1966
Peru
ProjetoIdiomas disponíveis
Português
Colaborador
Leonardo Vieira
Citado por: 1
Sua proposta principal era a idealização de um programa de moradias para um grande número de pessoas, embasado em reflexões e sensibilidade às diferenças culturais e de identidade e, também, pressupostos gerais e condições sociais e locais.
Através de um concurso, promovido pelo governo peruano, em 1968, 13 projetos, de arquitetos peruanos foram escolhidos, além de outros 13 internacionais convidados, para integrar o plano urbano do arquiteto norte-americano Peter Land.
José Carlos Huapaya Espinoza, 2012
"As características urbanas e socioeconômicas da capital [do Peru] eram dramaticamente diferentes em 1946 e 1963. A atitude do governo [de Fernando Belaunde Terry] em criar a CNV (Corporación Nacional de la Vivienda, 1963) e afrontar de forma ‘coherente los problemas sociales y técnicos de la vivienda' (CÓRDOVA, 1958b, p.51), propondo uma nova forma de entender a moradia como sendo um conjunto autossuficiente por meio de infraestrutura básica era, sem dúvida, um marco na história do planejamento peruano." p. 338
"(...) A alternativa para controlar o crescimento das barriadas, segundo ele, seria não medir esforços nem despesas e investir nas províncias, dotando-as de melhores serviços, fortalecendo a indústria local etc. Em longo prazo, para ele, isto seria benéfico para a capital, pois se evitariam custos de saneamento (BELAUNDE TERRY, 1952c)." p. 342
"Essa visão elitista de Belaunde Terry sobre as barriadas, segundo John Turner, traduzia-se, na prática, em propostas controversas: impedir que os moradores tivessem direito de se estabelecer na capital e estimular o retorno aos seus lugares de origem ou seu estabelecimento em bosques desabitados¹." p. 342
"A situação mundial na metade da década de 1960 apresentava um panorama favorável a novas experiências com relação às barriadas. De fato, esses anos são caracterizados pelo apoio econômico de organizações internacionais a projetos experimentais em moradia em países periféricos. Na América Latina, a situação da moradia das camadas populares se agravou, chegando a limites infra-humanos. No Peru, a situação não era diferente e experiências representativas em matéria de moradia, além de estudos sobre o tema, haviam ganhado o reconhecimento e interesse internacionais. (...)" p. 346
"A urbanización popular, segundo Belaunde Terry [que, nesse momento, refletia sobre a pertinência do ideário dos CIAMs na realidade peruana], devia guardar algumas características básicas. A primeira era agrupar o maior número de moradias e possuir todos os serviços necessários antes mesmo dos moradores começarem a construir suas moradias. Segundo ele, da mesmo forma como ‘el pueblo no está en condiciones de hacerse trajes a la medida, no lo está tampoco para encarar su problema de la vivienda de forma individualista' (LA CASA BARATA ES REALIZABLE, 1954, p. 1), portanto, era necessário criar uma ampla gama de modelos de moradias, de acordo com as possibilidades econômicas dos moradores" p. 348
"(...) É interessante notar como esses temas vão apresentar avanços e retrocessos para Belaunde Terry. Isto, especificamente, foi mais evidente quando se tratou do ideário dos CIAMs. Exemplo disso foi sua ‘Carta del Hogar' de 1949, elaborada por ele como uma crítica à Carta de Atenas. A importância dessa proposta evidenciou, naquele momento, sua preocupação pelo local e pelo regional em detrimento do universal. Ou seja, a ‘Carta del Hogar' pode ser entendida como uma tentativa antecipadora, por parte de Belaunde Terry, de demostrar que as ideias contidas na Carta de Atenas não poderiam ser aplicadas à realidade peruana (ou, como ele mesmo afirmava, não se adequava à realidade latino-americana)." p. 358
¹ Entrevista com John Turner realizada por Roberto Chavez, Julie Viloria e Melanie Zipperer, em 11 set. 2000, na sede do Banco Mundial, Washington. Site oficial do Banco Mundial: . Acesso em 15 de maio de 2009.
José Carlos Huapaya Espinoza, 2012
"O PREVI [Proyecto Experimental de Vivienda] foi um concurso internacional promovido pelo governo peruano sob os auspícios das Nações Unidas. Seu objetivo era a busca de um programa de moradias ‘dentro de una concepción comunal' (ZAPATA, 1995, P. 131) e foi idealizado pelo Belaunde Terry (MINISTERIO DE VIVIENDA DEL PERÚ/ INSTITUTO DE IVESTIGACIÓN Y NORMALIZACIÓN DE LA VIVIENDA, 1979a, p. 9) ainda em 1966, mas só convocado em 1968 e realizado em setembro de 1969." p. 350
"O programa era complexo e não considerava somente a proposta arquitetônica e construção de um grupo de moradias de baixo custo (Proyecto Previ 1 - PP1), mas também a renovação e melhoramento das barriadas existentes visando a melhoria das condições sociais e habitabilidade (Proyecto Previ 2 - PP2); o planejamento e programação de um sistema de loteamento e serviços (Proyecto Previ 3 - PP3) e finalmente, pesquisas sobre autoconstrução e autofabricação (Proyecto Previ 4 - PP4)." p. 350
"O concurso referia-se especificamente ao PP1 e participaram 13 equipes de profissionais estrangeiros (Alemanha, Colômbia, Dinamarca, Espanha, EUA, Finlândia, França, Holanda, Índia, Ingleterra, Japão e Suíça) e 28 peruanos." p. 350
"(...) Tendo como eixo central a ideia de comunidade, com seus aspectos sociais, culturais e econômicos, devia ser proposto um conjunto de 2.000 moradias unifamiliares de baixo custo. (...) As casas podiam ser desenvolvidas em um ou dois pavimentos, mas deviam prever a construção de um terceiro pavimento. (...) Havia uma preocupação por um novo conceito de moradia, que não deveria ser estática, mas deveria crescer de forma orgânica e evolutiva de acordo com as necessidades dos moradores (PREVI, 1977, p. 10). (...) Para isso, era necessário que as moradias fossem desenvolvidas a partir de um sistema modular e que apresentassem soluções tecnológicas e procedimentos construtivos adequados baseados no conceito de flexibilidade e crescimento progressivo horizontal e/ou vertical (MINISTERIO DE VIVIENDA DEL PERÚ/ INSTITUTO DE INVESTIGACIÓN Y NORMALIZACIÓN DE LA VIVIENDA, 1979a, p. 15)." p. 351-352
"Foram premiados três projetos nacionais e outros três internacionais², porém foram selecionados mais dez de cada categoria para serem aplicados." p. 352
"De fato, o PREVI (...) pode ser considerado como um dos poucos exemplos em que o problema moradia no Terceiro Mundo tentou assumir uma visão diferente, baseado na aproximação e entendimento das reais necessidades da população menos favorecida onde a forte presença objetual das propostas ocupavam um segundo plano (BALLENT, 2004, P. 92). E um marco na questão da moradia popular no Peru." p. 352
² Dentre os participantes nacionais, a equipe da arquiteta Elsa Mazarri ocupou o primeiro lugar, seguido da equipe do Arq. Fernando Chaparro e finalmente, a equipe do Arq. Jacques Crousse. A colocação dos participantes estrangeiros foi a seguinte: Atelier 5, Herbert Ohl e Kiuonori Kikutake.
Nicolás Tugas, Diego Torres Torriti, Fernando García-Huidobro (Pontificia Universidad Católica de Chile), 2010
Bairro-cidade
"A maneira de conceber a PREVI, longe dos projetos institucionais contemporâneos de habitação em massa, herdeiros das problemáticas do pós-guerra, cria um precedente que inclui o conceito de progressividade, entendido como uma oportunidade para focar a utilização dos recursos, responder a diferentes usuários e gerar bairros heterogêneos. A necessidade de articular uma grande variedade de tipologias, produz uma disposição irregular e rica em situações urbanísticas diferentes; uma cidade colagem que os habitantes completaram a nível construtivo e programático, dando ao bairro maior complexidade funcional. Um desenho urbano aberto, uma cidade inacabada prevista para ser concluída."
(...)
"O caráter experimental do projeto pode ter feito do PREVI um evento, pouco replicado no contexto da elevada demanda em habitação nos países em desenvolvimento. No entanto, as lições do PREVI possui uma forma objetiva e dois princípios que devem orientar as novas iniciativas da habitação (e o está fazendo). O objetivo, transformando gastos sociais em investimento social (em habitação). Para isso, um projeto de habitação deve atender a três condições: atender a uma demanda de hoje, investir em setores de recursos escassos e reduzir demandas futuras ou colaterais por meio do acesso às oportunidades que este investimento permite. Por sua vez, os princípios que podem orientar este processo são dois: a casa-aparelho de renda e o desenho urbano comunitário, cada um destinado a agregar valor tanto para a casa, quanto para a vizinhança. Assim, garantirá a economia sustentável e social de cada vez mais espaços da cidade."
Processos:
1966-1969 - Projeto e Concurso;
1969-1976 - Desenvolvimento e Construção;
1978-1979 - Entrega das habitações.
- Os 13 arquitetos (ou grupo de arquitetos) convidados foram: James Stirling (Inglaterra); Knud Svenssons (Dinamarca); Esquerra, Samper, Sáenz, Urdaneta (Colombia); Atelier 5 (Suíça); Toivo Korhonen (Finlândia); Charles Correa (Índia); Kikutake, Maki, Kurokawa (Japão); Iñiguez de Onzoño, Vásquez de Castro (Espanha); Hansen, Hatloy (Polônia); Aldo van Eyck (Holanda); Candilis, Josic, Woods (França); Christopher Alexander (EUA).
- A equipe de 13 arquitetos peruanos selecionados mediante concurso aberto foi composta por Miguel Alvariño Ernesto Paredes Miró-Quesada, Williams, Núñez Gunter, Seminario Morales, Montagne Juan Reiser Eduardo Orrego Vier, Zanelli Vella, Bentín, Quiñones, Takahashi Mazzarri, Llanos Cooper, García-Bry ce, Graña , Nicolini Chaparro, Ramírez, Smirnoff, Wiskowsky Crousse, Páez, Pérez-León
- O Júri foi composto por Peter Land (ONU), José Antonio Coderch (Espanha), Halldor Gunnlogsson (Dinamarca), Ernest Weissmann (ONU), Carl Koch (EUA), Manuel Valega (Perú), Ricardo Malachowski (Perú), Eduardo Barclay (Perú) e assessores, Darío González (Perú) e Álvaro Ortega (ONU).
[Tradução Livre: Leonardo Vieira]
Aldo Van Eyck, 1999
PREVI, Housing Development, Lima, 1969-75
"A noção de que o futuro de livre desenvolvimento não deve funcionar contra os maiores interesses do ocupante ainda é insuficientemente colocada em prática ao projetar habitações expansíveis! Como a casa típica das Barriadas, esta pode ser ampliada ao longo do tempo, por auto-ajuda, horizontal e verticalmente, de uma a oito salas, e de acordo com as necessidades e recursos da família. Nenhuma solução de existência mínima para os pobres a la CIAM aqui! As paredes do pátio sem dente de serra, sem carga, desencorajam a expansão para fora do perímetro ortogonal máximo da casa, isto é, para os estaleiros.
Pequenos pátios, muitas vezes, fornecem 4 paredes para um telhado subseqüente, resultando na perda de espaço ao ar livre, de acesso direto a todos os quartos, e uma grave redução de luz e ar nos quartos circundantes - mesmo a perda completa de ambos quando os lotes são adjacentes ao longo de dois ou três lados, o que é tantas vezes o caso. Assim, em vez disso, cada casa tem uma frente fechada e uma voltada ao quintal (ou jardim) ligado por um espaço central que pode ser parcial ou inteiramente aberto, em um ou todos os lados, para ventilação e livre circulação. O espaço central, multi-interpretável ao ar livre, que corre um pouco diagonalmente através do meio do lote de ponta a ponta, contém a cozinha e dá acesso a todos os quartos e terraços. A direção predominante do vento (SSW) orientou a colocação das fileiras de casas aproximadamente de leste a oeste; 90% de umidade durante todo o ano orientaram uma estrutura aberta bastante solta. Os caminhos de acesso profundo às habitações permitem que as brisas penetrem muito bem nas faixas de agrupamento. Os lotes são deslocados lateralmente, facilitando a penetração de ar através das casas.
Embora não obrigatório, o concurso estimulou o desenvolvimento de novos métodos de construção pré-fabricados ou industrializados. Por razões óbvias, no entanto, recusou-se o uso de materiais ou construções não disponíveis atualmente ou usados por pessoas com pouca experiência de construção e equipamentos. Pintar as casas deveria ter sido deixado ao povo. Literalmente mergulhado em branco, parecia um Weissenhof Siedlung do pós-guerra. Quando as pessoas acabaram adicionando cor, nenhuma parede permaneceu o como o material original (tijolo ou bloco de concreto), que é habitual no Peru e muito eficaz."
(...)
"O layout geral dos assentamentos é tratado com algum detalhe porque as 25 moradias ímpares que foram finalmente construídas não demonstram todo o potencial do sistema de agrupamento originalmente proposto. A estrutura urbana para todo o site submetido para a competição é baseada em um princípio de agrupamento que é independente do tipo de moradia ou forma do lote. Possui, portanto, uma relevância geral para além do contexto dado a noção de que, em vez de introduzir variações infinitas num único tipo de habitação, vários tipos completamente diferentes podem ir juntos num único tecido urbano. As fileiras de clusters são seis lotes de profundidade, reduzindo assim grandemente o número de ruas paralelas. Bem colocadas, estas ruas - movimentadas avenidas - servem tanto para tráfego pedestre como para veículos, o que pode ofender a ética de planejamento estabelecida! No entanto, em vista da realidade urbana peruana, tal uso combinado de avenidas retas (um km de comprimento com uma vista de colinas distantes em ambos os sentidos) precisam e não devem ser evitados. Embora o fluxo de tráfego local seja modesto, a sua importância social e econômica é considerável (por exemplo, táxis coletivos). Em contraste com a rede de tráfego Leste-Oeste, Norte-Sul, os percursos pedestres - paseos - correm em diagonal para a avenida média larga na direção da praça central. Todas as escolas são acessíveis ao longo destes paseos. Caminhos de acesso penetram nas faixas do alojamento. Eles são largos o suficiente para permitir a entrada do carro para trazer material de construção para cada habitação quando necessário. Áreas de jogos para crianças, árvores para sombra e fontes estão situadas nas extremidades desses caminhos, enquanto jardins de infância são colocados no centro das fileiras de aglomerados. Espera-se que pequenas lojas se desenvolverão espontaneamente ao longo da avenida principal."
[Tradução Livre: Leonardo Vieira]
Ana Cláudia Castilho Barone, 2002
"[A partir de] 1956, van Eyck utiliza outro partido [arquitetônico]: a partir de uma matriz, nesse caso quadrada, vai desenhando espaços abertos e fechados, maiores e menores, configurando a reciprocidade entre fundo e figura de uma outra maneira (...). Por exemplo no projeto de habitação em Lima, de 1969, ele usa uma matriz de elementos hexagonais e instala uma unidade de habitação dentro de cada um dos hexágonos, com espaços abertos e fechados. O projeto foi realizado pela ONU, em que estava sendo valorizada a racionalização da habitação. A ideia de van Eyck se desenvolveu a partir da observação dos valores culturais dos habitantes. Os muros são mais importantes que os telhados, por exemplo, pois van Eyck observou que, naquela comunidade, a noção de posse era mais importante que a de abrigo na relação com a casa.
Assim, os muros, que asseguram os limites da propriedade do lote, são altos e marcantes. Além disso, van Eyck percebeu que as famílias tinham a necessidade de expandir a área construída da casa sobre os quintais. Pensando nisso, van Eyck propôs um lote hexagonal com espaços livres irregulares, para que as extensões não avançassem sobre um recuo mínimo de jardim na frente e nos fundos, preservando assim um respiro visual e físico para o conjunto*."
*A curiosidade desse projeto é que a tônica do concurso estava no desenvolvimento de uma arquitetura mais moderna, industrial, tecnológica, para contrapor ai sistema de autoconstrução local. Van Eyck [convidado], no entando, propõe justamente a valorização das potencialidades dos habitantes, suas técnicas, suas preferências e suas tradições.