Carlos Raúl Villanueva
Em 1922, o jovem Villanueva se matriculou em Arquitetura na École Nationale Supérieure des Beaux-Arts de Paris, enriquecido com o debate e efervescência parisiense que estava transformando a arte européia.
Após ter-se graduado em 1928, Carlos Raúl viaja à Venezuela pela primeira vez, e já no ano seguinte se radicou definitivamente no país, durante o regime ditatorial de Juan Vicente Gómez. Inicialmente, residiu em Maracay, que era onde se instalava o poder na época.
Villanueva iniciou assim o que se chama de Primeiro Momento, ou Caída do Ecletismo (1929-1938) em sua obra, caracterizado basicamente pela utilização de elementos ecléticos: neoclássico, mourisco e colonial, combinados com as fórmulas acadêmicas da École des Beaux Arts.
Começou a trabalhar no Ministério de Obras Públicas como Diretor de Edificações e Obras de Ornamento até 1939 e em pouco tempo Villanueva ascendeu ao cargo de Diretor do MOP, cargo que irá ocupar até 1939. Foi a partir daí que participou na intensa atividade desenvolvida pelo Estado para transformar primeiro Maracay e logo em seguida Caracas em cidades modernas. Os Museus de Belas Artes (1935-1938), Ciências Naturais (1936-1939) e a Praça da Concordia (1940), em Caracas, são desse período, além do Parque Carabobo (1934, antiga Plaza La Misericordia). Neste último se estabelece, pela primeira vez, uma relação entre Villanueva e um artista plástico, começando com esta praça uma frutífera união de trabalho e amizade entre Francisco Narváez e o arquiteto. Sendo esta a primeira de uma série de intervenções artístico-urbanas, integradas à arquitetura de Villanueva, que virá a ser um traço marcante em sua obra, a síntese entre as artes maiores.
Simultaneamente, Villanueva se introduz à vida social de Caracas, conhecendo nesse momento Isabel Margarita Arismendi, filha do reconhecido urbanizador Juan Bernardo Arismendi, de quem aprenderá o negócio da construção. Em 1933, ele e Margarida se casam, e dessa união nascerão quatro filhos, dois deles também arquitetos. Nesse período foi inaugurada a Plaza de Toros de Maracay (1931-1933), e este veio a ser a garantia de reconhecimento público e sua aceitação definitiva como arquiteto dentro do meio venezuelano.
Com a morte do General Gómez, o poder central retorna a Caracas, com apenas 240.000 habitantes, e com o General Eleazar López Contreras como Presidente. A crescente riqueza petrolífera nas mãos de um Estado agora interessado em uma abertura social, cultural e sanitária é manifestada nas edificações necessárias para construir um país moderno, que possa gerar um número massivo e imediato de empregos ao contingente de trabalhadores desempregados. Conseqüência disso serão os Museus de Belas Artes e Ciências Naturais, cimentando com eles o coração cultural da capital.
Villanueva participará na elaboração do Plano Regulador de Caracas, trabalhando na Direção de Urbanismo do Governo do Distrito Federal, desde sua fundação em abril de 1938. Dois anos mais tarde, Villanueva assume o cargo de Arquiteto Chefe e Assessor do Banco de Obras da Venezuela, instituição dedicada a implementar soluções para melhorar as condições de habitação da classe trabalhadora. Exercendo funções nesta instituição até 1960, foi que Villanueva pode trabalhar como urbanista, deixando, através dos projetos sociais mais importantes de sua carreira, uma profunda transformação no perfil urbano de Caracas.
No Segundo Momento ou Primeira Modernidade (1939-1949), caracterizado por uma clara influência da arquitetura "modernista", se expressam projetos significativos: A Escola Gran Colombia (1939-1942), primeira escola primária moderna construída no país; a Reurbanização de El Silencio (1941-1945) e a primeira etapa da Cidade Universitária de Caracas (1944-1948). Com "El Silencio", o arquiteto aborda o tema até então inédito da moradia de interesse social e de alta densidade. Com esta obra se marca o início do processo de urbanização na Venezuela e se constitui como o primeiro grande exemplo de conjunto urbanístico instalado no centro geográfico da cidade moderna.
Já para 1944, Villanueva apresenta a primeira composição de conjunto do que será sua obra-prima e principal preocupação de mais de 20 anos de dedicação: A Cidade Universitária de Caracas, que, se no esquema geral responde a una composição acadêmica, os volumes dos edifícios são articulados com uma linguagem moderna. É professor fundador da Escola de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Central da Venezuela. É a partir de 1946, que trabalha como Arquiteto Consultor no recém-criado Atelier de Arquitetura do Banco de Obras (TABO), de onde se criaram os projetos de urbanização de alta densidade e que abriram espaço no vale de Caracas aos superblocos.
Seu Terceiro Momento, ou Período Plenamente Moderno, toma corpo a partir de 1950 (até 1958), no qual coincide com a segunda etapa da construção da Cidade Universitária de Caracas (1949-1951), especificamente com os projetos para a Zona Desportiva. A partir daí toda sua obra é marcada por um novo rumo onde cada estrutura será pensada como obra escultórica, desafio que o arquiteto não abandonou jamais. O tema da "síntese das Artes Maiores" novamente é abordado aqui, mas será conceitualizado e depurado ao máximo nos projetos para a terceira etapa de construção, no Centro Administrativo-Cultural, sobretudo na Praça Coberta e a Aula Magna (1952-1953). Destacam-se além destas obras, a Casa Caoma (1951-1952), a Unidade Residencial "El Paraíso" (1952-1954), a Faculdade de Arquitetura (1954-1957) da Cidade Universitária de Caracas, a Urbanização do conjunto "2 de Diciembre" (atual 23 de Janeiro, 1955-1957), a Igreja "La Asunción" (1957) e Casa "Sotavento" (1957-1958).
A segunda ampliação do Museu de Belas Artes de Caracas (1968-1977), o Pavilhão Venezuelano na Exposição Internacional de Montreal (1966-67) e o Museu Jesús Soto (1970-1973) manifestam de maneira drástica a decantação estilística de Villanueva em seu Período Minimalista, ou Quarto e último Momento (1959-1970): uma culminação de sua trajetória em um manifesto brutalista, reinterpretado à luz das tendências ocidentais e da influência japonesa de Kenzo Tange. Desenvolvida ao máximo uma visão cubista de que não existe uma perspectiva visível nem um ponto de fuga estável, se centra na ideia da megaestrutura de Le Corbusier, a partir da força que imprime o concreto bruto. Seria essa a sua busca pela simplicidade.
Villanueva colecionou um grande número de títulos e reconhecimento em vida e em morte. Foi-lhe conferido o título "Doutor Honoris Causa" em Arquitetura, pela Universidade Central de Venezuela em 1961, e em 1963 lhe conferem o Prêmio Nacional de Arquitetura, prêmio oferecido pela primeira vez pelo Governo Venezuelano. Ambos os prêmios foram por sua obra máxima, a Cidade Universitária de Caracas. Com relação a esta, Leonardo Benévolo disse:
"... a Cidade Universitária de Caracas... é a parte mais decorosa da cidade. A única onde existe una escala humana aceitável, a justa relação entre edifícios e zonas verdes. Hoje, nas condições mais difíceis nada pode ter ilusões de obter os resultados análogos sem enfrentar de forma deliberada a relação entre arquitetura e a política, e por isso a lição da Venezuela tem valor geral, mais que tudo para nós aqui na Europa".
Em 16 de agosto, aos setenta e cinco anos e vítima do Mal de Parkinson, falece o maior expoente da arquitetura moderna na Venezuela.
Fonte(s) Centenario Villanueva. Disponível em [http://www.centenariovillanueva.web.ve] Acesso em 13/02/2011