Leituras
Textos
- Apresentação
2016
- Brasília: segregação e utopia na cidade moderna
- Notas sobre o ponto de inflexão "Aprendendo com Las Vegas"
- Notas sobre o Moderno: a(s) Carta(s) de Atenas e a emergência do Team X
- Notas sobre Ponto de Inflexão “Brás de Pina”
2009
- Cronologia do Pensamento Urbanístico
- Teoria Historiográfica e a Cronologia do Pensamento Urbanístico.
- Historiografia de Resistências ao Pensamento Urbanístico Hegemônico
Paineis
- Poster XIV Seminário de História da Cidade e do Urbanismo - SHCU 2016, FAU/USP - São Carlos
- Poster XIII Seminário de História da Cidade e do Urbanismo - SHCU 2014, FAUNB/UnB - Brasília
- Cronologia do Pensamento Urbanístico: recorte contemporâneo (Icaro Villaça e Diego Mauro - bolsistas IC)
Cronologias
- Cronologia das Cidades Utópicas (Adriana Caúla - anexo da tese de doutorado)
- Cronologia dos Documentários Urbanos (Silvana Olivieri - anexo da dissertação de mestrado)
- Cronologia da Habitação Social (Leandro Cruz - anexo da dissertação de mestrado)
- Cronologia de uma cidade enunciada (Osnildo Wan-Dall - Anexo da dissertação de mestrado)
Apresentação
Paola Berenstein Jacques – PPG-AU/FAUFBA
A Cronologia do Pensamento Urbanístico é uma pesquisa coletiva realizada desde 2002, uma parceria entre uma equipe do Laboratório Urbano do PPG-AU da FAUFBA, coordenada por Paola Berenstein Jacques, e uma equipe do Laboratório de Estudos Urbanos do PROURB da UFRJ, coordenada por Margareth da Silva Pereira, contando também com uma interlocução com o LAA/LAVUE/CNRS na ENSAPLV em Paris, coordenado por Alessia de Biase e, mais recentemente, a partir de 2016, com novas equipes participantes na UnB, coordenada por Ricardo Trevisan, e na UFMG, coordenada por Rita Velloso (ver equipes completas em equipe). O site da Cronologia do Pensamento Urbanístico é uma ferramenta que permite, desde sua primeira versão de 2003, cartografar e historiografar as redes complexas, os campos de debates, de forças ou de tensão entre diferentes ideias – que passamos mais recentemente a chamar de “nebulosas” – que construíram e ainda constroem o pensamento urbanístico.
A Cronologia do Pensamento Urbanístico é um site aberto baseado em dados situados – histórica e geograficamente – relativos a publicações, projetos, eventos ou qualquer outro fato considerado relevante para a construção do campo do urbanismo pensado enquanto um “campo ampliado” de estudos e de intervenções sobre as cidades, que pode abarcar zonas limiares com diferentes áreas do conhecimento como arquitetura, planejamento urbano, geografia, artes, entre outras. O site é um instrumento de sistematização e divulgação de informações sobre este campo ampliado, com objetivo de contribuir para uma melhor compreensão da circulação das ideias urbanísticas, tanto nacional quanto internacionalmente, assim como das diferentes narrativas em disputa neste campo ampliado do urbanismo. Buscamos fomentar insumos para o surgimento de novas pesquisas e, assim, contribuir diretamente para a formação, em diferentes níveis, dos profissionais da área e, indiretamente, para a consolidação do campo do urbanismo no país em seu diálogo com outras disciplinas que tenham como foco as cidades.
Objetivos
Ao longo dos últimos anos, temos buscado desenvolver uma forma mais complexa de pensar a história do pensamento urbanístico, um tipo de “cronologia” que não seja linear e que parta de suas inflexões, emergências e sobrevivências. Nosso objetivo principal é contribuir para uma melhor compreensão da historicidade dos debates e intervenções sobre as cidades e da complexidade da circulação das ideias urbanísticas, através de uma compreensão, mesmo que momentânea, das diferentes nebulosas de ideias que possa nos permitir uma melhor problematização tanto do presente do nosso campo disciplinar quanto de nossas cidades e, assim, nos ajudar também a construir suas possibilidades futuras. A ambição mais relevante da pesquisa não é desenvolver simplesmente uma linha do tempo propriamente dita, uma simples cronologia, mas chamar a atenção para essas nebulosas de ideias que se formam e se transformam, que não são fixas (no tempo ou no espaço), e mostram o movimento sistêmico, transgeográfico e, muitas vezes, sincrônico ou mesmo anacrônico, de ideias entre determinados circuitos urbanísticos, formando diferentes narrativas a partir de redes distintas – de intercâmbio mas também de disputa - intelectuais, acadêmicas, científicas e artísticas que atuam de maneira complexa. Priorizamos as nebulosas reunindo ideias de intelectuais, artistas, técnicos e figuras públicas de modo geral que buscam deslocar formulações historiográficas por vezes apriorísticas, redutoras ou passíveis de revisão a partir de uma maneira mais complexa de “fazer história”.
Assim, do ponto de vista teórico-metodológico - ao permitir ao usuário do site a visualização, além do quadro cronológico e geográfico dos dados e seus verbetes, de um “pensamento em nebulosa” sobre o urbanismo - pretendemos contribuir para o fortalecimento do campo ao auxiliar o trabalho de sua revisão historiográfica, sobretudo ao permitir questionar – pela forma que divulgamos e permitimos cotejar os diferentes dados no site – a pertinência do uso de noções como progresso, evolução, transferência, modelo e/ou influência, entre várias outras, ainda tributárias de uma visão linear, teleológica e fechada de história que por vezes continua a balizar – talvez por carência de cotejamentos mais finos e de instrumentos mais complexos que evidenciem seus contrassensos e limites – certo número de trabalhos sobre o tema no campo mais tradicional da história do urbanismo. Ao mostrar as descontinuidades, as rupturas, as contradições, as inflexões, as emergências e as sobrevivências das ideias (nos discursos e nos projetos), buscamos exercitar coletivamente uma maneira de “fazer história” que, além de ampliar fontes, acervos e temas, não fuja dos seus conflitos e embates. Ao apontar multiplicidades, heterogeneidades e desvios nas diferentes possibilidades de leituras dos dados pesquisados buscamos problematizar “verdades”, “origens” ou repartições já consolidadas e evitar a pacificação da história das ideias urbanísticas. Nosso objetivo principal é subsidiar uma história intelectual do urbanismo que possa trazer novas perspectivas de análise a partir do choque ou da tensão, sincrônica ou anacrônica, entre diferentes ideias e pressupostos teóricos e, também, de sua capacidade de contaminação entre diferentes campos e circuitos.
Metodologias
A atual pesquisa emergiu de um esforço de elaboração de uma antologia crítica do urbanismo em português que integrasse a reflexão de diferentes autores e momentos históricos. As cronologias, pensadas como ferramenta auxiliar da construção dessa antologia crítica, ganhou autonomia e passou a incorporar, além das publicações, os projetos, eventos e outros fatos relevantes e, ao longo dos anos, também ganhou complexidade a partir de uma experimentação permanente de diferentes metodologias de trabalho (ver processo da pesquisa em leituras). Uma sistematização teórica e metodológica mais consolidada está em curso uma vez que até recentemente nosso enfoque privilegiado foi, além da divulgação do conteúdo da pesquisa no site, a formação de jovens pesquisadores, principalmente bolsistas de iniciação científica, mestrandos e doutorandos.
As equipes de pesquisa das diferentes universidades trabalham de formas distintas, mas o foco principal sempre é o debate de ideias, sobretudo as tensões entre elas. No caso do grupo baiano, inicialmente o trabalho dos bolsistas (e demais pesquisadores) era realizado por recortes temporais (anos e, em seguida, décadas), passando por recortes temáticos (que chamamos marcadores) e mais recentemente por pontos de inflexão (rupturas no pensamento urbanístico dominante em determinado momento) e, hoje, estamos experimentando, a partir da provocação da coordenadora da equipe carioca, trabalhar, a partir da reunião dos pontos de inflexão, com a noção de nebulosa. Esta noção, utilizada inicialmente por Margareth da Silva Pereira para designar as formas dinâmicas de condensação (nuvens) da circulação das ideias, foi tomada emprestada de Chistian Topalov, da EHESS (que utilizou anteriormente o termo para outros propósitos). A noção de nebulosas tem se mostrado, apesar de ainda não plenamente conceituada em termos teóricos, bastante apropriada aos nossos desafios teóricos e metodológicos da pesquisa.
Além dessa noção, buscando fomentar e articular melhor esse debate teórico metodológico exploratório, estamos investigando, em particular na equipe da UFBA e ainda de forma preliminar, outras noções que possam ser complementares para nossa proposta teórica metodológica de buscar maneiras mais complexas e não lineares para pensar as cronologias e para “fazer história”. Temos trabalhado bastante como a ideia de montagem, sobretudo a partir de Walter Benjamin, e também a noção de sobrevivência (nachleben), a partir de Aby Warburg e de Georges Didi Huberman, esboçando assim uma ideia inicial que chamamos de heterocronias, de forma um pouco distinta de Foucault, que associou diretamente heterotopias e heterocronias, nosso foco está mais na coexistência de tempos heterogêneos, de eucronias e anacronias). No site da pesquisa há possibilidades de múltiplas leituras temporais, desde o quadro cronológico com sua longa duração até os verbetes que prezam a eucronia, passando pelo protótipo (ainda em processo) das nebulosas que, por sua vez, assume também de forma consciente e “controlada”, como provoca Nicole Loraux, o risco da anacronia (usando a distinção de anacronismo proposta por Jacques Rancière).