desenvolvimento e a adaptação de megaestruturas "de encaixe" nas quais as células vivas, como na obra de Noriaki Kurokawa, seriam reduzidas a casulos pré-fabricados presos a enormes arranha-céus helicoidais. (...) As cidades flutuantes de Kikutake estão certamente entre as visões mais poéticas do movimento metabolista. Contudo, apesar da proliferação de plataformas de perfuração em alto-mar, com seus complementos funcionais dedicados à extração de energia, as cidades marinhas de Kikutake parecem cada vez mais remotas e inaplicáveis à vida cotidiana do que as megaestruturas do Archigram. Um testemunho do vanguardismo retórico do movimento está no fato de a maioria dos metabolistas ter-se voltado para práticas mais convencionais. (...) Com a exceção da Sky House de Kikutake, de 1958, e da torre Nagakin com cápsulas para solteiros, construída por Kurokawa em Ginza, Tóquio, em 1971 (cf. os apartamentos capsulares de Kurokawa, de 1962), muito poucos conceitos metabólicos foram realizados na prática.
Florian Urban, 2009
"Em maio de 1960, a World Design Conference foi celebrada em Tóquio. Ela recebeu uma resposta altamente favorável da mídia européia e norte-americana. Entre os oradores estavam Peter Smithson, Herbert Boyer, Tomas Maldonado, Kenzo Tange e Kisho Kurokawa. No contexto da conferência, dois eventos em particular chamaram a atenção do mundo internacional da arquitetura. O primeiro era o plano de Kenzo Tange para a Baía de Tóquio, no qual ele propôs a construção sobre o mar para fora de Tóquio com uma megaestrutura enorme que combinava serviços públicos com espaços de trabalho e de convivência. O segundo foi o manifesto do metabolismo "1960 - A proposal for a new urbanism", que foi assinado por cinco jovens arquitetos (...) Fumihiko Maki, Masato Otaka, Kiyonori Kikutake e Kisho Kurokawa. Algumas publicações também associam Arata Isozaki com o grupo e ressaltam a dívida com o seu mentor Kenzo Tange[...]. Os Metabolistas tiveram um enorme impacto no Ocidente e logo foram considerados como os arquitetos japoneses modernos. O seu sucesso foi facilitado pela forma como se formou um movimento semelhante aos "ismos" do Ocidente avant-garde em um momento em que o modernismo ocidental vinha cada vez mais perdendo o seu apelo. Além disso, se baseou em seus fortes laços com famosos arquitetos ocidentais. Maki tinha estudado em Harvard e trabalhou no escritório de Josep Lluis Sert; Kurokawa tinha participado de várias reuniões da equipe do Team X e nos anos I960 chefiou uma comissão de arquitetura que convidou arquitetos famosos ocidentais ao Japão, como Moshe Safdie, Peter Cook e Hans Hollein."